Como as grandes empresas pedem “tréguas” para o emprego jovem

Em dezembro, havia 69 mil jovens desempregados em Portugal. 50 grandes empresas assinaram Pacto para reduzir estes números. Bial, CGD, BCP, NOS, SIBS e Critical Software explicam estratégias.

É a “geração mais qualificada”, mas é também aquela onde o desemprego não parece dar tréguas. Em dezembro, em Portugal havia 69 mil jovens até 25 anos desempregados, com a taxa de desemprego a fixar-se nos 18,5%. Um status quo, aliado à precariedade do emprego, que 50 empresas se comprometeram a contribuir para alterar até 2026, com o “Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens”, promovido pela Fundação José Neves.

Bial, Caixa Geral de Depósitos, Critical Software, NOS, SIBS e Millennium BCP dizem-se bem posicionadas para atingir as metas daqui a três anos: aumentar, de forma agregada, em 10% o recrutamento jovem e em 19% os jovens com contratos sem termo, entre outras.

Mas não só há um longo caminho a percorrer, como revelam os dados do desemprego, como os números do Eurostat de dezembro evidenciam que o tema do desemprego jovem (pessoas abaixo dos 25 anos) não é, claramente, apenas um assunto nacional.

Na União Europeia, o desemprego nesta faixa etária atingia no final do ano passado 2,862 milhões de pessoas, das quais 2,311 milhões da Zona Euro. O que representa um aumento de 30 mil na UE e de três mil na Zona Euro do número de pessoas desempregadas. E, quando comparado com dezembro de 2021, registou-se, uma vez mais, uma subida: 209 mil na UE e 156 mil na Zona Euro. Quanto à taxa de desemprego, em dezembro, fixou-se nos 15% na UE e 14,8% na Zona Euro.

Portugal não só não revela uma evolução positiva, como compara mal com a Europa. Apesar da ligeira descida da taxa de desemprego face a novembro (0.5 p.p.), o valor registado em dezembro, 18,5%, está acima da média da Zona Euro e da União Europeia. E quando olhamos para o número de jovens sem emprego, 69 mil, não só esse valor se mantém inalterado face a novembro, como vê engrossar em mais de 2 mil o contingente de jovens sem trabalho em relação a dezembro de 2021.

Acresce a tudo isto a precariedade do emprego, problema reconhecido pelo Governo. “A taxa de precariedade nos jovens era de 70% em 2015 e, neste momento, está em 59%, mas é má. Diminuiu, mas é má”, admitiu Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, durante a apresentação do Pacto para o emprego jovem.

Retrato que 50 grandes empresas querem contribuir para se alterar. Até 2026 querem aumentar, de forma agregada, os seus níveis de recrutamento junto a jovens até 29 anos em 10%; em 8% o número de jovens que permanecem nas empresas dois anos consecutivos; em 10% nos jovens com ensino superior com remuneração acima do salário de entrada na carreira geral de técnico superior; em 19% nos jovens com contratos sem termo e, em 7% o número de jovens com ensino superior em funções adequadas ao seu nível de qualificação.

Os números das empresas

As empresas ouvidas pela ECO Pessoas dizem-se bem posicionadas para garantir que as metas serão atingidas daqui a três anos. Na Critical Software, o tema do emprego jovem “sempre foi de grande relevância” ou não atuasse a companhia no setor tecnológico.

Mais de 85% dos jovens com ensino superior na Critical Software recebem acima de 1.320 euros brutos, sendo que 97% tem um contrato sem termo. 100% está a desempenhar funções qualificadas e compatíveis com formação superior e têm acesso a um catálogo de aprendizagem diversificado, quer técnica, quer ao nível de soft skills. (…) No longo prazo, queremos garantir que aumentemos a percentagem de jovens a receber pelo menos o salário de entrada na carreira de Técnico Superior de 85% para 100%.

