Ar condicionado, aquecedor a óleo ou termoventilador. Qual gasta mais para aquecer a casa?

Março começou com uma redução das temperaturas a nível nacional e com isso, reavivou-se o tema da pobreza energética. Em casa, os portugueses aquecem as casas, mas qual é o equipamento mais caro?

Numa altura em que o país está a ser afetado por uma massa de ar frio, vinda do Ártico, é inevitável que as temperaturas sentidas no exterior acabem por influenciar, também, o interior das casas. Segundo um estudo levado a cabo pela Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa e a Agência de Energia do Porto, cerca de 40% dos residentes em Lisboa e no Porto admite desconforto em relação à temperatura em casa durante o inverno.

Colmatar esse desconforto térmico com o recurso aos aquecedores portáteis e/ou fixos é a alternativa mais comum, depois de as bebidas quentes e as mantas térmicas já não serem capazes de o fazer de forma eficaz. A decisão tem, naturalmente, impactos na fatura da eletricidade que, em 2023, viu os preços a sofrerem atualizações, tanto no mercado regulado como no livre.

Com isto em mente, o comparador de tarifas de energia e telecomunicações Selectra, fez as contas e partilhou-as com o Capital Verde, estimando que aquecer a casa no inverno, durante uma hora num período de 30 dias, poderá traduzir-se num acréscimo na fatura da eletricidade que varia entre os 3 e os 12 euros, sendo o ar condicionado, de forma geral, o equipamento mais barato. Os montantes, porém, variam consoante o perfil do consumidor, equipamento utilizado e tarifa contratada.

As estimativas foram feitas com base no preço de consumo, não tendo sido incluídos impostos nem o preço de potência diária, já que isso envolve todo o consumo feito por uma família durante um mês, e não só aos gastos causados pelo aquecimento, explica a Selectra.

Além disso, importa ressalvar que para fazer as contas, tudo depende das necessidades da habitação e o equipamento utilizado. Se a casa estiver mal isolada, as necessidades para aquecimento são superiores, pelo que, para manter o interior confortável, o consumo de energia também tenderá a ser superior. Este consumo, e respetivo custo com energia, é tanto maior quanto menos eficiente for o equipamento utilizado.

“De acordo com os certificados energéticos emitidos pela ADENE, mais de dois terços das casas em Portugal são de classe C, ou inferior“, alerta Pedro Silva, especialista em energia da Deco Proteste, ao Capital Verde. “Aquecer casas ineficientes é como colocar água dentro de um balde furado. Estamos a colocar energia mas ela desaparece“, alerta.

Os valores também variam consoante o tarifário que o consumidor contratou, o perfil do consumidor e em que regime se encontra, mercado livre ou regulado.

Ar condicionado pesa menos na fatura

Separando as estimativas por perfis, a Selectra analisou a realidade para uma família composta por um casal sem filhos, uma família de um casal com dois filhos e uma família composta por um casal e quatro filhos, no mercado regulado, com uma tarifa simples contratada, isto é, o valor do killowatt por hora nunca se altera, independentemente do dia ou do horário de consumo da energia.Neste cenário, é possível perceber que, em todas as situações, o aquecedor a óleo é o que pesa mais na faturas destas famílias, variando entre os 9 euros por mês nas horas de vazio, ou seja, nas horas de baixo consumo energético, no caso de um casal sem filhos e 35 euros por mês nas horas de ponta de uma família composta por seis elementos.

O mais económico, neste cenário, é o ar condicionado, ainda que no caso de uma família composta por um casal com quatro filhos, o montante extra a pagar se mantenha nos dois dígitos: entre 14 euros, nas horas de baixo consumo, e os 25 euros, nas horas de ponta.

No mercado livre, a situação para os três tipos de famílias mantém-se, ainda que, de forma geral, ligeiramente mais caro. Em todas as situações, o aquecedor a óleo agrava mais a fatura energética mensal das famílias, ao passo que o ar condicionado pesa menos.

