Juros portugueses estão a disparar. Porquê?

Os juros da dívida portuguesa estão a disparar face à última sessão. Taxa a dez anos estava abaixo dos 4%, mas agora está a negociar perto dos 4,3%. O que se passa?

Os juros da dívida portuguesa subiram ligeiramente na última sessão. Agravaram-se para perto de 4%, mas estão agora muito perto dos 4,3%. Um salto que traduz um ajuste técnico. É que foi feita a mudança das linhas de obrigações do Tesouro que servem de referência para as diferentes maturidades da dívida de Portugal.

A yield associada à dívida a 10 anos fechou esta quarta-feira nos 3,992%. Esta quinta-feira está a negociar nos 4,271%, o nível mais elevado desde março de 2014, o que representa um aumento de 28 pontos base. Mas este agravamento acentuado tem uma explicação mais técnica do que reflete propriamente as condições da procura e oferta do mercado. Sem este ajustamento de cariz mais administrativo, as taxas até estariam a descer.

Juros disparam com correção técnica

Fonte: Bloomberg (valores em %)

Fonte oficial do IGCP confirmou ao ECO que se trata de uma mudança na linha de referência que serve de base para as taxas das obrigações do Tesouro portuguesas. “Houve uma alteração do benchmark. O que esta quarta-feira tinha como referência a linha das obrigações do Tesouro de 2026, passou a ter como referência as obrigações que têm maturidade em 2027″, explicou esta fonte.

"Houve uma alteração do benchmark. O que ontem tinha como referência a linha das OT 2026, hoje passou a ter como referência as OT 2027.”

Fonte oficial do IGCP

De resto, observando a evolução da taxa implícita na linha das obrigações com maturidade em 2026 — que ontem era a referência para os juros a dez anos, sublinhe-se –, verifica-se um desagravamento da yield em cerca de 1,5 pontos base. Um desempenho que vai mais ao encontro do atual contexto de aparente acalmia em relação a Portugal, que esta quarta-feira não teve problemas em financiar-se em 1.250 milhões de euros em títulos de curto prazo, numa operação que registou juros negativos recorde.

Além disso, em relação às condições do mercado secundário na Zona Euro, as eleições holandesas, que resultaram numa vitória do partido liberal VVD liderado pelo atual primeiro-ministro holandês, relegando o partido da extrema direita para o segundo partido mais votado, veio também tranquilizar os investidores.

Ainda assim, apesar do caráter mais técnico deste disparo, a verdade é que a taxa com que hoje os investidores credores de Portugal trocam obrigações nacional está bastante mais elevada, seguindo em máximos de 2014, ainda antes de o país ter protagonizado uma saída limpa do programa de resgate da troika. E serão estas taxas que servirão de referência para leilões que o país venha a realizar daqui em diante.

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