Filipa Carmo

People director da Critical Software

“Tendo em conta que a Critical Software opera no mercado de desenvolvimento de software, uma área com um número elevado de jovens, garantir as melhores condições de trabalho é uma das nossas maiores preocupações. Por exemplo, há vários anos que deixámos de recorrer a contratos a termo, exceto em situações pontuais e previsivelmente temporárias. Neste sentido, todos os jovens colaboradores da empresa entram com vínculo definitivo de trabalho, salvo nas situações mencionadas e em estágios curriculares/profissionais”, adianta Filipa Carmo, people director da Critical Software.

Mais, num momento em que o desemprego jovem convive com um período de escassez de talento, do total de contratações realizado o ano passado pela Critical Software mais de metade (54%) são jovens com idade não superior a 29 anos. “Mais de 85% dos jovens com ensino superior na Critical Software recebem acima de 1.320 euros brutos, sendo que 97% tem um contrato sem termo. 100% está a desempenhar funções qualificadas e compatíveis com formação superior e têm acesso a um catálogo de aprendizagem diversificado, quer técnica, quer ao nível de soft skills“, elenca a people director da tecnológica.

“No longo prazo, queremos garantir que aumentamos a percentagem de jovens a receber pelo menos o salário de entrada na carreira de Técnico Superior de 85% para 100%”, avança a responsável.

Os números da BIAL posicionam a companhia “acima da média nacional na generalidade dos indicadores estabelecidos no Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens, chegando a ultrapassar os 90% em alguns deles.

Fonte oficial

Bial

Noutro setor, o farmacêutico, os números da Bial posicionam a companhia “acima da média nacional na generalidade dos indicadores estabelecidos no Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens, chegando a ultrapassar os 90% em alguns deles”, refere fonte oficial da empresa.

E dá exemplos. “É o caso da percentagem de jovens com ensino superior com salários de valor mínimo equivalente ao nível remuneratório correspondente à entrada na carreira geral de técnico superior, onde a empresa apresenta um indicador de 97%, ou da percentagem de jovens com ensino superior que desempenham funções adequadas ao seu nível de qualificação, também a atingir os 97%.”

“O principal desafio passará por reforçar a posição da empresa na percentagem de contratação de jovens. Estamos fortemente comprometidos com o reforço deste eixo, respondendo mais e melhor às suas expectativas”, aponta fonte oficial da farmacêutica.

No ano passado mais de metade das novas admissões no banco foram de jovens até aos 29 anos, dos quais cerca de 90% têm contrato sem termo e apenas 17% destes auferem menos do que o valor referencial do Pacto” (1.320 euros brutos). No banco 2% das posições de management já são ocupadas por jovens.

Fonte oficial do Millennium BCP

“O Millennium bcp encontra-se no grupo das empresas com valores mais elevados na maioria dos indicadores, caminhando a passos largos para alcançar as metas fixadas até 2026 pelo Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens que subscreveu”, garante fonte oficial do banco.

E os números referentes a 2022 parecem indiciar isso mesmo. Nesse ano, “mais de metade das novas admissões no banco foram de jovens até aos 29 anos, dos quais cerca de 90% têm contrato sem termo e apenas 17% destes auferem menos do que o valor referencial do Pacto” (1.320 euros brutos). Mais, no banco “2% das posições de management já são ocupadas por jovens.”

 

Estágios para alimentar pool de talento

“Em várias das metas com que nos comprometemos, através deste “Pacto para Mais e Melhores Empregos Para os Jovens”, contamos já com taxas de cumprimento elevadas”, garante fonte oficial da Caixa Geral de Depósitos, frisando que a “criação de oportunidades, a capacitação e contratação de jovens já era uma prioridade no seio do banco, e continuará a sê-lo.”

Todos os anos, fruto dos protocolos com Universidades, o banco público proporciona “diversos estágios curriculares, paralelamente ao programa de estágios da Caixa, que tem uma estrutura anual e padronizada, em que todos os anos acolhemos mais de 150 jovens.”

E uma grande maioria acaba por reforçar a Caixa. “O acompanhamento realizado, o desempenho apresentado por muitos dos estagiários que recebemos leva a que a taxa de retenção (contratação) seja de, aproximadamente, 70% dos estagiários que participam neste programa, alguns deles com contratação antecipada. São jovens que, na sua maioria, acabam por ficar na Caixa, contribuindo diariamente para a transformação do banco”, adianta fonte oficial do banco.

