Desinvestimento em Diversidade e Inclusão sai caro às empresas

  • Mariana Brilhante
  • 26 Junho 2023

Importa pôr em prática uma abordagem flexível e inclusiva, que garanta que os colaboradores veem as suas necessidades reconhecidas e endereçadas. Estas questões estão no cerne das políticas DEI.

Em momentos de crise, as políticas de Diversidade e Inclusão (DEI) são, muitas vezes, as primeiras a sofrer. O problema é que estes cortes orçamentais podem acabar por custar bastante mais às empresas mais do que o seu gasto com iniciativas de Diversidade e Inclusão.

Com vários anos de crise pandémica o mundo inteiro sofreu a nível socioeconómico. Se, por um lado, a economia abrandou, as desigualdades sociais acentuaram-se para muitos dos que pertencem a grupos historicamente marginalizados.

Já no pós-pandemia, assistimos agora a uma crise inflacionista global que, nos EUA, levou a despedimentos em massa em grande empresas. Este é o caso do Zoom, que despediu cerca de 15% das suas pessoas, e da Google, que vai despedir 12 mil a nível global.

Em Portugal, a inflação atingiu o valor mais alto desde há 30 anos, em outubro de 2022, subindo para os 10.1%. Durante a pandemia os despedimentos aumentaram significativamente e, segundo o INE, o salário médio real baixou em cerca de 4%. Perante este cenário, cerca de 65% dos portugueses admite que “na maior parte do tempo”, ou na melhor hipótese “algumas vezes” enfrenta dificuldades em pagar as suas contas.

O impacto da crise nas empresas

As empresas não ficaram imunes a estes impactos. Segundo dados da Eurostat de 2021, Portugal teve a pontuação mais baixa (21,6%) na satisfação profissional dos seus cidadãos. A este dado soma-se a tendência atual de maior relutância das pessoas colaboradoras em contentarem-se com um trabalho que não as satisfaz.

A fidelização do capital humano deve, por isso, ser uma prioridade, por permitir uma poupança significativa de recursos e custos inerentes ao recrutamento, seleção, formação e rescisão. Ao mesmo tempo, a pandemia colocou em evidência a necessidade das empresas adaptarem as suas estratégias de gestão de pessoas e priorizarem o seu bem-estar.

DEI como ferramenta de combate à crise

Por tudo isto, apostar na implementação de políticas e estratégias para a DEI no futuro próximo é uma das tendências cruciais para este ano na área de recursos humanos.

Em momentos de crise, as políticas de Diversidade e Inclusão são muitas vezes as primeiras a sofrer, por se considerarem não essenciais e pouco prioritárias, e serem vistas como uma forma rápida de cortar custos. O problema é que estes cortes orçamentais podem acabar por custar às empresas mais do que o seu gasto com Diversidade e Inclusão. Isto porque DEI pode ajudar:

  • Evitar custos inerentes à deterioração da saúde mental

No Reino Unido, o custo com a saúde mental para os empregadores chegou a £56 biliões em 2021. Uma saúde mental precária, resultante de longas horas, aumento do stress e insegurança no trabalho, é um dos fatores que leva ao absentismo, taxas de rotatividade elevadas e perda de produtividade, algo que vimos muito durante a pandemia. A boa notícia é que a boas práticas de diversidade, equidade e inclusão permitem não apenas mitigar possíveis problemas de saúde mental como prevenir que ocorram.

  • Poupar na atração e aumentar a retenção de talento

As novas gerações, que agora entram em força no mercado de trabalho, dão cada vez mais importância à diversidade e procuram um ambiente inclusivo para trabalhar. Apostar nestas medidas é uma forma de melhorar as perspetivas de contratação de talento diverso e, em momentos de crise, reduzir o absentismo. Além disso, as variadas perspetivas e experiências de cada pessoa que compõe uma equipa diversa podem conter a chave para redesenhar a empresa de forma resiliente em momentos de crise.

  • Promover a performance e produtividade sustentável

Está provado que empresas com equipas diversas têm maior probabilidade de ter lucros superiores à sua concorrência por serem mais inovadoras, adaptáveis e pela sua atratividade para os consumidores — que se reveem nas equipas. E este investimento em diversidade e inclusão, permite manter altos níveis de performance de forma sustentável, mesmo em tempos de incerteza.

Já percebemos que a diversidade e inclusão são uma mais valia para as empresas, mas que medidas em concreto podem as empresas utilizar para apoiar as pessoas colaboradoras e aumentar o seu compromisso e produtividade?

Eis quatro estratégias de diversidade, equidade e inclusão:

  • Criação de espaços seguros

Em alturas de incerteza, é vital criar espaço para os colaboradores partilharem os seus receios, quer a nível da equipa e liderança, quer através de outros meios, como a criação de um fórum para o efeito. Os laços sociais podem aumentar o sentimento de pertença dos colaboradores à empresa, ao mesmo tempo em que os faz sentir seguros, sendo este espaço e tempo de partilha, em si mesmo, um fator gerador e potenciador da DEI. Durante um período de crise, é também importante que haja confiança e, por isso, as lideranças precisam de ser mais atentas e empáticas nas decisões que afetam as suas equipas e o negócio.

  • Oferta de formação

Em momentos de maior instabilidade, as empresas podem oferecer diferentes tipos de formação de forma a capacitar as suas pessoas em função das suas necessidades. Se a maior insegurança for de índole financeira, é uma mais valia disponibilizar, por exemplo, formação em literacia financeira, para as pessoas colaboradoras que possam ter mais dificuldade na sua gestão pessoal ou familiar.

  • Consultoria personalizada

Em Portugal já existem várias empresas que, com vista a fornecer apoio individualizado às pessoas colaboradoras, disponibilizam o acesso a um conjunto variado de profissionais em várias áreas, como por exemplo a psicologia, contabilidade, apoio legal, entre outros.

  • Benefícios à medida

Uma das soluções que permite oferecer flexibilidade às pessoas são os benefícios à medida. Sabemos que os aumentos dados pelas empresas nem sempre representam uma subida significativa dos salários, o que pode diminuir o benefício real para a pessoa colaboradora. Ao optar, por exemplo, pelo uso de um cartão de benefícios, permite-se que as pessoas tenham mais dinheiro disponível, que podem usar de forma eficiente e ajustada às suas necessidades.

Conclusão

O caminho para o sucesso empresarial está decisivamente interligado com medidas que visam o bem-estar das pessoas colaboradoras. Como cada pessoa dentro da sua empresa experiencia de forma diferente os impactos da crise financeira, é necessário adaptar as medidas a diferentes expectativas, gerindo de forma eficaz os recursos disponíveis. E, acima de tudo, importa pôr em prática uma abordagem flexível e inclusiva, que garanta que as pessoas colaboradoras veem as suas necessidades reconhecidas e endereçadas. Todas estas questões estão no cerne das políticas de diversidade e inclusão, que se vão revelar um bom investimento, não só no dia a dia das empresas, como em momentos de crise e no seu sucesso a longo prazo.

  • Mariana Brilhante
  • Cofundadora do Diversity & Inclusion Journey

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Desinvestimento em Diversidade e Inclusão sai caro às empresas

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião