Japonesa Ricoh “exporta” aquisição no Porto para a Europa
Conhecida pela impressão, mas a posicionar-se para os serviços digitais, a Ricoh prepara a portuense Pamafe, que comprou em 2022, para ser “hub internacional” nas áreas cloud e de cibersegurança.
A gigante japonesa Ricoh quer tornar a portuense Pamafe, que comprou em janeiro deste ano, num “hub internacional de serviços” nas áreas da cloud e da cibersegurança. O presidente executivo do grupo para o mercado ibérico indica ao ECO que estes ativos digitais vão começar a ser utilizados “desde já” no mercado espanhol e serão depois “fornecidos para outros países da Europa”, a partir de Portugal.
“Há dois elementos importantes. Um deles é ter um serviço de cloud baseado em infraestrutura própria, o que permite ao cliente, em vez de ir a uma Amazon ou Google, usá-la como uma private cloud. O outro é uma plataforma de gestão de cibersegurança, que possibilita a oferta destes serviços em remoto, utilizando tecnologias sem ter de as comprar. É a cibersegurança como um serviço”, explica Ramon Martin.
Fundada em 1998, com uma faturação anual de 20 milhões de euros e cerca de 500 clientes, concentrados sobretudo em Portugal, a Pamafe está focada em data centers e infraestruturas de tecnologias de informação para espaços de trabalho, em soluções cloud e também em cibersegurança. Esta última especialização da empresa portuense permitiu à Ricoh Portugal entrar numa nova área de negócio — e uma das três eleitas como apostas prioritárias, a par da migração para a cloud e da “hiper automatização” de processos.
Estamos abertos a adquirir empresas que empreendedores portugueses iniciaram na década de 1980, mas sem dimensão para poderem abordar a expansão tecnológica que está a haver. Há neste momento uma oportunidade real de integração dessas capacidades, do seu talento e do conhecimento do mercado.
A aquisição desta firma nortenha acrescentou 56 funcionários à estrutura portuguesa do grupo asiático, que ronda agora as 135 pessoas. E que “seguramente” vai aumentar o recrutamento nos próximos anos para “poder fazer crescer” o negócio. Tal como aconteceu com a tecnológica TotalStor, que tinha comprado em 2019 em Lisboa, absorveu toda a gente e optou por manter, pelo menos para já, a organização separada. O gestor nota que o grupo “[protege] sempre as aquisições durante alguns anos para permitir uma transição lenta para uma nova cultura corporativa”.
“Há uma complementaridade entre Porto e Lisboa. Estas empresas eram concorrentes; são ambas parceiras da Dell e não há nenhum conflito entre tecnologias. Há outro elemento que é todo o portefólio adicional, [sendo que] a Pamafe tem maior amplitude e dimensão do que tinha a Totalstor. Um terceiro fator importante é a gestão. Em todas as aquisições, a Ricoh procura incorporar os gestores [anteriores] para conseguir uma liderança tecnológica de maior impacto”, resume Ramon Martin.
Na mira estão já outras de cibersegurança, de desenvolvimento de aplicações como javae .net para portais web e automatização de processo, ou fornecedoras de data center e companhias a migrar para negócios cloud. “Estamos abertos a adquirir empresas que empreendedores portugueses iniciaram na década de 1980 com aquelas que eram as tecnologias líderes naquele momento, mas que não têm dimensão para poder abordar a expansão tecnológica que está a haver. São pequenas, o que as impede de ter um crescimento potente. Creio que há neste momento uma oportunidade real de integração dessas capacidades que são muito boas, do seu talento e do conhecimento do mercado”, frisa.
Impressão a descer e contratos a rever
Conhecida ainda mais pelo mercado da impressão, que é a área de origem e em que é fabricante de impressoras, faxes ou dispositivos eletrónicos para escritórios, a Ricoh tem vindo a mover-se para os espaços de trabalho digital, em que entrou com os ecrãs interativos para videoconferências. Recentemente, a companhia que fatura a nível global acima de 17 mil milhões de euros por ano reposicionou-se até aos serviços digitais, por via da aquisição de tecnológicas que operam nos mercados de data centers, cloud, cibersegurança e aplicações.
Em Portugal, onde começou a operar em 1986, mas até há cinco anos apenas atuava na área de impressão, a multinacional conta fechar o próximo exercício, em março de 2023, com um volume de negócios superior a 50 milhões de euros (vs. 30 milhões no último fecho). Ramon Martin, o catalão de 56 anos que em 2017 foi nomeado diretor-geral também para o mercado português, traça ao ECO a ambição de duplicar depois as vendas anuais e chegar aos 100 milhões de euros em 2026.
A área de impressão vale agora “apenas” 50% do negócio no mercado português e próximo ano já será maior a proporção de receitas nos serviços digitais. O presidente executivo recorda como foi “muito dura” a quebra de 70% nos produtos relacionados com os espaços de trabalho físicos – recuperou, entretanto, até estabilizar numa queda de 25% face ao nível pré-Covid, a nível ibérico –, contrabalançada pelo crescimento registado nas chamadas atividades de colaboração, que abrangem as salas de videoconferência ou o fornecimento de comunicações híbridas, e noutro tipo de negócios, como os data centers.
E no atual contexto de guerra e de maior escassez e aumento de custo de quase todos os materiais, Ramon Martin descreve aumentos de dois dígitos no mercado das tecnologias, a nível global, que estão a obrigar o grupo a rever os contratos com os clientes empresariais. E a tentar negociá-los também com a administração pública, que é sempre mais “lenta a reagir”. “Os contratos que não incluíam crescimento de preços têm de adaptar-se à economia, senão no final haverá uma rutura. Tem de se arranjar uma forma [de o fazer]. Se muda o contexto, os salários, os custos dos componentes, há que mudar. Se não há uma atualização, isto só pode acabar mal e no final vais perder qualidade”, conclui.
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