Presidente da Colômbia apela à demissão do seu Governo de coligação
Gustavo Petro tenta, com dificuldade, adotar diversos projetos-lei, em particular uma reforma do sistema de saúde, a redistribuição das terras e da reforma agrária.
O Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, apelou esta quarta-feira à demissão do seu Governo de coligação, após a oposição dos partidos tradicionais aos seus projetos-lei, desencadeando uma crise política inédita desde a chegada ao poder há nove meses.
Este pedido, confirmado à agência noticiosa AFP por altos responsáveis que pediram anonimato, não foi oficializado por Petro, o primeiro Presidente de esquerda da Colômbia. Na terça-feira, no Twitter, tinha já evocado a necessidade de “remodelar o Governo”. No poder deste 7 de agosto, Gustavo Petro – eleito com a promessa de uma “mudança” – tenta com dificuldade adotar diversos projetos-lei, em particular uma reforma do sistema de saúde que originou tensões na sua coligação governamental devido à oposição dos centristas e da direita.
“Apesar do voto maioritário nas urnas que apelava à mudança na Colômbia, o Governo tenta impedi-la através da ameaça e do sectarismo. Semelhante situação leva-nos a repensar o Governo”, assinalou. A crise política instalou-se há algumas semanas, tendo como catalisador esta reforma da saúde. O partido liberal, o partido conservador e a U (centrista) – que integram a coligação governamental – opuseram-se de novo na terça-feira a este projeto-lei e ameaçaram expulsar das suas fileiras os deputados que votem a seu favor.
No mesmo dia, o Congresso bloqueou em comissão uma outra proposta de lei sobre a sensível questão da redistribuição das terras e da reforma agrária, suscitando uma forte reação crítica do Presidente Petro. O Presidente já defendeu nas suas tomadas de posição um “governo de emergência pelo facto de o Congresso não ter capacidade de aprovar artigos simples e muito pacíficos” sobre uma distribuição justa das terras.
Ao início da tarde desta quarta, nenhum ministro tinha apresentado oficialmente a demissão, precisou a AFP. O primeiro Executivo formado pelo Presidente de esquerda assenta numa coligação aberta ao centro, à direita moderada e ao mundo universitário. As decisivas pastas da Defesa, Interior, Finanças ou Negócios Estrangeiros foram confiadas a figuras que não são provenientes do “Pacto histórico”, a aliança de esquerda que colocou Petro no poder.
Após a sua chegada à presidência, teve de enfrentar diversas demissões e, no final de fevereiro, afastou três dos seus ministros, incluindo o centrista Alejandro Gaviria, que assumia a pasta da Educação e permanecia muito crítico face à reforma do sistema de saúde. Diversos media perspetivam uma viragem à esquerda na política colombiana, enquanto vários responsáveis políticos, incluindo o presidente do Congresso (Parlamento), Roy Barreras, manifestaram receio de uma “crise sem precedentes” no país, com “alterações que vão agravar a incerteza”.
Em 15 de fevereiro, Gustavo Petro pediu aos seus apoiantes que se manifestassem nas ruas em apoio às suas reformas, e a partir do palácio presidencial, a Casa del Nariño, advertiu que iria continuar a apelar aos protestos até à concretização da “mudança”.
Para além do bloqueio pelo Congresso de diversos dos seus projetos-lei, Petro também regista dificuldades em aplicar o seu plano de “paz total”, para pôr termo em definitivo aos conflitos armados no país. No período em que dirigiu a câmara municipal de Bogotá (2012-2015), Petro também se confrontou com alterações constantes na sua equipa, devido a diversas demissões.
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