Ainda não há escudo do BCE, mas juros e spreads da periferia continuam a cair

"Ser for bem desenhada", a ferramenta anti-crise do BCE "nunca será utilizada", disse o governador do Banco de Portugal. Descida juros da dívida da periferia parece dar razão a Centeno, para já.

Mário Centeno disse na segunda-feira que, “se for bem desenhada”, a ferramenta anticrise anunciada há uma semana pelo Banco Central Europeu (BCE) “nunca será utilizada”. O governador do Banco de Portugal explicou que a “mera existência” de um escudo era o suficiente para prevenir “determinados comportamentos” dos investidores. Essa ideia parece estar a confirmar-se perante a forte baixa das taxas de juro das obrigações de Portugal, Espanha e Itália na última semana, o que tem permitido encurtar o diferencial para a Alemanha quando o instrumento do BCE ainda não saiu sequer do papel.

Os juros da dívida dos Governos da periferia voltam a afundar na sessão desta quarta-feira. A taxa portuguesa a dez anos cede mais de 15 pontos base para 2,662% e também as taxas espanhola e italiana no mesmo prazo registam quedas da mesma magnitude, para 2,7% e 3,621%, respetivamente.

Desde que o BCE anunciou a “ferramenta anti-fragmentação”, para evitar o disparo das yields dos países mais endividados em relação à Alemanha, as quedas são bem mais expressivas.

No caso italiano, o mais preocupante, a taxa recua cerca de 65 pontos base, depois de ter atingido os 4,27% há uma semana. Neste período, a taxa das obrigações alemãs caiu “apenas” 14 pontos base, fazendo com que o spread (prémio de risco) italiano encurtasse para cerca de 200 pontos base – o diferencial entre Itália e Alemanha chegou a atingir os 257 pontos base (2,57%).

Já o prémio de risco de Portugal face à Alemanha negoceia esta quarta-feira nos 105 pontos base, quando há cerca de uma semana estava nos 135 pontos base. O mesmo também acontece com Espanha, com o diferencial das taxas de juro a situar-se nos 109 pontos base.

Prémio de risco da periferia em queda

Fonte: Reuters

Embora este mecanismo ainda esteja a ser estudado, devendo estar pronto no próximo mês, já foram desvendados alguns pormenores acerca do seu funcionamento. A própria presidente do BCE, Christine Lagarde, adiantou que a ferramenta “anti-fragmentação” irá impor limites nos spreads das yields da dívida soberana. Centeno explicou esta semana que funcionará como uma espécie de “seguro” que será ativado “quando os diferenciais da dívida estiverem para além dos fundamentos económicos”.

Citando fontes próximas do processo, a agência Reuters adiantou na semana passada que o BCE poderá colocar algum tipo de condicionalismo no mecanismo, como o cumprimento das recomendações económicas da Comissão Europeia, para que os países possam beneficiar do escudo protetor.

Com este novo instrumento, o BCE pretende facilitar a normalização da política monetária com a subida dos juros para travar a escalada da inflação, objetivo que poderia estar comprometido dada a acumulação de tensões nos mercados de dívida da periferia.

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