Editorial

Um gasoduto “poucochinho”

Depois deste anúncio, só faltava mesmo que a França conseguisse empurrar os custos de um projeto que interessa sobretudo a Espanha e aos próprios franceses aos clientes portugueses.

António Costa é um político extraordinário (e sintam-se à vontade para usar este adjetivo com o sentido que entenderem…). Depois de andar a vender Sines como a porta da Europa para transportar gás, o conhecido MidCap para ligar Portugal ao centro da Europa, anuncia como um acordo histórico (são sempre históricos…) o entendimento com Espanha e a França para um “corredor verde” entre Barcelona e Marselha, o BarMar, com o objetivo de servir para a circulação de hidrogénio verde. Uma ligação entre a Península Ibérica e França é melhor do que nada, mas andou-se para trás muitos anos e é por isso um gasoduto ‘poucochinho’.

Costa, vê-se à vista desarmada, é outro quando está entre os seus pares europeus, quando têm reuniões e encontros de alto nível como os Conselhos Europeus ou os encontros bilaterais. Só não irá para um cargo europeu se não puder (o que é absolutamente legítimo), mas já é politicamente questionável quando nos quer vende gato por lebre, ou fazer-nos esquecer o que tentou sem qualquer sucesso, como é o caso. O dossiê das interligações europeias não é uma vitória de Costa, é uma derrota embrulhada em papel de presente.

A Europa está a viver um choque energético por causa da invasão da Ucrânia e da resposta da Rússia às sanções e precisa por isso de um novo modelo de distribuição de energia, para o qual a Península Ibérica poderia ser uma resposta decisiva. Mas era necessário que a França permitisse o que nunca permitiu, ligações a atravessar os Pirinéus que alimentassem do ponto de vista energético a Europa. Para o gás importado de outras paragens ou para a eletricidade produzida no mercado ibérico, nomeadamente a renovável. Pressionada pela Alemanha, a França tinha de ceder em alguma coisa. Fez o mínimo possível, e consegui deitar fora o trabalho de anos, e um acordo assinado em 2015 com Portugal (como bem recordou aqui o antigo ministro Jorge Moreira da Silva).

Cai o grande projeto do MidCap, que ligaria Sines ao resto da Europa pelos Pirinéus, e passa a aposta para o corredor verde marítimo BarMar, e havia o compromisso de abrir três ligações elétricas, mas foram reduzidas a uma, na Baía de Biscaia. Tudo somado, melhor do que nada, especialmente até porque há a tentativa de dar mercado europeu aos investimentos de hidrogénio verde que estão programadas em Portugal, mas aparece António Costa muito sorridente a vender um enorme insucesso político.

Mas ainda faltam outros ‘pormaiores’: Quem paga, é o mais importante deles. Depois deste anúncio, só faltava mesmo que a França conseguisse empurrar os custos de um projeto que interessa sobretudo a Espanha e aos próprios franceses aos clientes portugueses (na tarifa mensal de energia).

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