Consolidar nos media “não significa necessariamente” maior viabilidade, defende Luís Mergulhão
CEO Omnicom Media Group defende que é preciso "sensibilidade" e "bom senso" quando se fala em concentração nos media e que tal "não significa necessariamente" uma maior viabilidade económica.
O presidente executivo do Omnicom Media Group afirmou hoje, em declarações à Lusa, que é preciso “sensibilidade” e “bom senso” quando se fala em concentração nos media e que tal “não significa necessariamente” uma maior viabilidade económica. Na sequência de notícias recentes sobre concentração dos media e sobre os prejuízos do setor, Luís Mergulhão considera que “é preciso ter sensibilidade para o assunto [consolidação] e haver bom senso”. Recorde-se que presidente executivo da Impresa, dona da SIC e do Expresso, disse esta terça-feira que devia haver concentração no setor dos media em Portugal, mas acrescentou que o grupo que lidera não tem qualquer projeto nesse sentido. “Se faz sentido haver tantos grupos de media em Portugal? Acho que não. […] Devia haver maior consolidação”, afirmou Francisco Pedro Balsemão, no almoço-debate do International Club of Portugal, em Lisboa, respondendo a perguntas da plateia.
E o que é que isso quer dizer? “Quer dizer, em primeiro lugar, que a solução de concentrar ainda mais os grupos de media não significa necessariamente que seja introduzida uma maior racionalidade económica e uma maior viabilidade económica”, isto porque “concentrações anteriores (…) não levaram a isso”, afirmou o responsável.
Este é “um ponto fundamental porque é um elemento que pode ser invocado para essa concentração”, prosseguiu, destacando um segundo ponto. “Nós temos, grosso modo, em termos de grupos de media de hoje, quatro grandes, se nós considerarmos a presença do Estado através de rádio e televisão portuguesa, ou seja, temos quatro televisões generalistas”, sendo que uma concentração “vai levar necessariamente a um empobrecimento da pluralidade“. A concentração, continuou Luís Mergulhão, “vai significar aquilo que normalmente se chama sinergias e, portanto, essa diminuição da pluralidade ao nível da informação é um problema importante que tem que ser tido em conta do ponto de vista nacional e do ponto de vista da cidadania, este ponto é crucial e não podemos pensar apenas do ponto de vista meramente económico”.
Outro elemento “bastante significativo” é que “Portugal é dos países da Europa, se não o país da Europa, que continua a investir mais no setor de televisão”. Ora, o investimento publicitário em televisão representa “50% do total”, o que significa que “não é por causa da migração para o digital, nem para as plataformas globais que nós estamos nesta situação”, argumentou o presidente executivo do Omnicom Media Group. E aqui a concentração, além da diminuição da pluralidade ou “até mesmo uma oferta cada vez mais única e uma oferta cada vez mais semelhante ou quase igual vai, obviamente, retirar audiências a quaisquer que sejam os media destes novos grupos agrupados e, portanto, vai fazer com que, aí sim, os cidadãos migrem cada vez mais para as plataformas sociais ou para as plataformas globais“, considerou.
Para Luís Mergulhão, a partir do momento que o tema da consolidação dos media é colocada publicamente, esta tem de ser tratada “com sensibilidade, mas também com bom senso”, insistiu na tónica. Ao longo dos anos há grupos que tradicionalmente têm resultados positivos, nuns anos positivos e outros negativos, pelo que “também temos aqui uma pluralidade de comportamentos que têm a ver com opções de investimento” e de gestão “com as quais eu não tenho nem me devo imiscuir e que tem a ver com o respeito pela atividade empresarial privada”, sublinhou.
“Mas estou a falar enquanto alguém que tem uma atividade ao nível da comunicação publicitária, mas também alguém que vê o setor do ponto de vista da comunicação e do ponto de vista da informação“, explicou, referindo que é possível haver consolidação de empresas de media estas continuarem a ter prejuízos. “Ou seja, não há nenhuma correlação direta” entre o “consolidar e passar a ter resultados positivos”, enfatizou.
Em sentido inverso, as consolidações “podem levar, do ponto de vista da concorrência, à obrigação” da aplicação de ‘remédios’, os quais “implicam alienações e não um aumento” e o que é alienado “mais facilmente são os media mais rentáveis dentro desses grupos”, apontou. Portanto, “aquilo que ficará concentrado será provavelmente aquilo que mesmo assim hoje tem maior peso do ponto de vista desta não rentabilidade“. No limite, considerou Luís Mergulhão, significa que “a concentração pode levar a ter apenas um grupo do Estado, que tem feito um muito bom trabalho, e um grupo privado, o que não tem sentido (…) porque leva, precisamente por um lado, do ponto de vista económico, ao afastamento das marcas, porque são menos interessantes os seus conteúdos, quer de informação, quer de entretenimento, porque vão ser cada vez mais uniformes”.
Outra das questões que se deve questionar, refere, é de que consolidação se está a falar em Portugal, porque, considerou, “o que se pode consolidar é tudo muito grande, o resto tem a sua própria viabilidade ou já está consolidado”. A imprensa “teve uma uma uma diminuição muito forte, brutal, quer ao nível nacional, quer a nível local ou regional” e as “rádios mantêm a sua dimensão e a sua importância e forte”, salientou. Nesse sentido, “de que é que se está a falar de consolidação, se não estamos a falar dos grandes grupos”, questionou.
“Temos que ter sensatez na análise do que é que está por detrás destes resultados negativos e o que é que pode ser feito e o que é que existe hoje em termos de realidade que pode levar a um equilíbrio”, defendeu. Haver bom senso “é nós não criarmos uma situação no qual existam apenas dois grupos media ou três grupos de media apenas, um do Estado, dois privados ou um do Estado e um privado”, com expressão nacional, advertiu. “Estou a falar da televisão generalista que em Portugal, como nós sabemos, é consumida praticamente toda [93%] através das plataformas de distribuição“, apontou.
Quanto às compras recentes de media em Portugal, Luís Mergulhão evidenciou que “tem havido mudanças na propriedade de vários de vários grupos de media”, mas são “de pequena ou de média dimensão”. Ou seja, “tem a ver com mudanças ao nível dos quadros acionistas e não a aquisição de grupos por outros grupos, nomeadamente fusões de grandes grupos”, rematou.
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