Lucros dos bancos crescem com subida dos juros no crédito e baixas taxas nos depósitos
Santander, Novobanco e Montepio tiveram lucros de quase 370 milhões de euros no primeiro trimestre. Resultados beneficiaram em grande medida do aumento da margem de juros entre crédito e depósitos.
Os lucros dos bancos estão a ser beneficiados pelas altas taxas de juro nos empréstimos e lenta subida nos depósitos, segundo analistas contactados pela Lusa, que avisam para o risco de algum crescimento a médio prazo do crédito problemático.
Na semana passada, Santander Totta, Novobanco e Montepio já apresentaram resultados e os lucros cresceram, alicerçados sobretudo na subida da margem financeira (a diferença entre os juros pagos nos depósitos e os juros cobrados no crédito).
Segundo o Banco de Portugal, em fevereiro, a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu para 3,52% e a taxa de juro média dos empréstimos às empresas avançou para 4,77%. Já nos depósitos, a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo de particulares aumentou para 0,65% e nas empresas subiu para 1,50%.
“Neste momento, o que está a acontecer é que as taxas de juro dos depósitos estão muito baixas face às taxas de juro dos empréstimos. A margem do banco fica enorme e por isso os bancos estão a aumentar muito os seus lucros dada a discrepância”, afirmou à Lusa o analista Vítor Madeira, da corretora XTB.
Por outro lado, o aumento da taxa de juro faz com que “cada vez mais haja pressão sobre as pessoas e podem não conseguir cumprir as obrigações de crédito, quer famílias quer empresas”, o que significa um risco para o balanço dos bancos.
A eventual materialização deste risco (os clientes não conseguirem pagar créditos) ainda demora, avisou, pois os efeitos na economia demoram alguns meses a acontecer. Também depende da evolução da economia se famílias e empresas vão aguentar, sobretudo do desemprego.
No próximo dia 4, é esperado que o Banco Central Europeu (BCE) suba novamente as taxas de juros de referência, podendo chegar a 4%, e volte a subir em junho. E se a “inflação continuar alta, o BCE pode decidir subir mais, o que asfixia as famílias e há maior probabilidade de as pessoas não conseguirem cumprir com as obrigações ao banco”, disse.
O presidente da consultora financeira Informação de Mercados Financeiros (IMF), Filipe Garcia, minimiza que a subida das taxas de juro venha a ter muito impacto no crédito à habitação.
Filipe Garcia admite que há famílias que não conseguirão pagar os créditos, mas considera que, genericamente, quem aguentou até agora deverá aguentar até pois prevê estabilização das taxas de juro diretoras do BCE (analistas têm falado na barreira dos 5%), isto salvo situações mais grave do ponto de vista pessoal como desemprego.
Contudo, do ponto de vista macro, o crédito à habitação não deverá ser um problema para os bancos (o problema maior podem ser os novos créditos, com dívidas mais altas, mas aí o colateral — a casa — também vale mais).
“Onde o risco é maior é nas empresas”, considerou, explicando que a subida das taxas de juro e eventual desaceleração económica em alguns setores pode pôr muitas empresas aflitas.
Filipe Garcia afirmou que já se nota os bancos cautelosos no crédito a empresas e que isso pode ter efeitos na economia a médio prazo por queda do investimento.
“A subida das taxas de juro é benéfica porque aumenta a receita, mas aumenta igualmente risco da carteira de crédito”, afirmou, por seu lado, o analista da ActivTrades Mário Martins.
O analista recordou os recentes anos de taxas de juro em zero, em que os bancos estavam limitados aos lucros do ‘spread’. Agora, “voltam a ser beneficiados de serem remunerados além do ‘spread’, pela globalidade da taxa de juro de referência mais o spread.
Já sobre eventuais riscos da carteira de crédito, admitiu que aumentam à medida que aumentarem as taxas de juro e também pela evolução da economia. Contudo, para já o cenário central não é de agravamento significativo do crédito problemático, o que é visível nos níveis de constituição de imparidades e provisões, que continuam semelhantes aos que vinham sendo feitos, considerando o analista que a situação da banca “não é de fragilidade” por esta via para já.
O Novobanco teve lucros de 148,4 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, com a margem financeira a crescer 85% para 246,3 milhões de euros, um aumento que o banco disse ter sido ajudado pelo “ambiente favorável” das taxas de juro com efeitos na carteira de crédito, pois esta é “maioritariamente indexada à taxa de juro variável”. Assim, a melhoria da taxa de juro média dos ativos “superou o aumento do custo de financiamento”, nomeadamente depósitos.
Ainda antes de estes resultados serem conhecidos, numa análise, a agência de rating Moody’s disse esperar que o banco se mantenha lucrativo este ano, beneficiando de taxas de juro mais elevadas no crédito enquanto o custo do financiamento cresce de modo mais moderado, e que isso irá “compensar as pressões negativas decorrentes da alta inflação nos custos operativos e o maior custo do risco”, devido, sobretudo, a eventual subida de crédito malparado.
O Santander Totta teve lucros de 185,9 milhões de euros, mais 19,6% face ao primeiro trimestre de 2022, com a margem financeira a crescer 38,1% para 267,7 milhões de euros. O banco admitiu que essa melhoria reflete “as medidas de política monetária implementadas pelo BCE desde julho de 2022 em termos de subida das taxas de juro de referência”, mas também diz que se manteve “um contexto concorrencial bastante competitivo, que continuou a pressionar em baixa os spreads de crédito”.
Já o Banco Montepio teve lucros de 35,3 milhões de euros no primeiro trimestre de 2023, mais do triplo face aos 11,4 milhões de euros do mesmo período de 2022, tendo a margem financeira crescido 70,4% para 90,2 milhões de euros.
BCP, Caixa Geral de Depósitos (CGD) e BPI apresentarão em maio os resultados do primeiro trimestre.
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