Faltam ainda 132 anos para existir igualdade de género
Entre os 146 países abrangidos pelo índice, Portugal está no 29.º lugar do "Global Gender Gap Index Ranking", com um score de 0,766. O valor representa uma ligeira queda relativamente ao ano passado.
Serão precisos mais 132 anos para eliminar definitivamente a desigualdade entre géneros. Significa isto que, muito provavelmente, só em 2154 haverá, finalmente, paridade entre homens e mulheres. Os seus filhos ainda não vão assistir a este marco, nem talvez os seus netos… O número representa, contudo, uma ligeira melhoria de quatro anos face à estimativa apresentada em 2021, que apontava para um caminho a percorrer de 136 anos até à paridade, revela o mais recente “Global Gender Gap Report”, do World Economic Forum (WEF).
No estudo, que abrange 156 países, Portugal surge no 29.º lugar do ranking, imediatamente antes dos Barbados e depois da Holanda. Numa escala de zero a um que avalia a paridade de género em cada país, Portugal obteve uma pontuação de 0,766. A Islândia tem, novamente, o primeiro lugar da lista, com pontuação de 0,908, e o Afeganistão volta a figurar em último, com 0,435.
“Em 2022, no meio de crises multifacetadas e agravantes incluindo o aumento do custo de vida, a pandemia em curso, a emergência climática e os conflitos e deslocamentos em grande escala, o progresso no sentido da paridade de género está a estagnar”, começa por explicar Saadia Zahidi, managing director do World Economic Forum.
“À medida que os líderes lidam com uma série crescente de choques económicos e políticos, o risco de inversão está a intensificar-se. Não só milhões de mulheres e raparigas estão atualmente a perder o acesso a oportunidades, como esta paragem no progresso para a paridade é uma catástrofe para o futuro das nossas economias, sociedades e comunidades. Acelerar a paridade deve ser uma parte central da agenda pública e privada”, continua, citada no próprio relatório do WEF.
Embora nas últimas décadas, mais mulheres tenham arranjado trabalhos remunerados e estejam, cada vez, mais em posições de liderança, a trajetória foi interrompida de rompão com a pandemia da Covid-19. E as feridas teimam em não desaparecer. “Mulheres e raparigas em todo o mundo correm o risco de ficar com cicatrizes permanentes no que toca ao mercado de trabalho”, alerta Saadia Zahidi.
Não só milhões de mulheres e raparigas estão atualmente a perder o acesso a oportunidades, como esta paragem no progresso para a paridade é uma catástrofe para o futuro das nossas economias, sociedades e comunidades. Acelerar a paridade deve ser uma parte central da agenda pública e privada.
Durante a pandemia, as carreiras das mulheres — e também dos jovens — foram as mais vulneráveis. As indústrias dos serviços onde, tipicamente, há uma maior fatia de mulheres empregadas, como o retalho e a hospitalidade, sofreram as consequências dos bloqueios nacionais. Muitas mulheres suportaram o duplo fardo da vida profissional e da prestação de cuidados a familiares, em casa, tendo sido mesmo obrigadas, em alguns casos, a fazerem uma pausa nas suas carreiras.
“Não houve empregadores suficientes que conseguissem encontrar um meio-termo e oferecessem a flexibilidade de que estas profissionais necessitavam”, aponta o WEF.
Os dados apresentados no relatório de 2022 mostram também que existe um acentuado desequilíbrio de género ao nível dos papéis de liderança em quase todos os países e indústrias. As mulheres estão sub-representadas nos cargos de maior visibilidade e responsabilidade dentro das organizações, detendo menos de um terço dos cargos de liderança a nível mundial.
Portugal na 29.ª posição, entre 146 países
Entre os 146 países abrangidos pelo índice de 2022, Portugal situa-se na 29.ª posição do “Global Gender Gap Index Ranking”, com uma pontuação de 0,766, numa escala de zero a um. Comparativamente ao ranking do ano anterior, a pontuação nacional viu uma ligeira queda na pontuação, de 0,009 pontos, e uma mais acentuada no ranking, descendo sete patamares.
Portugal apresentou os seus melhores valores na área do sucesso escolar, com 0,990, e da saúde e sobrevivência com 0,973. No que respeita à participação e oportunidade económica, o sucesso é menor, tendo obtido 0,737. Mas o pior resultado foi ao nível do empoderamento político, em que apresentou uma pontuação de 0,364. Também a nível global, os piores resultados têm ocorrido, sobretudo, na área política.
No relatório, a Europa permanece, ainda assim, a região com melhor desempenho. Os lugares do pódio pertencem às economias nórdicas. Islândia (0,908), Finlândia (0,860) e Noruega (0,845) ocupam, respetivamente, os primeiros lugares do ranking em matéria de paridade de género.
No top 10, embora haja maioritariamente países europeus, está também presente a Nova Zelândia, o Ruanda, o Nicarágua e a Namíbia.
Olhando para a ponta oposta da lista, o Afeganistão, o Paquistão e a República Democrática do Congo são os países menos evoluídos no que diz respeito à igualdade de género, com scores de 0,435, 0,564 e 0,575, respetivamente.
Importa ainda salientar que, entre os países europeus, a Grécia é aquele que encerra a lista, ficando em 100.º lugar e pontuando 0,689. A partir daqui não surge no ranking mais nenhum país da Europa.
Vanuautu, no sul do Oceano Pacífico, foi o território que deu o maior pulo relativamente ao ano passado (tendo aumentado 0,045 pontos), ocupando agora a 111.ª posição. No sentido inverso, Benin, na África Ocidental, caiu 0,041 pontos, ficando na 138.ª posição.
“Será necessária uma ação coletiva, coordenada e abrangente para criar melhorias sustentadas e travar os riscos de reviravoltas. Como base para a ação, um acompanhamento estreito e constante do fosso entre géneros é um primeiro passo crítico. Os resultados do ‘Global Gender Gap Report’ deste ano servem como instrumento para os líderes identificarem áreas de ação individual e de recolha”, alerta a managing director do WEF.
“O aumento das disparidades de género relacionadas com o trabalho aumenta a necessidade de proteção social e dos trabalhadores, oportunidades de requalificação e reintegração, infraestruturas de cuidados reforçadas, reforço da liderança feminina em indústrias onde as mulheres estão sub-representadas e uma abordagem mais proativa para preparar o terreno para a paridade de género nas indústrias em crescimento do futuro.”
Este relatório vem juntar-se a outros que confirmam as dificuldades acrescidas que a pandemia trouxe às mulheres, e que demonstram, por exemplo, a desigualdade ao nível de rendimentos, cargos de liderança ou partilha das tarefas.
Consulte na íntegra o relatório de 2022 do WEF aqui.
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