Espanhóis da CAF prometem fábrica em Portugal caso vendam comboios à CP

Os três candidatos finais entregaram a última proposta para venda de 117 novas automotoras elétricas à CP. Construção de fábrica é valorizada nos critérios de pontuação.

Os franceses da Alstom, os espanhóis da CAF e os suíços da Stadler foram as três empresas que chegaram à última etapa do concurso para a venda dos 117 novos comboios à CP, por 819 milhões de euros. Franceses e suíços já tinham admitido a construção de uma fábrica para a produção das novas unidades em solo português. Os espanhóis admitiram pela primeira vez que também estão disponíveis para construir instalações fabris. O anúncio foi feito dois dias depois de terem sido entregues as propostas finais do concurso, cujos resultados serão conhecidos ainda neste semestre.

“A CAF é um dos concorrentes que apresentou uma proposta final na terça-feira para os 117 novos comboios. A fabricação nacional tem uma componente muito importante na validação das propostas. O concorrente que quiser ganhar vai ter que fabricar [os comboios] em Portugal. Nós apresentámos uma proposta para ganhar este concurso“, assumiu Mário Vieira, responsável da CAF para o mercado internacional, durante a cimeira ferroviária Portugal Railway Summit, no Entroncamento. A construção de uma fábrica é um dos critérios valorizado no concurso.

A empresa proveniente do País Basco não se compromete, contudo, com números de empregos criados nem com a localização concreta da fábrica, que apenas será construída se ganhar o concurso. “Será uma fábrica que terá os recursos humanos suficientes para produzir os 117 novos comboios”, refere Mário Vieira. A construir, a CAF compromete-se a manter a unidade a funcionar pelo menos até 2030 e, sobretudo, com funções de montagem do comboio.

A Alstom reforçou o compromisso para a construção de uma fábrica de comboios em Matosinhos. Prometem criar 300 empregos diretos e ajudar mais de 1.700 estudantes do ensino superior, segundo informação adiantada pelo ECO há duas semanas. “A nossa intenção é fabricar o comboio a 100% em Portugal. Vamos contar com os nossos habituais fornecedores”, referiu Marcos Pereira, elemento da Alstom. A empresa francesa desde a primeira fase que concorre em consórcio com a portuguesa DST.

Os suíços da Stadler não adiantaram mais detalhes sobre a proposta para a construção da fábrica, em parceria com o grupo Salvador Caetano, no concelho de Ovar. Assumem, no entanto, a vontade de ficar em Portugal no longo prazo e para lá da produção das 117 novas automotoras: “Não procuramos um parceiro industrial como a Salvador Caetano para logo a seguir fecharmos e irmos embora”, referiu Roman Blásquez, diretor de vendas da fábrica da Stadler em Valência.

A empresa suíça vai fornecer os 22 novos comboios regionais à CP a partir de outubro de 2025, quatro anos depois da entrada em vigor do contrato. A companhia assume que “os prazos de entrega não costumam ser dilatados” e alega que a sinalização é a “principal dificuldade” para que as unidades cheguem mais cedo aos carris nacionais.

Todos os novos comboios que vão chegar a Portugal estão equipados com o sistema de segurança europeu ETCS. No entanto, o sistema instalado nas linhas de comboio em Portugal é o Convel, desenvolvido na década de 1990. Sem “tradutor”, designado de STM, os novos comboios não iriam conseguir ler os sinais transmitidos pelas balizas do Convel instaladas em mais de 1.500 dos 2.562 quilómetros da rede ferroviária nacional. A Stadler é uma das empresas que pertence ao consórcio que vai tentar responder a este problema – a Alstom está a desenvolver uma solução independente, o Convel Dual.

Fora do concurso antes da fase final ficou a Siemens, que apresentou uma proposta conjunta com a Talgo. “Tivemos dificuldade em alguns critérios do caderno de encargos, como a revisão de preços. A guerra na Ucrânia tinha começado há pouco tempo e havia uma inflação que estava numa taxa muito elevada. Identificado o risco, estávamos convencidos que não havia concorrentes com tanta coragem, como o demonstraram, para um contrato com estas características”, assumiu Luís Candeias, líder da Siemens Mobility para o mercado português. A empresa alemã ficou de fora do concurso porque propôs um orçamento 300 milhões de euros acima do preço-base, escreveu em janeiro o jornal Público.

O vencedor dos 117 novos comboios será conhecido ainda neste semestre. As novas unidades serão exclusivamente elétricas e serão usadas nos serviços regionais (55 automotoras) e suburbanos (62 automotoras). As primeiras entregas começarão em 2026.

No serviço suburbano, a Linha de Cascais será contemplada com 34 unidades, substituindo as composições das séries 3150 e 3250, modernizadas no final da década de 1990 mas com carroçaria originária dos anos 1950. Outras 16 automotoras vão reforçar a operação nas linhas de Sintra, Azambuja e Sado; haverá ainda 12 automotoras para reforçar os serviços urbanos do Porto. Haverá ainda a opção para encomendar, até 2028, mais 24 composições para a Grande Lisboa e outras 12 para o Grande Porto.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Espanhóis da CAF prometem fábrica em Portugal caso vendam comboios à CP

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião