Armindo Monteiro, o empreendedor “vermelho” que vai engrossar a voz dos patrões

Benfiquista, melómano e mergulhador, Armindo Monteiro está ligado há décadas ao movimento associativo. Conheça o gestor de empresas da construção à tecnologia que vai render António Saraiva na CIP.

Ao fim de 13 anos, que corresponderam a quatro mandatos e meio, António Saraiva começa esta quinta-feira a passar a pasta de presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal a Armindo Monteiro. Candidato em lista única, este empreendedor que fez carreira nos setores das tecnologias e da construção civil, além de ter passado por várias associações empresariais, ocupa há mais de uma década uma das seis vice-presidências da mais representativa estrutura patronal do país (com mais de 150 mil empresas), em representação da ANETIE – Associação Nacional das Empresas das Tecnologias de Informação e Eletrónica.

Armindo Monteiro sucede a António Saraiva na liderança da CIPPaulo Alexandre Coelho/CIP

Licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade de Évora e pós-graduado em Estatística e Sistemas de Informação pelo ISEGI, da Universidade Nova de Lisboa, Armindo Monteiro nasceu em Paris a 18 de julho de 1967, é casado, é pai de duas filhas (Sofia e Sara) e tem na música e na prática de mergulho duas grandes paixões. Benfiquista ferrenho, concorre à liderança da CIP com um programa eleitoral que tem como título “A força da economia é a força de Portugal”, e, diz quem o conhece e como o próprio tem expressado em público nos últimos meses, promete endurecer e engrossar a voz na defesa dos empresários portugueses ao longo dos próximos anos.

“É uma pessoa muito afável e um notável empreendedor. É muito qualificado para as funções, quer como gestor, quer como dirigente associativo. Vai introduzir um cunho de maior rutura, tendo em conta as suas características pessoais e a postura mais hostil da parte do Governo. Não é que não seja um homem de consensos, mas, tendo em conta o contexto atual, pode vir a introduzir uma assertividade diferente no diálogo” com as autoridades políticas, antevê ao ECO Rafael Campos Pereira, porta-voz da indústria metalúrgica e metalomecânica, que o conhece há década e meia e com quem nos últimos anos partilhou uma das vice-presidências desta confederação patronal.

Vai introduzir um cunho de maior rutura, tendo em conta as suas características pessoais e a postura mais hostil da parte do Governo.

Rafael Campos Pereira

Porta-voz da indústria metalúrgica e metalomecânica

Conhecido pelo percurso à frente da Compta, considerada a primeira tecnológica portuguesa, fundada em 1972, que vendeu ao grupo Future em 2020, depois de mais de uma década como principal acionista e presidente executivo – dois anos depois, em dezembro do ano passado, foi declarada insolvente –, Armindo Monteiro foi ainda acionista e presidente da tecnológica Softline entre 1994 e 2010. Ano em que passou a ser dono e CEO do Grupo Levon, em que estão envolvidos também a mulher e o irmão, e que desenvolve a sua atividade nas áreas da construção civil e obras públicas, infraestruturas, ambiente, logística, tecnologias de informação e gestão imobiliária. Tem sede em Lisboa e detém empresas em Angola, Namíbia, Bolívia e Colômbia.

José Dionísio, cofundador da histórica Primavera, maior fabricante portuguesa de software de gestão, “[lembra-se] de o ver a liderar a Compta, uma empresa pequena e que ele fez crescer”, descrevendo-o como “uma pessoa que conhece bem o mundo empresarial e, acima de tudo, teve uma excelente preparação” nos anos que leva na direção da CIP, sendo “um sucessor natural” de António Saraiva. “Tem todas as condições para poder assumir o papel principal na organização. É uma pessoa que se dedicou [ao associativismo], deixando até de lado os seus interesses mais empresariais”, acrescenta o empresário de Braga, que em 2021 vendeu a Primavera ao fundo de capital de risco Oakley Capital.

