Salários crescem em 2022, mas inflação aplica corte de 1%, avisa Banco de Portugal

Um inquérito do Banco de Portugal mostra que os salários vão crescer este ano em Portugal, mas a aceleração da inflação irá mais além, aplicando um corte real de 1% no rendimento dos portugueses.

Os salários vão aumentar em Portugal este ano, mas não o suficiente para compensar toda a subida de preços. As contas são do Banco de Portugal e mostram que, no final das contas, em 2022, os trabalhadores portugueses vão ter um corte real de pelo menos 1% no seu rendimento disponível. Esta redução contrasta com os últimos anos de ganhos reais, segundo a análise do banco central.

Os salários reais por trabalhador no setor privado reduzem-se cerca de 1% em 2022, refletindo a subida abrupta da inflação“, lê-se no boletim económico de junho divulgado esta quarta-feira pelo Banco de Portugal. Na prática, o que isto significa é que o poder de compra dos trabalhadores portugueses vai, em média, encolher 1% durante este ano em que a taxa de inflação deverá fixar-se nos 5,9% (6,8% no cenário adverso).

Porém, na conferência de imprensa de apresentação do boletim, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, fez questão de dizer que este é um ano de exceção. Em primeiro lugar porque nos últimos cinco anos o “rendimento disponível real teve crescimentos nos últimos anos sem paralelos nos últimos 20 anos”.

De acordo com Centeno, nos últimos seis anos, o salário médio cresceu 22%, “um número muito significativo face à baixa taxa de inflação muito baixa” que, entre 2016 e 2021, em termos cumulativos, foi de 4% “apenas”. “Há aqui ganhos reais muito significativos”, finalizou o ex-ministro das Finanças.

Em segundo lugar porque “para 2023-24 assume-se um crescimento médio dos salários reais de 2%, aproximadamente em linha com o da produtividade“, nota o boletim. Isto significa que os ganhos reais nos salários voltarão já no próximo ano, de acordo com as projeções atuais do banco central.

Centeno acrescentou na conferência de imprensa que o salário médio nominal, sem retirar o impacto da inflação, cresceu 3,5% no mês passado pelo que a manter-se esta dinâmica haverá “ganhos reais” nos próximos tempos, quando a inflação desacelerar para 2,7% em 2023 e 2% em 2024.

Os números do Banco de Portugal assumem que ao longo do horizonte de projeção (entre 2022 e 2024) há uma “passagem incompleta dos aumentos de preços aos salários”, com as expectativas de inflação de longo prazo ancoradas nos 2%, o objetivo do Banco Central Europeu. Isto é, pressupõe-se que se concretiza a regra de Centeno de que os salários não aumentam mais do que 2%, acrescido dos ganhos de produtividade.

“Enquanto o crescimento médio do IHPC no horizonte de projeção é de cerca de 3,5%, os salários nominais por trabalhador no setor privado crescem 1,5% acima da produtividade no mesmo período”, nota o BdP. Esta projeção inclui os aumentos já anunciados para o salário mínimo nos próximos dois anos.

Salários devem crescer 5% este ano em Portugal

Com base nos resultados de uma nova edição do Inquérito Rápido e Excecional às Empresas (IREE) – com resposta de cerca de 7.000 empresas, o que corresponde a uma taxa de resposta de 74% –, o Banco de Portugal descobriu que 82% das empresas antecipam um aumento dos salários por trabalhador em 2022, enquanto 18% espera uma manutenção (o que compara com 76% e 23%, respetivamente, em 2021).

“O atual contexto de inflação elevada pode influenciar a evolução dos salários, contribuindo para maiores aumentos”, admite o banco central, assinalando que “este efeito pode ser reforçado pela conjuntura económica, em particular pela situação do mercado de trabalho, onde as margens disponíveis se têm vindo a reduzir“.

Apesar de a maioria das empresas esperar um aumento dos salários, apenas 36% das empresas espera um crescimento em 2022 superior ao registado em 2021. Os resultados do inquérito apontam para um crescimento médio dos salários por trabalhador de 5% em 2022, após uma subida de 4,2% em 2021.

Tal como já se concluiu previamente, “esta evolução aponta para uma perda de salário real em 2022, o que contrasta com os ganhos observados nos últimos cinco anos“, reconhecem os economistas do banco central.

Não há grandes diferenças entre os setores, exceto no alojamento e restauração onde a forte recuperação do turismo – o setor vai recuperar já este ano o nível pré-pandemia, concluindo a retoma muito mais depressa do que antecipado anteriormente pelo banco central – e a consequente escassez de mão-de-obra levará a um aumento salarial de 7,1% este ano, mais 1,9 pontos percentuais do que o aumento de 2021.

O inquérito revela ainda que “o crescimento dos salários por trabalhador deverá ser mais acentuado nas empresas que preveem um aumento dos preços este ano”. Tal deverá acontecer pela maior capacidade destas empresas de repercutir a subida dos custos junto do consumidor final através do preço de venda.

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