Bancos nacionais ganham 9,5 vezes mais que bancos europeus com subida das taxas de juro
Desde o verão, quando o BCE começou a subir as taxas de juro, a margem financeira da banca portuguesa subiu 142 pontos base. A margem financeira média dos bancos europeus subiu apenas 15 pontos base.
A galopante subida das taxas de juro por parte do Banco Central Europeu (BCE) desde o verão do ano passado tem afetado os agentes económicos de forma distinta.
Enquanto o incremento de 350 pontos base das taxas diretoras do BCE desde julho tem pressionado duramente os orçamentos das famílias e das empresas com créditos bancários, como resultado do aumento das prestações dos empréstimos, os bancos têm beneficiado com a política do BCE.
Segundo o “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito” do Banco de Portugal, publicado na terça-feira, “as decisões sobre as taxas de juro do BCE contribuíram, tanto em Portugal como na área do euro, para um aumento da rendibilidade global dos bancos, entre outubro de 2022 e março de 2023.”
O Banco de Portugal revela que isso é visível pelo aumento da margem financeira (diferença entre os juros pagos dos depósitos e os juros recebidos dos contratos de crédito) que, nos cinco anos anteriores ao início do ciclo de subida das taxas de juro diretoras, foi responsável por 65% do rendimento operacional líquido dos bancos em Portugal e 57% no caso dos bancos da área.
No entanto, há diferenças significativas na forma como a subida das taxas de juro impactou as margens financeiras dos bancos nacionais e europeus.
De acordo com dados da entidade liderada por Mário Centeno, entre junho de 2022 e fevereiro de 2023, “a diferença entre a taxa de juro dos empréstimos e a taxa de juro dos depósitos a prazo calculada com as taxas de juro dos saldos do setor privado não financeiro aumentou 142 pontos base em Portugal e 15 pontos base na área do euro”.
Significa que a margem financeira dos bancos portugueses aumentou 9,5 vezes mais do que a margem financeira da média dos bancos europeus.
O regulador explica que “o maior aumento desta diferença em Portugal reflete os prazos mais curtos de fixação das taxas de juro dos empréstimos, assim como a maior rigidez das taxas de juro dos depósitos.”
Isso é bem visível quando se observa a evolução das duas taxas de juro aplicadas no crédito à habitação e nos depósitos juntos das famílias neste período:
- Crédito à habitação: a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação aumentou 269 pontos base, passando de 0,87% em junho para 3,56% em fevereiro.
- Depósitos: a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo de particulares aumentou apenas 58 pontos base, passando de 0,07% em junho para 0,65% em fevereiro deste ano.
Bancos vão continuar a beneficiar da política do BCE
Depois de seis aumentos consecutivos no preço do Euro, esta quarta-feira o BCE prepara-se para subir mais uma vez as taxas diretoras.
De acordo com um recente inquérito da Reuters junto de 69 analistas, 57 dos especialistas antecipam que o Comité de Política Monetária do BCE anuncie esta tarde um aumento de 25 pontos base e 12 preveem mesmo uma subida de 50 pontos base. E poderá não ficar por aqui.
Alguns analistas antecipam ainda outra subida de 25 pontos base em junho, para depois o BCE manter as taxas diretoras inalteradas por algum tempo, até começar a baixá-las no final do ano ou somente em 2024.
Para a margem financeira dos bancos, estas notícias são bem-vindas. Não será por acaso que a maioria dos bancos que responderam ao “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito” antecipam que, nos próximos seis meses, a política monetária do BCE continue a impactar positivamente os níveis de rendibilidade das suas operações.
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