Como maximizar a época de dividendos
Correr atrás dos dividendos à procura de um ganho imediato resulta apenas numa ilusão de ganhos que pode sair caro na carteira dos pequenos investidores.
Os dividendos são um elemento importante na estratégia de qualquer investidor. Mas isso não significa que a melhor opção passe por correr atrás das empresas que transacionam com as taxas de dividendos mais elevadas, sobretudo no caso dos pequenos investidores.
É frequente depararmo-nos com livros, análises e trabalhos académicos que mostram o impacto dos dividendos distribuídos pelas empresas numa carteira de investimento.
Recentemente, Daniel Prince, analista financeiro da iShares, revelou que, desde 1926, cerca de um terço dos ganhos gerados pelas empresas do índice S&P 500 foi gerado pelos dividendos. Mas não só: segundo os seus cálculos, o impacto dos dividendos numa carteira de ações norte-americanas chega a ultrapassar os 50% durante décadas marcadas por um ambiente de subida das taxas de juro, abrandamento económico e instabilidade política – uma “receita” do momento que vivemos atualmente.
Na maioria destes cálculos, como sucede na avaliação de Daniel, os resultados assumem que os dividendos foram reinvestidos ao longo do tempo na aquisição de mais ações que pagam os dividendos. Esta condição pode parecer uma simples “nota de rodapé”, mas tem um efeito tremendo nos resultados, porque o que os investidores fazem é tirar partido do efeito de capitalização dos dividendos.
Além disso, na maioria (se não todos) destes estudos não é contabilizado o efeito da tributação sobre os dividendos. E isso também tem um impacto enorme, sobretudo em Portugal, em que a tributação sobre dividendos recebidos por particulares é aplicada através de uma taxa liberatória de 28%, que poderá ser bem superior se o investidor receber dividendos de empresas estrangeiras e ser alvo de uma dupla tributação dos rendimentos.
Os investidores que encaram os dividendos como uma forma de entrar numa ação com o objetivo único de obterem um rendimento no curto prazo, apenas estão a ter uma ilusão de ganhos.
É isso que sucede, por exemplo, com os acionistas da EDP Renováveis EDPR 0,00% que não solicitarem junto do seu intermediário financeiro a convenção assinada em 1968 por Portugal e Espanha para evitar a dupla tributação de rendimentos ou o crédito de imposto, quando estiverem a preencher a declaração de IRS.
Como a EDP Renováveis está sediada em Espanha, cada vez que a empresa distribui dividendos, antes de o dinheiro cair na conta dos seus acionistas nacionais é sujeito à tributação em Espanha a uma taxa de 19% e em Portugal à taxa liberatória de 28%. Rapidamente os pequenos acionistas, se nada fizerem, vêm os seus dividendos emagrecer 47%.
Na Bolsa, o impacto fiscal sobre os dividendos é traduzido numa correção na cotação das ações na dimensão da taxa de dividendo no dia em que os títulos passam a transacionar sem conferir o direito ao seu detentor de receber o dividendo (conhecido como o dia de ex-dividend ou ex-data).
Para os pequenos acionistas, este “desconto” não teria qualquer influência na carteira caso o valor do dividendo fosse também contabilizado na sua conta bancária pelo valor bruto. Algo que não acontece porque esses rendimentos estão sujeitos à aplicação de uma taxa de imposto de 28%.
Significa que os investidores que encaram os dividendos como uma forma de entrar numa ação com o objetivo único de obterem um rendimento no curto prazo, apenas estão a ter uma ilusão de ganhos, porque os dividendos que recebem na sua conta são rapidamente absorvidos por três efeitos:
- Tributação do Fisco à taxa liberatória de 28% (se bem que optando pelo englobamento, no caso dos dividendos pagos por intermediários financeiros nacionais, apenas 50% dos rendimentos recebidos é que ficam sujeitos à tributação).
- Comissão de negociação cobrada pelo intermediário financeiro sobre a distribuição dos dividendos, que pode ter um limite mínimo e máximo, sendo calculado com base numa percentagem sobre o valor dos dividendos. A comissão pode incluir despesas de porte e expediente.
- Correção da cotação da ação na proporção da taxa de dividendo no dia em que as ações perdem o direito ao recebimento do dividendo (ex-dividend).
Porém, para os investidores de longo prazo que estejam mais interessados em comprar ações com desconto, o período de distribuição de dividendos é uma oportunidade de ouro para fazer bons negócios.
Para isso só têm de comprar os títulos da empresa que têm debaixo de olho no dia de ex-dividend. Desta forma, estarão a perder o direito ao dividendo, mas a comprar as ações a um preço mais baixo que no dia anterior.
É o que sucederá a quem quiser comprar ações de 14 das 16 empresas que constituem o PSI e que já anunciaram a pretensão de distribuir dividendos pelos seus acionistas (apenas o BCP e a Greenvolt não pagam dividendos). A determinação do dia do pagamento dos dividendos está pendente de aprovação em assembleia-geral.
Na mira dos dividendos
Ao apostar em ações que distribuem dividendos, os investidores têm a certeza de duas coisas: vão obter um rendimento imediato do investimento realizado e a empresa em que apostam está a “fazer dinheiro”.
É por isso percebível que os investidores procurem aplicar as suas poupanças em empresas pagadoras de dividendos. Mas há formas mais eficazes de potenciar o seu investimento do que correndo à Bolsa a comprar as ações para receber os dividendos. E a melhor opção à disposição dos pequenos investidores para tirar partido dos dividendos é oferecida pelos fundos de investimento internacionais e pelos fundos cotados (exchange traded-funds – ETF) de acumulação.
Estes fundos, como o nome indica, acumulam os dividendos recebidos das suas participações acionistas e voltam a reinvesti-los na compra de mais ações. Produtos como o iShares Core High Dividend ETF e o Vanguard High Dividend Yield Index ETF, por exemplo, têm duas vantagens para os pequenos investidores:
- Tributação nula: como estão normalmente sediados em países como Luxemburgo e Irlanda que conferem uma lei fiscal que isenta ou aplica uma taxa de imposto muito baixa sobre os rendimentos gerados pelos fundos, estes produtos beneficiam fiscalmente da geração de rendimentos, recebendo o dividendo pelo seu valor bruto.
- Capitalização dos dividendos: por terem uma política de investimento que passa pela acumulação dos rendimentos gerados no seio dos fundos, os dividendos recebidos (assim como as mais-valias geradas da veda de participações) são reinvestidos na aquisição de mais ações, beneficiando os seus subscritores do efeito da capitalização dos dividendos e dos restantes rendimentos que possam gerar.
Para os participantes destes fundos, a vantagem fiscal que beneficiam é bastante relevante, porque desta forma só têm de contar com a tributação à saída sobre as mais-valias, quando resgatarem as unidades de participação do fundo.
Num investimento a 10 anos, assumindo uma valorização média anual do mercado de 7% e uma taxa de dividendo média por ano de 3%, e a capitalização dos dividendos ao longo dos anos, a diferença entre investir num fundo de acumulação e o investimento a título particular ou por via de um fundo de distribuição é de 13% – e será tanto maior quanto mais elevada for a taxa de dividendo.
Texto incluído na edição de 3 abril do Portefólio Perfeito que pode subscrever através deste link.
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