Casos Covid aumentam, mas percentagem de mortes cai face há um ano
Entre 1 e 23 de maio, foram registados 494.446 casos e 600 mortes por Covid em Portugal. Ainda assim, a percentagem de casos que culminam em morte por Covid é menor face há um ano.
Nos primeiros 23 dias de maio deste ano, foram identificados 494.446 novos casos por Covid-19 em território nacional, isto é, um valor quase 45 vezes superior face a igual período de 2021. Neste período, houve também 600 mortes associadas à Covid, o que representa um valor 14,6 vezes superior face ao período homólogo. Ainda assim, estabelecendo o rácio entre o número de óbitos e o número de infeções, a percentagem de casos que culminam em morte por Covid é menor face há um ano.
Portugal é atualmente o segundo país da União Europeia (UE), bem como o segundo a nível mundial com o maior número de infeções por SARS-CoV-2 por milhão de habitantes, numa média a sete dias. Entre 1 e 23 de maio, foram identificados 494.446 novas infeções em Portugal, segundo os dados de vigilância diária divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS) no site dedicado à Covid. Contas feitas, trata-se de cerca de 21.497,7 novos casos por dia e um valor quase 45 vezes superior face a igual período do ano passado (tinham sido reportados 11.010 novos casos nos primeiros 23 dias de maio de 2021).
O aumento de casos está também a refletir-se no aumento de óbitos associado à doença. Entre 1 e 23 de maio, foram declarados 600 óbitos por Covid-19 em Portugal, isto é, cerca de 26 por dia e um número 14,6 vezes superior face aos 40 registados em igual período do ano passado. Ainda assim, em termos proporcionais estão morrer menos pessoas em Portugal.
Se nos primeiros 23 dias do ano passado, o rácio entre as mortes por Covid e os casos era 0,3%, em igual período deste ano situa-se nos 0,1% de acordo com as contas realizadas pelo ECO com base nos dados divulgados pela DGS. Importa, no entanto, sublinhar que nem todas estas mortes poderão ter sido desencadeadas por infeções ocorridas em maio.
Estes dados refletem o impacto da vacinação, dado que só em julho do ano passado a inoculação entrou em fase “cruzeiro”, pelo que em maio de 2021 grande parte dos portugueses ainda não tinha sequer o esquema vacinal primário completo.
Os especialistas estão a associar esta subida das infeções ao levantamento das restrições, bem como ao surgimento de novas variantes do vírus, nomeadamente da B.A.5 da Ómicron, que é já dominante em Portugal. E a subida de casos está já a ter reflexo na mortalidade, especialmente nos mais idosos, pelo que o Governo decidiu antecipar a administração da dose de reforço para os maiores de 80 anos. “A população com mais de 80 anos é neste momento aquela onde acontecessem 78% a 80% dos óbitos, o que significa que é a população mais vulnerável e aquela que é mais importante proteger”, sinaliza Miguel Prudêncio, investigador do Instituto de Medicina Molecular (iMM), em declarações ao ECO.
A antecipação da administração da administração da segunda dose de reforço aos idosos veio reabrir o debate sobre a efetividade das vacinas, nomeadamente no que toca ao bloqueio da infeção, dado que as vacinas que estão atualmente a ser administradas foram desenhadas para o vírus original, sendo atualmente dominante outra variante.
Ao ECO, Miguel Prudêncio lembra que o sistema imunitário é composto por dois vetores: os anticorpos e as células T. “Os anticorpos são fundamentais para bloquear a entrada do vírus nas nossas células e efetivamente os anticorpos que são gerados pela vacina já não têm perante a Ómicron a mesma eficácia que tinham a bloquear a infeção original com base na qual a vacina foi feita”; ainda assim, o investigador acrescenta que as células T, também conhecidas por imunidade celular “são muito menos dependentes da variante ou da subvariante do vírus do que os anticorpos” e “continuam a funcionar de forma muito eficaz na prevenção das formas graves da doença”.
Nesse sentido, e tendo em conta os dados provenientes de Israel “faz todo o sentido” o reforço vacinal para os mais idosos, assegura o investigador. A posição é partilhada por Bernardo Gomes, médico de Saúde Pública e investigador do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), que sinaliza que esta vacina “continua a ser uma arma válida em termos de prevenção”, o que não invalida que estejamos “à espera de vacinas atualizadas e sobretudo com outro componente de bloqueio de transmissão”.
A DGS já veio admitir a possibilidade um novo reforço para os mais idosos no outono/inverno, dado que este é habitualmente um período mais propício a infeções respiratórias. Por enquanto, os dados da comunidade científica internacional apontam para os benefícios de um reforço vacinal, mas ainda sem conclusões sobre uma eventual quinta dose. Não obstante, a comprovar-se necessária, os dois especialistas consideram que idealmente seria benéfica uma vacina mais adaptada à Ómicron, que está ainda em desenvolvimento. “Seria desejável que fosse a adaptada porque teria tanta eficácia como esta a proteger contra a doença grave, mas teria alguma proteção adicional em relação a esta para a infeção”, conclui Miguel Prudêncio.
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