Lembro-me de o ver a liderar a Compta, uma empresa pequena e que ele fez crescer. É uma pessoa que conhece bem o mundo empresarial e, acima de tudo, teve uma excelente preparação na CIP.

José Dionísio

Cofundador da Primavera Software

Em paralelo com a vida empresarial, teve sempre uma participação ativa no movimento associativo nacional. Foi presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários e da ANETIE (2010-2013), vice-presidente da CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, da AIP – Associação Industrial Portuguesa e do Yes for Europe – Confederação Europeia de Jovens Empresários. Membro do Conselho Económico e Social (CES), ocupou também a presidência do Conselho Geral da Universidade de Évora, onde se formou.

O líder da indústria portuguesa do têxtil e vestuário, Mário Jorge Machado, fala de “uma pessoa muito assertiva e que tem uma forma de raciocinar limpa e escorreita”. Elogia António Saraiva por ter “dado a cara e sido muito injuriado” na defesa dos empresários nacionais – “é um lugar muito ingrato porque há uma vasta proporção da população que injuria quem é empresário e empreendedor, e cria emprego” –, mas antecipa que Monteiro vá querer “deixar a sua marca e mostrar a sua forma de estar”. “E é natural que queira fazer as coisas de uma maneira diferente”, acrescenta o líder da ATP.

Vai querer deixar a sua marca e mostrar a sua forma de estar. É natural que queira fazer as coisas de uma maneira diferente de António Saraiva.

Mário Jorge Machado

Presidente da ATP (têxtil e vestuário)

Ora, um dos primeiros dossiês que o novo líder da CIP vai atacar, depois de oficialmente tomar posse a 12 de abril, é o da eventual renegociação do Acordo de Rendimentos e Competitividade, celebrado no final do ano passado com outras estruturas patronais e sindicais. Que considera ter ficado ferido com a aprovação no Parlamento da chamada Agenda do Trabalho Digno, que esta quarta-feira descreveu à Rádio Observador como “uma calçadeira para fazer alterações laborais” à margem da concertação social.

“Não houve nenhuma força política que tenha ousado ter uma posição de defesa e de preocupação com a situação das empresas em Portugal. É muito perigoso quando nenhuma força política entende que rende votos colocar-se ao lado da iniciativa privada, de quem cria emprego em Portugal. (…) Nenhuma força política tem um discurso claramente a favor das empresas”, lamenta Monteiro, dramatizando que o país “não [pode] continuar a viver à sombra de um Estado omnipresente, omnipotente e com pés de barro” – e que “apenas põe na agenda a distribuição de riqueza, e não a sua criação”.

É muito perigoso quando nenhuma força política entende que rende votos colocar-se ao lado da iniciativa privada, de quem cria emprego em Portugal.

Armindo Monteiro

Novo presidente da CIP

Devem os empresários fazer-se ouvir e “ir para a rua”, como referiu há dias Filipe de Botton, presidente e CEO da Logoplaste? “A nossa forma de nos manifestarmos não é ir para a rua, mas denunciar a falta de apoio que existe para a iniciativa privada em Portugal. Não podemos viver todos numa sociedade de Função Pública, dentro de uma bolha que o Estado cria de tudo limitar, de em tudo se envolver”, respondeu Armindo Monteiro, aos microfones da mesma rádio.

No programa eleitoral à presidência da CIP – deverá mudar a sigla para CEP, na sequência da mais recente alteração dos estatutos, que passou também a permitir aceitar como associadas empresas com mais de 30 milhões de euros de faturação –, o novo “patrão dos patrões” elege quatro prioridades: estimular o aumento da produtividade para uma nova ambição no crescimento, defender um Estado eficiente ao serviço do desenvolvimento económico e social; reforçar e federar o movimento associativo; e ter uma organização ágil, aberta e eficaz.

Programa eleitoral da CIP para o mandato 2023-2027

 

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