Na última década, muita coisa mudou em termos de habitação na União Europeia. Os preços das casas e as rendas sobem há sete anos, assim como as despesas com a água, gás e luz.
A habitação mudou muito na última década na União Europeia (UE). Os preços das casas e as rendas não param de subir desde 2013 e o mesmo acontece com as faturas da luz, água e eletricidade. Ao mesmo tempo, numa região onde a maioria das famílias é proprietária de um imóvel, as áreas não têm acompanhado essa tendência crescente, já que 17% da população europeia vive em casas sobrelotadas. O Eurostat publicou esta quinta-feira o relatório “Housing in Europe – 2022”, onde traça o retrato da habitação na UE.
Moradia ou apartamento? Comprar ou arrendar?
Mais de dois terços da população europeia têm casa própria, refere o Eurostat. Contudo, ser proprietário ou inquilino de um imóvel é algo que difere significativamente entre os Estados-membros. Em 2021, 69,9% das famílias viviam numa casa comprada, enquanto apenas 30,1% arrendavam.
As maiores discrepâncias foram observadas na Roménia (95% da população tem casa própria), na Eslováquia (92%) e na Hungria (92%). No lado oposto, aparecem a Alemanha, com uma proporção semelhante (50,5% da população arrenda casa), a Áustria (46%) e a Dinamarca (41%). Portugal aparece mais ou menos a meio da tabela, acompanhando a tendência europeia, com 78,3% de proprietários e 21,7% de inquilinos.
E na hora de escolher onde morar, seja para arrendar ou comprar casa, a escolha é semelhante: 53% da população da UE vive numa moradia e 46% vive num apartamento. O Eurostat nota que cerca de 1% dos europeus vivem noutro tipo de alojamento, como barcos-casa ou carrinhas.
Nas cidades (zonas urbanas), 71% das pessoas vivem num apartamento e 28% numa moradia, enquanto nos subúrbios 58% vivem numa moradia e 41% em apartamentos. Já nas zonas rurais, 83% vivem numa moradia e apenas 15% em apartamentos.
Numa análise aos Estados-membros, a Irlanda (90%), Holanda (80%) e a Bélgica e Croácia (ambos com 77%) têm a maioria da população a viver numa moradia (incluindo casas geminadas), enquanto Espanha (66%), Letónia (65%) e Estónia (61%) têm as quotas mais altas de pessoas a viver em apartamentos. Portugal também acompanha a média europeia, com 53,5% das pessoas a viverem em moradia e 46,4% em apartamento.
Quantas pessoas por casa? E quantos quartos?
Moradia ou apartamento, comprado ou arrendado. O Eurostat calculou também as dimensões das habitações através do número médio de quartos por pessoa. E concluiu que, em 2021, cada habitação tinha, em média, 1,6 quartos por pessoa.
O maior número de quartos foi observado em Malta (2,3 quartos por pessoa), seguido pela Bélgica, Irlanda e Países Baixos (ambos 2,1 quartos). No outro extremo aparecem a Polónia e a Roménia (ambos com 1,1 quartos), Croácia, Letónia e Eslováquia (todos com 1,2 quartos em média por pessoa – dados de 2020). Em Portugal a média é superior à europeia: 1,7 quartos por pessoa.
Importa ainda saber que, em média, cada casa na UE tem a viver uma família com 2,3 pessoas. A Eslováquia aparece no topo (2,9 pessoas), à frente da Polónia (2,8 pessoas) e da Croácia (2,7 pessoas). No lado oposto aparecem a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca com uma média de duas pessoas. Portugal surge acima da média europeia, com 2,5 pessoas.
Há quem viva em casas sobrelotadas ou sem condições
O Eurostat foi perceber como são as casas na UE no que toca às condições que oferece aos habitantes. Percebeu-se que, em 2021, 17,1% da população europeia vivia numa casa sobrelotada, o que mostra, ainda assim, uma melhoria face a 2021 (17,8%) e face a 2010 (19,1%).
Letónia (45,3%), Roménia (41%) e Bulgária (37,9%) têm as taxas de sobrelotação mais elevadas, enquanto o Chipre (2,3%) e Malta (2,9%) têm as mais baixas. Portugal está abaixo da média da UE, nos 10,6% (acima dos 9% registados em 2020).
Mas também há quem vive em casas sublotadas, ou seja, grandes demais para as necessidades das pessoas que lá vivem. De acordo com o Eurostat, um terço da população europeia (33,6%) vivia em casas sublotadas, uma proporção que se tem mantido praticamente estável desde 2010. A explicar este número estão as pessoas mais velhas ou casais que ficam nas suas casas depois de os filhos crescerem e saírem de casa, diz o Eurostat.
