Talento: a alavanca indispensável para reforçar a I&D e Inovação
Portugal perdeu 653 mil pessoas em idade ativa, das quais 194 mil licenciados que representam uma perda de 1,9 mil milhões de euros por ano em investimento do Estado.
Embora Portugal possua um histórico de referência na formação de talento muito qualificado – nomeadamente na área científica e das engenharias -, é também reconhecido o atraso do país (estimado em uma década) no que diz respeito a investimento direcionado para Investigação e Desenvolvimento (I&D). Esta realidade obstaculiza a retenção dos perfis necessários à capacidade de inovação e dificulta o potencial de Portugal acompanhar outros países rumo a um futuro inovador.
Graças ao estudo sobre a “Contratação de Recursos Humano através de apoios à I&D e Inovação em Portugal”, uma iniciativa conjunta recente da FI Group Portugal, LLYC e ManpowerGroup, sabe-se que, apesar de 64,3% do tecido empresarial nacional perspetivar o crescimento das suas estruturas dedicadas a I&D, 83% indica também que recorre a fundos próprios para o fazer, aumentando o risco a que se expõem por quererem aumentar o investimento em inovação. Significa isto que os benefícios financeiros e fiscais criados pelo Estado para alavancar I&D não estão a potenciar a contratação e a retenção dos profissionais por ela responsáveis, algo que nos deve fazer refletir.
Seja pela necessidade de alargamento da elegibilidade das despesas e de novos mecanismos de reembolso, pela carência de simplificação do acesso aos sistemas de incentivos existentes (menos burocracia para mais adesão, apontada como uma melhoria desejável por 82,5% das empresas ouvidas no estudo), ou pelo suporte à contratação se concretizar com taxas de financiamento e comparticipação baixas (uma ideia defendida por metade das entidades inquiridas), a expressão do apoio não tem fomentado o crescimento das contratações das empresas em I&D. Desta forma, não há viabilidade para fixar o talento qualificado português no país onde se formou.
Embora a criação das medidas de apoio seja de louvar, parece-me que há trabalho a fazer na forma como se estão a canalizar esses recursos tão necessários. Por muito boa vontade que exista, tanto do lado do talento, como das empresas e do próprio Estado (principal interessado na evolução do ecossistema de I&D), sejamos realistas: não é possível cativar perfis qualificados se não existirem projetos desafiantes, e menos ainda com ofertas salariais que não competem com os concorrentes internacionais; tal como não se fortalece a competitividade e o crescimento do país sem o contributo dos primeiros.
A produtividade e o crescimento económico, a médio e a longo prazo, dependem de estratégias mais robustas de investimento e políticas públicas de I&D (ainda) mais ambiciosas. Não esqueçamos a correlação positiva direta que existe entre os países que mais estimulam a inovação e os países que contabilizam níveis de PIB per capita mais elevados. Abaixo do valor médio de 2,31% da União Europeia, os 1,61% do PIB nacional (dados de 2020) aplicados por Portugal em I&D devem, tão rapidamente quanto possível, crescer e permitir ao país competir num mercado de trabalho cada vez mais global.
Segundo o Observatório da Emigração, só na última década, Portugal perdeu 653 mil pessoas em idade ativa, das quais 194 mil licenciados que representam uma perda de 1,9 mil milhões de euros por ano em investimento do Estado. Sendo inevitável que a contratação de profissionais altamente qualificados seja incentivada por benefícios estendidos à I&D, há que aprovar um regime fiscal menos oneroso para quem quer desenvolver carreira neste âmbito e aumentar a intensidade das ferramentas existentes, para se garantir mais proximidade com todos os beneficiários em potência.
O desafio de se reduzir a discrepância entre a expectativa das empresas e a capacidade efetiva de aplicar incentivos está, mais do que nunca, identificado. O futuro da I&D em Portugal aguarda, agora, pelo próximo passo.
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