Fábricas de componentes para automóveis aliciam investidores sul-coreanos
Na Coreia do Sul, onde António Costa esteve em viagem oficial, fornecedores portugueses namoram investimentos industriais e tentam “casar” com construtoras Hyundai e Kia, que têm fábricas na Europa.
Os fornecedores de componentes para a indústria automóvel têm um novo alvo no continente asiático. Com os clientes europeus a absorverem atualmente 87% da produção nacional, com destaque para Espanha, Alemanha e França, os fabricantes portugueses estão a tentar convencer as marcas e os investidores da Coreia do Sul a aproveitarem o país como “porta de entrada para a Europa”.
Em declarações ao ECO, o secretário-geral da associação do setor (AFIA), Adão Ferreira, detalha que os esforços de promoção estão concentrados em mostrar a capacidade fabril instalada no país e apresentá-lo como um destino para “investirem industrialmente na área de componentes, mas também em centros de desenvolvimento e engenharia, nomeadamente no segmento dos veículos elétricos e da mobilidade do futuro”.
Outra operação em curso no país que o primeiro-ministro, António Costa, visitou esta semana – um dos objetivos confessados passou por atrair igualmente a produção de semicondutores – visa “aprofundar o relacionamento” com os construtores de automóveis coreanos. É o caso da Hyundai, que no ano passado produziu cerca de quatro milhões de automóveis; e da Kia, que em 2022 fabricou 2,8 milhões de viaturas a nível global.
A ideia é os coreanos virem para aqui investir industrialmente na área de componentes, mas também em centros de desenvolvimento e engenharia, nomeadamente no segmento dos veículos elétricos e da mobilidade do futuro.
“Ambas têm fábricas na Europa [a Hyundai na República Checa e na Turquia, com 530 mil carros; a Kia na Eslováquia com 311 mil] e a ideia é mostrar que Portugal pode ser um bom parceiro e que podemos fornecer a partir de Portugal para as unidades europeias delas. Temos feito há alguns anos esse trabalho de identificar oportunidades para a indústria portuguesa fornecer essas fábricas, e estamos agora a intensificar esta relação”, resume ao ECO o porta-voz da AFIA.
Do total de 360 empresas que atuam neste setor em Portugal e que empregam diretamente 62 mil pessoas, cerca de 38% têm maioritariamente capital estrangeiro. Entre as investidoras sul-coreanas, há três “bons exemplos a mostrar” nesta missão: a Borgstena, que produz têxteis para automóveis em Nelas (distrito de Viseu); a Hanon Systems que fabrica compressores mecânicos e elétricos para sistemas de ar condicionado em Palmela (Setúbal); e a Amkor, que em 2017 ficou com as antigas instalações da Qimonda em Vila do Conde (Porto) e é uma das maiores fornecedoras mundiais de serviços de embalagem e teste de semicondutores.
Distribuição geográfica das empresas do setor
A Coreia do Sul é atualmente o 17º país cliente da indústria portuguesa de componentes para automóveis, com a China a ocupar a posição seguinte no ranking. Em conjunto, contabiliza a AFIA, o continente asiático representa 2,5% das exportações nacionais. E uma das primeiras missões empresariais para aumentar esta quota foi concretizada no mês passado com a inédita participação com um stand institucional na InterBattery 2023, em Seul, considerada a principal montra de produtos e tecnologias ligadas à indústria de baterias, em colaboração com a AICEP e em parceria com a Mobinov.
Em 2022, o volume de negócios desta indústria aumentou 6,7% em termos homólogos, para 12 mil milhões de euros – a exportação pesa 80% do total –, desta forma superando ligeiramente o anterior máximo, atingido no ano anterior à pandemia (2019). Por atividade, o maior contributo para a faturação é dado pelos subsetores elétrico / eletrónico e da metalurgia e metalomecânica, ambos com 32%, seguidos dos plásticos, borrachas e outros compósitos (20%) e dos têxteis e outros revestimentos (9%).
Indústria de componentes vs. produção automóvel na Europa
A AFIA calcula que 98% dos modelos automóveis produzidos na Europa têm componentes made in Portugal. No contexto português reclama que, em média, remunera os trabalhadores 14% acima da restante indústria transformadora, e que a produtividade fica também 16% acima da média nacional. Na comparação internacional recorre aos dados evolutivos entre 2015 e 2021, em que diz ter crescido a uma taxa de 4,2% ao ano, face ao decréscimo médio anual de 4,4% da produção automóvel na Europa.
“Isto quer dizer que a indústria portuguesa de componentes está a ganhar quota de mercado. Estão a produzir-se menos veículos, mas nós estamos a aumentar o nosso volume. É um sinal de competitividade e de resiliência da nossa indústria. Este é um bom chamariz e é isso que estamos a vender à Coreia do Sul. Portugal não compete só pelos custos, mas pela sua competência e qualidade”, conclui Adão Ferreira.
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