Empresas “têm de aumentar margens de lucro”, diz bastonária dos Contabilistas
As empresas "têm de aumentar as margens de lucro" e serem "mais sustentáveis" se quiserem aumentar salários, defende a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados, Paula Franco.
A bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados defende que as empresas “têm de aumentar as margens de lucro” e serem “mais sustentáveis” se quiserem aumentar salários, reter talentos e conseguir competir na compra de bens.
“Têm de aumentar as margens de lucro, têm de se tornar mais sustentáveis, porque se querem aumentar salários, se querem equilibrar e reter talentos, se querem conseguir competir com a compra dos bens que são cada vez mais escassos a nível mundial, as empresas portuguesas têm de aumentar as margens”, caso contrário “não o conseguem fazer”, afirma Paula Franco, em entrevista ao Negócios/Antena1.
De acordo com a bastonária, “tudo está a sofrer um aumento”, considerando que “também há muita especulação nestes aumentos pela indefinição que existe”.
No entanto, “este ajustamento é necessário, não podemos pedir que exista um aumento de salários se as empresas não tiverem aumento das margens“, defende, porque tudo aquilo que está a ser pedido e exigido às empresas vai refletir-se “também no aumento dos preços”.
Paula Franco salienta que nas medidas do Orçamento do Estado para 2023 (OE2023) se vê “uma certa pressão para que os salários aumentem duma forma geral”.
Ou seja, “o que se quer é incentivar as empresas que não são obrigadas a aumentar salários, exceto o salário mínimo, a fazer este aumento dos 5,1%”, sublinha.
A bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados refere que “há um incentivo à valorização, que é uma majoração de 50%, mas que só se vai refletir no imposto a pagar em 2024″.
Portanto, “se as empresas já têm de começar a aumentar agora em janeiro ou durante o ano, quando decidirem, para terem esta majoração, é tarde não haver um incentivo neste momento”, afirma.
Na sua opinião, esta “pressão”, que está vertida no OE2023, “não será suficiente para convencer as empresas a aumentar salários”.
Contudo, “estamos a viver outra realidade, que é de uma rotatividade muito grande em termos de emprego e a retenção de talento nas empresas, e aqui é que a pressão é muito grande sobre as empresas”, aponta Paula Franco.
“Na minha ótica e na minha análise, os salários vão aumentar naturalmente pela necessidade de retenção de pessoas e de captar mão-de-obra“, considera.
O aumento dos salários “também traz mais receita ao Estado”, mas “poderia haver aqui um equilíbrio de prescindirmos todos deste aumento: as empresas aumentavam os salários e, portanto, prescindiam do seu lucro, o Estado prescindia dos seus impostos e beneficiava-se diretamente os trabalhadores”, argumenta.
Cada vez que os salários sobem, aumentam as taxas contributivas e o IRS.
Para incentivar esta “descolagem dos salários poderia haver um compromisso durante x tempo para aumentos que se considerariam razoáveis e até de determinado valor para abranger, por exemplo, a classe média, haver uma isenção desse aumento em termos de IRS e de taxa contributiva, por exemplo”, reforça. Com esta medida, “ninguém perdia e todos ganhavam”, considera.
Na entrevista, Paula Franco considera ainda “injusto” que o OE2023 não tenha incluído a dedução à coleta dos empréstimos de habitação feitos após 2011, apesar de ter havido propostas neste sentido.
“Foi um erro muito grande porque acho claramente que uma das situações que mais vai penalizar as famílias portuguesas no ano 2023 é o aumento das taxas de juro”, remata.
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