Cozido à portuguesa fica 21% mais caro e já custa quase 42 euros
O 'Índice Cozido à Portuguesa' serve para medir o aumento de preços alimentares em Portugal a partir de um prato típico. Preço para quatro pessoas chega a 42 euros.
A inflação não tem dado tréguas e a tendência é, sobretudo, sentida nos preços dos alimentos, o que tem vindo a pesar na fatura das famílias portuguesas na hora de ir ao supermercado. E o ‘Índice Cozido à Portuguesa’, de acordo com os cálculos do ECO, revela um aumento expressivo de preço. Uma receita para quatro pessoas está 21% mais cara face a março de 2022. O custo atual é agora de quase 42 euros, dado que alguns dos seus ingredientes principais, como a couve-coração, o arroz, a cenoura, a batata ou a lombada de porco viram os seus preços disparar entre 124% e 36%.
Em fevereiro, a inflação abrandou para 8,2%, isto é, o quarto mês consecutivo de abrandamento de preços. Contudo, a taxa de inflação dos produtos alimentares não transformados voltou a subir em fevereiro pelo terceiro mês consecutivo, fixando-se em 20,09%. É o valor mais elevado em 38 anos. Há nove meses que os preços dos alimentos estão nos dois dígitos.
Esta tendência é, aliás, sinalizada pela Deco que adianta que o cabaz de bens alimentares subiu, na última semana, para 234,84 euros, isto é, um novo recorde desde o início da monitorização (a 5 de janeiro de 2022). Se compararmos com há um ano atrás (a 16 de março de 2022) este cabaz encareceu 43,26 euros, isto é, um aumento de 22,58%. Já se a comparação for feita com o início da guerra na Ucrânia (a 23 de fevereiro de 2022) a diferença é ainda maior: encareceu 51,21 euros, o que representa um aumento de 27,89%.
Mas, afinal, quanto custa confecionar um receita de cozido à portuguesa? O ECO fez uma simulação de uma receita para quatro pessoas (250 gramas de carne e verduras por pessoa) tendo por base os dados fornecidos pela Deco e pela Associação dos Comerciantes de Carne do Concelho de Lisboa e Outros (ACCCLO). Para o efeito foram escolhidos 12 produtos: chouriço de carne, chouriço de sangue, farinheira, lombada de porco, chispe, carne de novilho, couve-coração, arroz carolino, cenoura, batata, feijão manteiga e…, claro, o sal.
Destes produtos, a couve-coração foi o produto que mais encareceu. Se há um ano custava 1,03 euros por quilo (kg), atualmente custa já 2,31 euros/kg. Contas feitas, o preço mais do que duplicou (aumentou cerca de 124%, isto é, 1,28 euros). Segue-se a cenoura, cujo preço passou de 0,79/kg para 1,29/kg (63%), o arroz carolino, que custa agora 2,11 euros/kg contra os anteriores 1,20 euros/kg (76%) e a batata vermelha, que passou de 0,88 euros/kg para 1,31 euros/kg (49%), segundo os dados da Deco.
Por sua vez, se em março de 2022 um quilo de lombada de porco custava 2,77 euros, atualmente já custa 3,78 euros, de acordo com os dados da ACCCLO. Trata-se, portanto, de um aumento de 36% (1,01 euros). Ao mesmo tempo, um quilo de carne de novilho para cozer custava há um ano 6,69 euros, estando atualmente a custar 8,07 euros (aumentou 21%, isto é, 1,38 euros), enquanto uma lata de feijão manteiga custava 1,06 euros e custa agora 1,27 euros (aumentou 20%), segundo a Deco. E para temperar não pode faltar o sal, cujo preço/kg passou de 0,39 euros para 0,46 euros (subiu 18%).
Mas a “essência” deste prato tão típico está mesmo nos enchidos e o no chispe, cujos aumentos são menos significativos. Se em março de 2022 um quilo de farinheira custava 5,78 euros, atualmente custa 6,40 euros (aumentou 11%), ao passo que o chouriço de carne passou de 7,69 euros/kg para 8,30 euros/kg (aumentou 8%). Já o chispe passou de 2,33 euros/kg para 2,49 euros/kg (aumentou 7%) e, por fim, o chouriço de sangue passou de 3,87 euros/kg para 4,06 euros/kg (aumentou 5%), adianta a ACCCLO.
Contas feitas, se há um ano confecionar um cozido à portuguesa para quatro pessoas custava 34,38 euros, atualmente o preço subiu 7,38 euros (cerca de 21%), passando a custar 41,85 euros.
Certo é que a escalada de preços na alimentação tem estado na ordem do dia. O setor do retalho assegura que “não há especulação”, mas o ministro da Economia e do Mar chegou a dizer que existe uma “divergência muito grande em alguns produtos entre os preços de aquisição e de venda ao público”, notando que isso “não é criminoso” mas “é um alerta”. Ainda assim, Costa e Silva manifestou-se contra uma eventual fixação de preços.
Para tentar controlar os preços, o Governo garante que tomará “todas as medidas” necessárias, sendo que o primeiro-ministro anunciou na quinta-feira que para a semana o Executivo vai aprovar novas medidas de apoio às famílias. O anúncio surge na semana em que o ministro das Finanças disse ser necessário recalibrar os apoios para passar a ajudar, sobretudo, os mais vulneráveis. Ainda assim, Fernando Medina já veio afastar a hipótese de, tal como Espanha, eliminar a taxa de IVA em certos produtos, justificando que isso não resolve o problema.
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