Países avançam com planos de emergência para enfrentar cortes ao gás russo

Os planos de emergência acionados por alguns países europeus passam pelo racionamento das reservas de gás para proteger as famílias ou a reativação das centrais a carvão.

Desde o início da invasão da Ucrânia e da aplicação das sanções contra a Rússia, que o Kremlin tem usado o fornecimento do gás como arma de arremesso contra o Ocidente. Enquanto uns viram o fluxo de gás a ser cortado por completo, outros assistem a uma redução progressiva que pode comprometer os armazenamentos necessários para fazer frente ao inverno. Este cenário levou a países como a Alemanha, Aústria e Países Baixos a acionar planos de emergência que, entre outras medidas, inclui a reativação das centrais a carvão. Mas e os outros?

A Bulgária, que depende em 90% do gás natural oriundo de Moscovo, virou-se para os Estados Unidos para garantir que os fluxos não eram interrompidos, antecipando um cenário em que o Kremlin fechava a torneira. Anunciado em maio, a medida entrou em vigor este mês. Além dos Estados Unidos, o governo do país reforçou as ligações ao Azerbaijão, pedindo que as entregas de gás fossem aumentadas, e está a estudar acordos com a Grécia e a Turquia, informa a Reuters.

A agência de energia da Dinamarca declarou, esta terça-feira, um “alerta precoce” sobre o fornecimento de gás, devido à incerteza sobre as importações de energia da Rússia devido à guerra na Ucrânia. “Estamos a enfrentar uma situação séria e que foi agravada pela redução nos fornecimentos”, cita a Reuters o comunicado do vice-diretor da Agência Dinamarquesa de Energia, Martin Hansen, em comunicado. A Dinamarca tem 75% das reservas completas, mas o seu principal fornecedor é Moscovo, a quem recusou pagar o gás em rublos.

Na passada sexta-feira, 17 de junho, a operadora da rede francesa de transporte de gás GRTgaz anunciou que não recebe gás russo através do Nord Stream desde 15 de junho, com a “interrupção do fluxo físico entre França e Alemanha”, cita a Reuters o comunicado. O gás russo representa 17% do utilizado em França e é distribuído através de gasoduto, ou em forma líquida em navios. A oferta caiu 60% desde o início do ano, segundo a GRTgaz, e desde meados de junho que foi reduzida a zero.

Em antecipação da decisão, a empresa preparou, em abril, um plano com medidas que podem ser invocadas para limitar o fornecimento de gás aos clientes em caso de escassez, permitindo também aos transportadores que preencham o armazenamento subterrâneo antes do próximo inverno. As medidas permitem à empresa emitir ordens para reduzir ou interromper o consumo de gás até duas horas para grandes consumidores ligados à rede e solicitar aos operadores do sistema de distribuição que façam o mesmo em caso de interrupção no abastecimento.

O mesmo risco de corte ao gás levou a que a Grécia preparasse um plano que visa mudar quatro centrais de gás natural liquefeito para diesel, prevendo também aumentar a mineração de carvão nos próximos dois anos como uma medida temporária, escreve e Reuters. A mesma alternativa virada para o carvão está a ser estudada em Itália que, depois de ter visto o abastecimento a ser cortado em 50%, na semana passada, prepara-se para declarar estado de emergência nos próximos dias se o fluxo normal não for retomado. Além do carvão, a Reuters adianta que pode ser ativado medidas de racionamento de gás.

Também o racionamento está a ser considerado na Polónia. O ministro do Ambiente do país, apresentou uma moção formal ao governo para introduzir limitações no uso de gás, que irão afetar primeiro a indústria e de forma a proteger as famílias. A Polónia obtém cerca de 50% do gás da Rússia.

Von der Leyen alerta para riscos dos combustíveis fósseis

Perante os planos de emergência acionados e a decisão de alguns de reativar as centrais a carvão, a presidente da Comissão Europeia apelou que os Estados-membros não recuassem nos compromissos ambientais. Ursula von der Leyen, que reconheceu a necessidade para tal, apelou que os governos continuassem focados “em investir nas renováveis”, cita o Financial Times. O aumento iminente do uso de carvão, mesmo que temporário, alimentou preocupações de que países europeus estejam usar a crise para adiar a transição para alternativas menos poluentes.

“Temos que ter a certeza de que usamos esta crise para dar um passo em frente e não para trás, de volta aos combustíveis fósseis”, disse. “É uma linha muito ténue e não está garantido que vamos seguir o caminho certo”.

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