Imperial “amarga” lucros para travar preço dos chocolates no Natal

Maior fabricante nacional, dona das marcas Regina, Pantagruel e Pintarolas, diz ter absorvido “grande parte” do aumento de custos, do açúcar à embalagem. Exportação pesa 30% no negócio de 39 milhões.

A Imperial decidiu “incorporar uma grande parte dos incrementos de custos que teve, em detrimento dos seus benefícios, e não repercutir na totalidade esses aumentos para os clientes e consumidores”. A fábrica de chocolates está a pagar três vezes mais pela energia, duas vezes mais pelo açúcar e 30% acima nos produtos lácteos, com “aumentos expressivos” também em ingredientes como a lecitina ou o maltitol, substituto do açúcar.

Alegando “informação confidencial” para não detalhar as perdas que diz ter optado por absorver na única revisão de preços feita este ano (em julho, no início do ano fiscal) e um “exercício de grande responsabilidade”, a presidente da histórica empresa de Vila do Conde, que detém as marcas Regina, Jubileu, Pantagruel, Pintarolas ou Allegro, admitiu ao ECO que “naturalmente que, fruto desta incorporação de parte dos custos, a margem de lucro será menor”.

“Entendemos que deveríamos fazê-lo perante uma situação de inflação, em que o poder de compra dos consumidores diminui. Entendemos que estamos numa situação que é conjuntural e que devíamos fazer este esforço de não passar na totalidade para os nossos clientes”, frisou Manuela Tavares de Sousa, que a espanhola Valor manteve na gestão depois de comprar a maior produtora nacional do setor ao fundo Vallis.

Manuela Tavares de Sousa, CEO da ImperialRicardo Castelo/ECO

Até quando é que os novos donos vão aceitar ou conseguir aguentar esse impacto financeiro? “Não lhe consigo responder porque, como em tudo na economia, isto é cíclico, mas esperamos que a médio prazo algo se venha a estabilizar em termos de preços de matérias-primas e de materiais de embalagem”, respondeu a gestora, descrevendo igualmente “um ajustamento quase diário para garantir que não há falhas na entrega das encomendas”.

É que, além do “incremento extraordinário” em matérias-primas que são muito relevantes para o fabrico do chocolate, falou numa “tensão grande no abastecimento”, em que “por vezes quase não há oferta” e com prazos de entrega “muitíssimo mais longos”. Um problema que se arrasta aos materiais de embalagem (cartolinas, filmes, tubos ou PVC) e que levam a líder da Imperial a desabafar que “hoje não pode trabalhar just in time, tem de ter stocks que permitam garantir as produções”.

Há sempre sinergias e um conhecimento dentro das empresas que é partilhado [com a espanhola Valor], mas a gestão das marcas e do negócio nos diferentes mercados é perfeitamente autónoma.

Manuela Tavares de Sousa

Presidente da Imperial

Um ano e meio depois de passar para mãos espanholas, a presidente da empresa fundada há 90 anos por Manuel Dias da Silva e que durante mais de quatro décadas pertenceu ao grupo RAR, disse que “naturalmente que há sempre sinergias que se desenvolvem e um conhecimento dentro das empresas que é partilhado”, embora o portefólio de produtos seja “muito mais complementar do que concorrente”. O grupo de Alicante, liderado por Pedro López e que fez em Portugal a sua primeira aquisição internacional, aponta à liderança ibérica no setor chocolateiro.

De resto, Manuela Tavares de Sousa recusou alongar-se nos comentários sobre o que mudou, entretanto, na operação, repetindo que “a gestão das marcas e do negócio nos diferentes mercados é perfeitamente autónoma”. Mas tem agora maior robustez financeira, até para sacrificar a margem de lucro nesta fase? “Temos este acionista, como tivemos outros no passado. Sempre tivemos um rácio de autonomia financeira muito grande e mantemo-lo. Não tenho mais nenhuma informação relevante para lhe dar nessa matéria”, ripostou.

Investimento de sete milhões e entrada na Coreia do Sul

Com uma média anual de 250 trabalhadores – o efetivo sobe nas épocas fortes do Natal e da Páscoa, que pesam 30% e 35% do negócio, respetivamente –, a Imperial está a investir sete milhões de euros numa nova linha de fabrico de chocolate no complexo industrial de Vila do Conde, que conta com três unidades. Quando estiver concluído, no final do próximo ano, vai aumentar a capacidade de produção anual das atuais 6.000 para 10.000 toneladas.

Para os mercados mais longínquos, como o Japão, os chocolates para o Natal já saíram da fábrica em junho ou julho. No mercado nacional, os lineares natalícios começaram a ser montados no início de outubro. Ainda estamos no início da campanha de consumo, mas a maior parte das vendas da Imperial já estão feitas e antecipam uma campanha festiva “mais forte” do que as anteriores. Marcadas pelas restrições de uma pandemia que trouxe alterações nos padrões de consumo: baixou nos produtos para oferta, como bombons ou figuras de chocolate; subiu nas tabletes para consumo familiar e uso culinário.

No ano fiscal 2021-2022, fechado em junho, o volume de faturação da Imperial cresceu 11% em termos homólogos, para 39 milhões de euros. O peso das exportações direcionadas a mais de 50 países progrediu de 25% para 30%. Espanha, França e Inglaterra são os maiores destinos na Europa. Nos países lusófonos, as marcas continuam a ser líderes de mercado. Os mercados asiáticos são “uma grande prioridade”, em particular o Japão, mas também a Coreia do Sul, para onde começou a vender no último ano através de acordos com distribuidores e importadores.

No mercado português, que “é de pequena dimensão, mas altamente competitivo, onde estão presentes todas as multinacionais”, a presidente da Imperial reclama a liderança em vários segmentos. É o caso da marca Regina nas figuras de chocolate, como as bolas ou os pais natais, e também nas amêndoas cobertas com chocolate na altura da Páscoa; da Pintarolas nas drageias para o segmento infantil; e no chocolate de culinária reclama uma quota de 35% para a Pantagruel, que “merece” a maior novidade comercial do ano: mousse com sabor a creme de chocolate avelã.

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