Preços inflacionaram importações russas, mas Portugal também comprou mais
Dois terços do aumento das importações com origem na Rússia deve-se à subida dos preços. Porém, Portugal de facto comprou uma maior quantidade de bens russos, mesmo com as sanções.
A dúvida surgiu quando o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os dados do comércio internacional de bens de março, nos quais era visível que Portugal pagou mais 45% pelas importações russas face ao valor pré-Covid (março de 2019). Após uma análise técnica, o gabinete de estatísticas revelou ao ECO que o maior responsável dessa subida foi o aumento dos preços, mas mostra também que Portugal comprou uma maior quantidade de bens russos no primeiro mês da guerra, apesar das sanções.
A análise feita pelos especialistas do INE mostra que 67,4% do aumento do volume das importações com origem na Rússia em março é explicado pela subida dos preços. Nesse mês os preços da energia, especialmente do petróleo e do gás, dispararam por causa dos potenciais impactos da guerra na Ucrânia, reforçando a tendência ascendente que já se verificava há meses devido à reabertura da economia.
Porém, 17,9% do aumento é explicado pela variação do volume, ou seja, pela maior quantidade de bens russos que Portugal comprou nesse mês, face ao passado. O objetivo dos países da União Europeia com a introdução de sanções ao Kremlin era penalizar a economia para enfraquecer a sua capacidade militar, mas a dependência energética da Europa face à Rússia dificulta essa tarefa.
Estes dados não estão deflacionados, isto é, os números refletem não só o aumento da quantidade importada mas também a variação de preço, daí que fosse importante ter esta análise adicional sobre as causas do aumento das importações com origem na Rússia.
“Seguindo uma metodologia similar à atualmente utilizada para o cálculo dos índices de valor unitário, foi elaborado um apuramento específico para as importações provenientes da Rússia”, explica fonte oficial do INE, referindo que, “com base neste apuramento, foram calculados os índices de valor unitário para todas a NC8 comuns entre março de 2022 e o período homólogo (março de 2021), sendo a informação posteriormente agregada como um índice de preços de Paasche ao nível do total das importações provenientes da Rússia”.
Mas há uma ressalva a fazer: “É importante referir que, tratando-se de índices de valores unitários e não de índices de preços efetivos, a sua variação reflete, para além da variação de preços, também efeitos da alteração da composição e de qualidade dos bens considerados a cada nível fino de informação“.
Portugal pagou 152,9 milhões de euros pelas importações russas em março
A relação comercial entre Portugal com a Rússia foi afetada pela invasão russa na Ucrânia iniciada a 24 de fevereiro. Desde logo, as empresas portuguesas baixaram as suas vendas de bens nacionais a este mercado em março deste ano, o primeiro mês completo de guerra entre os dois países: passaram para os 3,3 milhões de euros, o que compara com 15 milhões de euros em março de 2019.
Os dados cedidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ao ECO mostram que Portugal importou 152,9 milhões de euros de produtos russos em março de 2022, acima dos 105,7 milhões de euros importados em março de 2019, antes da pandemia — este valor representa uma subida de 45% face ao valor pré-Covid-19. Mas a série estatística mostra que esta tendência ascendente vem já desde setembro, com a subida do preço da energia, agora reforçada pelos efeitos da guerra.
É de notar que nem a Ucrânia nem a Rússia são dos principais parceiros comerciais de Portugal. A Rússia já chegou a ser um dos principais fornecedores da economia portuguesa, mas perdeu a posição no top 10 em 2020 por causa da redução do preço dos combustíveis minerais — atualmente verifica-se o contrário, mas continua fora do top. Portugal exporta principalmente produtos agrícolas, madeira e cortiça e produtos alimentares para a Rússia.
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