Dos prados da Suíça aos rios da Alemanha e Itália, a seca atinge a Europa
Vários países europeus estão a registar meses secos e quentes, levando a situações de seca em vários pontos. Governos avançam com apoios e outras medidas, como restrições ao uso de água.
O verão quente e seco que se tem vivido tem trazido mais preocupações do que alegrias. As condições meteorológicas têm levado a avisos de seca um pouco por todo o continente europeu, um fenómeno que traz consequências graves para as populações, nomeadamente na produção agrícola e abastecimento de água. E que já está a obrigar à tomada de medidas.
O Observatório Europeu da Seca da União Europeia calculou que 45% do território do bloco comunitário estava sob alerta de seca em meados de julho, com quase 15% já em alerta vermelho. Com o avançar do tempo, continuam a verificar-se ondas de calor no espaço da UE e um alto risco de incêndio em vários países.
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“Estamos a ver, realmente, uma seca sem precedentes em muitas partes” da Europa, disse Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudança Climática Copernicus da UE, citado pelo jornal Politico.
A seca está a afetar a produção de energia hidroelétrica e também de alimentos, aumentando a pressão no mercado devido à guerra na Ucrânia. Muitas autoridades locais já pediram aos moradores que reduzissem o uso de água potável.
Por cá, o Governo já apelou à “poupança de água da parte de todos” e anunciou novas medidas para a redução do consumo de água, em particular no Algarve e em Trás-os-Montes. Juntam-se a outras já tomadas desde fevereiro — e que incluíram restrições a barragens. As medidas contemplam a redução de consumo de água nos empreendimentos turísticos do Algarve e o reforço de vários sistemas de abastecimento no Norte do país.
Segundo o IPMA, o mês de julho de 2022 foi o mais quente dos últimos 92 anos (desde 1931), sendo que “de acordo com o índice PDSI, a 31 de julho todo o país está em situação de seca meteorológica, verificando uma aumento da área na classe de seca extrema”. “No final de julho 55% do território está na classe de seca severa e 45% na classe de seca extrema”, indicava no boletim do mês passado.
Em França, a primeira-ministra, Élisabeth Borne, ativou na semana passada uma unidade de crise para combater a seca. Mais de uma centena de municípios franceses não têm água corrente potável e estão a ser abastecidos por camião. O ministro da Transição Verde, Christophe Béchu, avisou: “Vamos ter de nos habituar a episódios deste tipo. A adaptação já não é uma opção, é uma obrigação”.
Já as reservas hídricas de Espanha estão num mínimo histórico de 40% e têm vindo a cair a uma taxa de 1,5% por semana, devido a uma combinação de aumento de consumo e evaporação, segundo indicou o governo. O The Guardian relata que a maioria das restrições de água foi imposta aos utilizadores domésticos.
Em Itália, é no rio Pó que se encontra uma das maiores manifestações da seca. Caiu para um décimo do valor habitual, enquanto o nível da água está dois metros abaixo do normal. A produção de arroz no vale do Pó, que corresponde a cerca de 40% da produção agrícola da Itália, está ameaçada. O governo italiano declarou emergência de seca em cinco regiões do norte, racionando água potável no início de julho, enquanto as aldeias ao redor do Lago Maggiore estão a ser abastecidas por camião.
No alto dos Alpes, a neve que alimenta reservatórios e barragens hidrelétricas também falhou neste inverno. A energia hidrelétrica na Itália caiu 40% em comparação com o ano passado, segundo a AFP.
No entanto, esta situação não ocorre apenas nos países do Sul. Os níveis de água também caíram para valores perigosos no Reno, uma via navegável no noroeste da Europa usada para transportar petróleo, gasolina, carvão e outras matérias-primas — e que conecta o centro industrial da Alemanha aos principais portos de Roterdão e Antuérpia. Em Berlim, as autoridades registaram a queda dos níveis de água nos vários lagos alimentados pelo rio Spree.
Segundo a Bloomberg, o Reno está quase a tornar-se intransitável, o que impede vastos fluxos de diesel e de carvão. O Danúbio também está a ficar bloqueado, dificultando o comércio de grãos e outros.
Anualmente, os rios e canais do continente transportam mais de uma tonelada de carga para cada residente da UE. E contribuem com cerca de 80 mil milhões de euros para a economia da região, apenas como meio de transporte, de acordo com cálculos baseados em números do Eurostat.
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Nos Países Baixos foi declarada uma escassez oficial de água na semana passada, enquanto na Bélgica os meteorologistas relataram o julho mais seco desde 1885, estando em vigor a proibição de os agricultores bombearem água para as plantações. Já pela Suíça, a indústria de laticínios foi a mais atingida. As autoridades de Friburgo, Jura e Neuchâtel abriram prados em vales que normalmente não eram usados para pastagem.
Olhando para o bloco como um todo, a Comissão Europeia prevê que o rendimento total das culturas de cereais deste ano, incluindo trigo, cevada e milho, será 2,5% inferior ao do ano passado, devido ao clima seco. Apesar de as secas regionais serem uma ocorrência regular no verão, especialmente no sul da Europa, a extensão do período de seca em grande parte do continente é fora do comum.
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