“É importante” política pública que crie condições para salários atrativos

  • Lusa
  • 9 Maio 2023

Ana Figueiredo, CEO da Altice, defende a necessidade de se criar maior competitividade fiscal, para as empresas poderem pagar melhores salários aos trabalhadores.

A presidente executiva (CEO) da Altice Portugal defendeu hoje que é “importante” em termos de políticas públicas, na componente fiscal, serem criadas “condições” para que salário que a emprega paga seja “atrativo” para os colaboradores.

Ana Figueiredo falava à agência Lusa no final do debate organizado pela Lusa, em parceria com a COTEC Portugal, que decorreu na sede da agência de notícias em Lisboa, subordinado ao tema atrair e reter melhores talentos.

“Além do papel que as empresas estão a fazer, têm que fazer, têm que continuar a fazer mais e melhor, acho que é importante do ponto de vista de políticas públicas, nomeadamente na componente fiscal, nós criarmos as condições para que o salário que a empresa paga seja líquido, seja percetível como um atrativo e como uma compensação equitativa para os colaboradores“, acrescentou a gestora, que assumiu há pouco mais de um ano a liderança da dona da Meo.

Durante o debate, a componente fiscal foi abordada, com o CEO da Corticeira Amorim a defender que o próximo Orçamento do Estado deve prever medidas para reter talento.

“Discutimos aqui algumas ideias, algumas ferramentas que possam ser feitas nessa matéria para, no fundo, criar maior competitividade fiscal, para as empresas poderem obviamente pagar melhores salários e para que esse melhor salário também seja traduzido numa melhoria da riqueza para os portugueses”, salientou a gestora.

“É importante que o tecido empresarial aposte numa cultura de inovação, é a cultura de inovação numa empresa que vai permitir que essa empresa, no fundo, construa vantagens competitivas, que permaneça competitiva, que possa crescer e, no fundo desenvolver e no final, até internacionalizar-se a partir de Portugal”, salientou, referindo que isso tem sido o “mantra” da Altice.

Na componente inovação, “é fundamental o talento humano” e Portugal tem “ferramentas ótimas” como escolas, universidades “para a criação de talento que possa depois ser utilizado pelas empresas”, apontou Ana Figueiredo.

“Temos que trabalhar empresas para a retenção desse talento em termos de atribuição e disponibilização de políticas salariais que sejam competitivas, não só com mais empresas portuguesas”, porque hoje em dia a concorrência é global para essa atração de talento, prosseguiu.

Por isso, “é fundamental termos salários competitivos e nessa matéria, as grandes empresas têm feito um papel fundamental, porque quando comparamos o salário médio de uma grande empresa” com o restante tecido empresarial, “pagamos cerca de 2 a 2,5 vezes acima daquilo que é a média. E isso leva depois à contaminação positiva pelo resto do tecido empresarial”, referiu.

A CEO da Altice Portugal defendeu que “estabilidade e previsibilidade regulatória e não alterar as regras do jogo” é “importante para qualquer empresa”. Para a indústria onde a Altice opera, isso é fundamental.

“Investimos capital intensivo, investimos 500 milhões de euros por ano” e é “necessário sabermos quando é que podemos ter rentabilidade ou retorno desse capital investido. Por isso não haver grandes alterações ou alterações das premissas que nos levaram a investir e a constituir o nosso modelo económico é obviamente fundamental”, argumentou a gestora.

Ana Figueiredo apontou para o facto de a Justiça e os tribunais em Portugal serem lentos, defendendo a necessidade da adoção de “competências necessárias para poderem decidir de forma ágil”.

“O ciclo de decisão, seja de atores políticos, seja também do sistema judicial, não é muitas vezes compaginável com o nosso ciclo de investimento e com a nossa pressa no investimento e na tomada de decisão que temos que ter”, disse.

Como empresa de capital estrangeiro, a Altice Portugal concorre com as outras empresas do grupo em termos de atração de investimento presentes em outros países. Por isso, a “componente regulatória, fiscal” e “também do seu sistema judicial” são fundamentais para convencer o acionista a investir mais em Portugal e garantir-lhe o retorno do investimento.

Ana Figueiredo, que liderou a operação da Altice na República Dominicana, refere que os “portugueses têm tanto ou mais talento” como outras geografias. “Acho que temos uma competência que eu acho que é inata, não sei se nascemos com ela, é o facto de nós conectarmos facilmente com qualquer povo”, afirmou.

Mas o que falta a Portugal? “Ambição”, responde prontamente. “Temos que querer ser melhores, temos que ser muito maiores e temos que ter ambição para crescer e temos que ter a coragem também como país para avançarmos“, apontou.

“Acho que os portugueses muitas vezes se limitam”, referindo que os espanhóis, por exemplo, “são muito mais positivos na assunção de risco em lançarem-se para novas empreitadas” e Portugal, muitas vezes, fica refém das suas “inseguranças”.

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