Em 2021, as maiores proporções de casas subocupadas foram observadas em Malta (71,8%), Chipre (70,9%) e Irlanda (69,1%), e as menores na Roménia (7,2%), Letónia (10,1%) e Grécia (11,8%). Portugal está nos 33,8% de população a viver em casas maiores do que o necessário.
Num cenário mais extremo, continua a haver quem viva sem condições de habitabilidade, como a capacidade de manter a casa aquecida, a falta de casa de banho ou água a entrar pelo telhado. De acordo com o Eurostat, na UE em 2021, 6,9% da população não tinha como manter a casa quente, sobretudo na Bulgária (23,7%), Lituânia (22,5%) e no Chipre (19,4%).
Além disso, 1,5% da população não tinha casa de banho, duche ou banheira, principalmente na Roménia (21,2% da população), Bulgária e Letónia (ambos com 7%). No que diz respeito a água a entrar pelo telhado, 14,8% das pessoas tinham esse problema, sobretudo no Chipre (39,1%), Portugal (25,2%) e Eslovénia (20,8%).
Preços subiram 37% e rendas 16% na última década
Olhando para a tendência dos preços das casas entre 2010 e 2021, o Eurostat nota que tem havido uma “tendência ascendente constante desde 2013, com aumentos particularmente grandes entre 2015 e 2021”. Ao todo, entre 2010 e 2021, os preços das casas subiram 37%.
Numa análise aos vários Estados-membros, as maiores subidas aconteceram na Estónia (+139%), Hungria (+122%) e Luxemburgo (+115%), enquanto as maiores descidas observaram-se em Itália (-13%), Chipre (-8%) e Espanha (-2%).
No que diz respeito a rendas, a tendência é semelhante. Houve um “aumento constante das rendas na UE entre 2010 e 2021” — no total, 16% durante todo o período. Registou-se um aumento das rendas em 25 Estados-membros e uma diminuição em dois. Os maiores aumentos foram registados na Estónia (+154%), Lituânia (+110%) e Irlanda (+68%), enquanto as maiores descidas aconteceram na Grécia (-25%) e no Chipre (-3%).
As casas são acessíveis aos rendimentos das famílias?
Com o aumento dos preços e das rendas, o custo de uma casa pode ser um fardo, diz o Eurostat. Isso pode ser medido pela taxa de esforço, que mostra a percentagem de população cujo custo total da habitação representa mais de 40% dos rendimentos disponíveis. Na UE em 2021, 10,4% da população de zonas urbanas vivia com uma taxa de esforço acima dos 40%, enquanto a taxa correspondente para as áreas rurais era de apenas 6,2%.
A sobrecarga dos custos com a casa é mais elevada nas cidades do que nas zonas rurais em todos os Estados-membros, exceto na Bulgária, Roménia, Croácia, Letónia e Lituânia. As maiores percentagens de pessoas cuja taxa de esforço supera os 40% foram observadas na Grécia (32,4%), Dinamarca (21,9%) e Países Baixos (15,3%). Em Portugal, 6,6% das pessoas vivem com uma taxa de esforço acima dos 40%.
Outra forma de verificar se a habitação é acessível é através da proporção do custo da habitação no rendimento disponível total. Em média, na UE em 2021, 18,9% do rendimento disponível era dedicado a despesas de habitação. Este valor difere entre os Estados-membros, com as percentagens mais elevadas na Grécia (34,2%), Dinamarca (26,3%) e Países Baixos (23,9%) e as mais baixas em Malta (9%), Chipre (11,2%) e Lituânia (11,6%). Em Portugal essa taxa é de 15,1%, abaixo da média europeia.
Número de famílias com dívidas cai para 9,1%
Atrasos no pagamento da casa ao banco, no pagamento da renda ou às Finanças são outra indicação de que os custos de uma habitação podem ser muito altos. Apesar de os preços das casas e das rendas terem aumentado durante o período de 2010 a 2021, a percentagem de pessoas que vivem em agregados familiares com hipotecas, rendas ou contas de serviços públicos em atraso na UE diminuiu de 12,4% em 2010 para 9,1% em 2021.
Esta percentagem recuou em 20 Estados-membros e subiu em cinco. Em 2021, as maiores percentagens foram observadas na Grécia (36,4%), Bulgária (20,4%) e Chipre (17,3%) e as menores na República Checa (2,4%), Holanda (2,6%) e Bélgica (4,2%).
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Casa própria, rendas mais altas e menos dívidas. Um retrato da habitação na UE
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