Retalho justifica aumentos nos alimentos com subida do preço das matérias-primas

  • Joana Abrantes Gomes
  • 6 Março 2023

Associação que representa o setor do retalho alimentar recusa margens abusivas, argumentando que a subida dos custos dos fatores de produção têm impacto no preços de venda dos produtos ao consumidor.

O diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier, rejeitou esta segunda-feira que haja especulação por parte do retalho agroalimentar, afirmando que o aumento dos preços nos alimentos reflete antes a subida dos custos com a produção, o transporte e a energia.

“Não há especulação, claramente”, disse Gonçalo Lobo Xavier, em entrevista à RTP3. Dando como exemplo o aumento de preço do leite nos últimos dois meses, que foi “na ordem dos 75%”, o representante da APED explicou que as organizações vendem o leite aos retalhistas 75% mais caro e, por isso, “é muito difícil não transmitir esse preço para o consumidor“.

Gonçalo Lobo Xavier acrescentou que “o negócio do retalho alimentar é um negócio de volume, não um negócio de margem“. Com as margens médias do setor “na ordem dos 2% a 3%”, o que se passa é que tem havido “um aumento do custo dos fatores de produção, em muitas áreas, que têm impacto em muitos produtos”, reiterou.

Comentando uma notícia do Jornal de Notícias (acesso pago), que dá conta de que há alimentos básicos a ser vendidos nos supermercados portugueses acima dos valores de venda em Espanha, França ou Alemanha, o diretor-geral da APED apontou que, comparativamente com outros países, Portugal tem “energia mais cara, transporte mais caro, fertilizante mais caro, cereais mais caros, matérias-primas mais caras”, que “vão refletir no preço que a produção faz para a indústria e que depois a indústria faz para o retalho”.

Nesse sentido, defende que o setor não está a aproveitar-se da crise. “Estamos todos os dias a ser impactados por estes aumentos e estamos a tentar não passar o proporcional destes aumentos para o consumidor”, disse, reiterando ainda que “cartelização é algo que não faz parte do negócio”.

Sobre as recentes fiscalizações da ASAE a 123 supermercados, que detetaram margens brutas acima de 50%, resultando na abertura de 12 processos, Gonçalo Lobo Xavier referiu que os retalhistas estão “muito tranquilos” com qualquer inspeção. “Não (há ovelhas negras). Se compro um produto por um euro e o vendo por dois euros, a minha margem bruta é 50%. Mas e os custos que tenho associados a esse produto? E os colaboradores a quem tenho de pagar salários? E a energia que eu tenho de ter? E o investimento em frescos e em inovação?”, questionou.

Lobo Xavier considerou ainda que o setor não deverá continuar com estes preços caso baixem os preços dos cereais, dos fertilizantes e da energia. Ressalvou, no entanto, que “o ajustamento não se faz de imediato“. “Por baixarem na semana passada os preços dos combustíveis e da energia, não significa que na semana a seguir esteja a corrigir (os preços), porque os produtos que estamos a vender esta semana já foram contratualizados e comprados há mais de um mês ou dois”, explicou.

E se, no final do ano, os retalhistas apresentarem muitos lucros? “Estamos muito tranquilos em relação a isso. Portugal precisa de empresas que apresentem bons resultados, porque estamos todos a aumentar salários”, mas “a APED representa um setor, não empresas”, respondeu.

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