Mais, “atualmente, nos quadros, temos, aproximadamente, 200 jovens com menos de 30 anos, sendo o objetivo o de reforçar esta aposta.”

Atualmente, nos quadros, temos, aproximadamente, 200 jovens com menos de 30 anos, sendo o objetivo o de reforçar esta aposta.

Fonte oficial

Caixa Geral de Depósitos

E para reforçar o número de trabalhadores até 29 anos na instituição financeira, a aposta continua a ser o programa de estágios. Estratégia que também tem sido levada a cabo pela NOS. Em 2021, a operadora “tinha quase a totalidade de colaboradores com um contrato efetivo de trabalho e uma percentagem superior a 13% de profissionais sub-30, a faixa etária em apreciação no âmbito do pacto, e que tem vindo a ganhar relevância dentro da organização nos últimos anos”, avança Isabel Borgas, diretora de Pessoas e Organização da NOS.

“Para este desempenho tem contribuído, entre outros, o NOS ALFA, programa de trainees remunerado, que capta mais de 50 jovens por ano. A taxa de retenção dos jovens que integram este programa tem sido consistentemente superior a 80%, constituindo uma fonte de contratação com um peso significativo na empresa”, continua a responsável.

Além disso, a operadora tem vindo a “desenvolver inúmeras iniciativas de capacitação formal e on the job, programas de mentoria, bem como parcerias com instituições de ensino superior com vista a uma melhor preparação e adequação desta população às necessidades das empresas e aos desafios de desenvolvimento e progressão de carreira que se lhes colocam.”

O NOS ALFA, programa de trainees remunerado, que capta mais de 50 jovens por ano. A taxa de retenção dos jovens que integram este programa tem sido consistentemente superior a 80%, constituindo uma fonte de contratação com um peso significativo na empresa.

Isabel Borgas

Diretora de Pessoas e Organização da NOS

A SIBS tem igualmente apostado no seu programa de trainees. Desde o seu arranque em 2018, já ajudou a formar mais de 60 jovens licenciados.

No ano passado “mais de 40% dos novos colaboradores tinham idade inferior a 30 anos, o que demonstra este compromisso que agora foi assinado. Até 2026, mantendo-se o contexto atual, a SIBS tem como objetivo manter um nível similar ou superior”, refere fonte oficial da SIBS à ECO Pessoas. “Na componente salarial, o compromisso para quem inicia o seu percurso profissional também tem vindo a ser assumido, com salários bastante competitivos face ao mercado.”

Em 2022 mais de 40% dos novos colaboradores tinham idade inferior a 30 anos, o que demonstra este compromisso que agora foi assinado. Até 2026, mantendo-se o contexto atual, a SIBS tem como objetivo manter um nível similar ou superior.

Fonte oficial

SIBS

Mais de 40% das contratações incluem jovens até aos 30 anos e que 100% das mesmas cumprem os requisitos de salário equivalente ou superior ao nível de entrada da carreira geral de técnico superior (para as funções que obriguem a qualificações superiores). É também importante referir que a segurança laboral e estabilidade dos colaboradores é crucial para a SIBS, pelo que mais de 75% dos Jovens têm contratos sem termo, e pretende-se que este nível se mantenha ou aumente nos próximos anos”, revela fonte oficial.

Outros números que dão que pensar são os revelados pela Fundação José Neves, promotora do Pacto, aquando da sua assinatura pelas 50 companhias.

Se todas as empresas com 250 trabalhadores ou mais tivessem compromissos equivalentes aos das empresas do Pacto, estima-se que, em 2026, haja mais 13.000 jovens contratados; 8.500 jovens que permanecem nas empresas dois anos consecutivos; 2.900 jovens com ensino superior com remuneração acima do salário de entrada na carreira geral de técnico superior; 14.300 jovens com contratos sem termo e 3.200 jovens com ensino superior em funções adequadas ao seu nível de qualificação.

(Artigo atualizado com depoimento da SIBS)

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