Editorial

O que anda a fazer o ministro Costa Silva?

As empresas portuguesas industriais estão sob pressão por causa dos custos da energia, mas o ministro da Economia considera que é mesmo importante receber um grupo de jovens radicais.

O ministro António Costa Silva decidiu receber um movimento de ativistas que já tinha provocado tumultos nos últimos dias com a invasão pacífica do Ministério da Economia, com a bondosa intenção de ouvir quem achava estar mesmo interessado em discutir o ambiente e em ter um contributo construtivo para políticas sustentáveis. Mas só mesmo o ingénuo Costa Silva não tinha percebido o que estava em causa, o que suscita uma pergunta mais pertinente: O que andará Costa Silva a fazer no Governo?

A história conta-se de uma penada. Um grupo de alunos ativistas radicais, ‘patrocinados’ pelo Bloco de Esquerda e outros movimentos anti-capitalistas, encerrou diversas escolas de Lisboa em defesa do clima, no âmbito do Movimento Fim ao Fóssil – Ocupa!, O nome deste movimento é todo um programa e já dizia ao que vinha, e não era uma participação cívica, era simplesmente uma ação mediática contra as empresas, a economia de mercado, o capitalismo. Para imporem a sua verdade, absoluta, sem saberem de nada a não ser a capacidade de gritarem umas frases feitas e de atrair as televisões. Propostas que misturam tudo e que têm pouco ou quase nada sobre a sustentabilidade e a transição energética.

A necessidade de investimento das próprias empresas petrolíferas nesta transição é coisa que não lhes interessa. Uma coisa é certa, não foi por acaso — nem pelo passado profissional de Costa Silva, que tem sido ao longo dos anos defensor das energias renováveis — que apontaram o tiro ao ministro da Economia, perceberam, ou fizeram-lhes perceber, que teriam de testar o mais frágil dos ministros. E Costa Silva confirmou-o quando lhes abriu a porta do Ministério para uma reunião.

A reunião, como era óbvio, não deu em nada a não ser em mais uma manifestação para consumo mediático contra os “fósseis”, como foi anunciado. Costa Silva teve exatamente o que estava a pedir. Mas o que sobra deste episódio que cria vergonha alheia é outra coisa. O que anda o ministro a fazer? Aparentemente, nada.

Costa Silva é um homem inteligente, culto, competente do ponto de vista técnico nas suas áreas de intervenção, mas é, obviamente, um erro político tremendo, mais um, do primeiro-ministro. Alguém viu o ministro com a tutela da Energia, Duarte Cordeiro, a abrir a boca, a dar palco mediático a este movimento radical? Então, para que foi Costa Silva meter-se nisto, em vez de tratar estes ativistas radicais como mereciam? E noto que o problema não é a juventude dos promotores, é mesmo a sua agenda ideológica e, se pudesse, autoritária.

A economia está a abrandar, as empresas estão sob pressão, e particularmente as que são eletrointensivas, com aumentos dos custos de energia absolutamente insuportáveis, o plano de apoio às empresas não sai do papel, mas o ministro da Economia considera que é mesmo relevante receber um grupo de radicais que querem fazer um espetáculo mediático.

Costa Silva está obviamente a prazo, porque não tem as condições e competências políticas mínimas para desempenhar esta função. Vai sair, só não se sabe quando. E este encontro só serviu para mostrar o óbvio.

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