A realidade é confirmada pela Deco Proteste. A entidade de apoio ao consumidor, alerta que para utilizações pontuais, os aquecedores portáteis podem dar resposta às necessidades de aquecimento, por serem rápidos a proporcionar uma sensação de conforto. No entanto, quando se pretende uma distribuição mais uniforme e eficaz da temperatura, os custos com um aquecedor portátil, podem não justificar o baixo custo de aquisição. Nesta situação, recomendam, é fundamental optar por equipamentos mais eficientes.

“Os aquecedores portáteis, como os termoventiladores são aparelhos bons para utilizações breves e pontuais”, explica Pedro Silva, no entanto “a prazo, colocam uma pressão sobre a fatura energética” se forem utilizados nos períodos mais frios de forma regular, alerta o porta-voz da Deco Proteste.

“No imediato, comprar um termoventilador por 20 ou 30 euros parece uma solução prática. Mas um ar condicionado, mesmo com um preço a variar entre 500 a 600 euros, permite poupanças na fatura energética a longo prazo“, explica, adiantando que “ao final de 4 ou 5 anos o investimento está pago”.

Apesar de não serem os mais económicos, os aquecedores portáteis são os equipamentos de aquecimento de eleição em Portugal. Em 2020, estavam presentes em 65% das habitações, existindo, em média, quase dois equipamentos por lar, aponta a Deco Proteste.

Como aquecer com custos menores na fatura da luz?

Apesar destes valores, existem medidas que podem reduzir as necessidades de energia da habitação. A Deco Proteste partilhou algumas com o ECO/Capital Verde.

A primeira prende-se com um reforço do isolamento térmico da envolvente da habitação. Segundo Pedro Silva, especialista em Energia da entidade de defesa do consumidor, desta forma o consumidor consegue reduzir “as trocas térmicas com o exterior, o que faz com que as temperaturas interiores se mantenham mais confortáveis, reduzindo o recurso a equipamentos”, seja para aquecimento, no inverno, ou arrefecimento, no verão.

Além desta, deve considerar substituir janelas por outras mais eficientes e colmatar fendas e fissuras, pois trazem vantagens imediatas de conforto térmico e também contribuem para um melhor isolamento acústico, aconselha a Deco Proteste. Estas soluções, naturalmente, pressupõem contudo investimentos significativos.

No inverno, a entidade sugere abrir as persianas e cortinas durante o dia para deixar a radiação solar entrar e aquecer a casa, fechando-os de noite para ajudar a conter o calor no interior, um método que deve ser aplicado ao contrário no verão — isto é, “fechar os dispositivos de proteção solar durante as horas de maior calor” — para manter o interior da casa mais fresco.

Aquecer casas ineficientes é como colocar água dentro de um balde furado. Estamos a colocar energia mas ela desaparece.

Pedro Silva, especialista em energia da Deco Proteste

“Todas estas são medidas que, com a maior ou menor investimento, permitem manter o interior da casa mais confortável de forma “passiva”, sublinha Pedro Silva, acrescentando que “ao reduzir as necessidades de energia para aquecer e arrefecer as divisões, o consumo de energia associado será menor (independentemente do equipamento utilizado), o que se traduzirá numa redução da respetiva fatura energética“. Por outro lado, acrescenta, “para manter as mesmas condições de conforto não alterando a envolvente, uma redução do consumo de energia só é conseguida através de equipamentos mais eficientes”.

Da parte da Selectra, também existem dicas, nomeadamente, fazer um uso eficiente dos aquecedores, não ultrapassando a temperatura recomendada de 21º Celsius, uma vez que “cada grau acima disso pode encarecer a fatura em cerca de 7%”.

Desligar todas as fontes de aquecimento sempre que se ausenta de casa, e antes de ir dormir, e colocar temporizadores nas tomadas elétricas para definir horas limite em que os aparelhos se podem manter ligados, também são formas de poupar na fatura mensal da luz, ao mesmo tempo que aquece a casa no inverno. Isto sem esquecer que, se optar por ligar os aparelhos de aquecimento, deve colocá-los em lugares estratégicos, “evitando colocá-los num local com demasiados objetos ao seu redor, para que estes não interfiram com a radiação”, recomenda a consultora.

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