Estas empresas começam semana de quatro dias
Crioestaminal, a Onya Health e a Evolve já confirmaram a participação no piloto. Juntas, levam este modelo a cerca de 140 pessoas. Piloto arrancou com 39 empresas, abrangendo 1.000 pessoas.
Arranca esta segunda-feira o piloto promovido pelo Governo para testar a semana de quatro dias, abrangendo um total de 39 empresas e 1.000 colaboradores. Crioestaminal, a Onya Health e a Evolve são, para já, as três organizações, que já confirmaram publicamente a participação. A partir de hoje, cerca de 140 colaboradores estão abrangidos neste novo modelo de trabalho, a cada 15 dias.
De um total de cerca de 46 empresas que passaram à segunda fase — inicialmente cerca de 90 tinham manifestado interesse –, apenas 39 participam no piloto da semana de quatro dias promovido pelo Governo, abrangendo um total de 1.000 colaboradores. Menos sete e menos 19.000 mil trabalhadores do que na fase anterior avançaram para o piloto, com duração de seis meses.
“Das 39 empresas, 12 empresas são associadas do projeto e iniciaram a semana de 4 dias no final de 2022, ou início de 2023, e vão usufruir do apoio da equipa de coordenação nas novas formas de gestão e equilíbrio dos tempos de trabalho”, adianta o Ministério do Trabalho, ao ECO Trabalho.
“O número de inscrições no projeto piloto em Portugal assemelha-se com a realidade internacional. O projeto piloto europeu contou com 20 empresas europeias, em Inglaterra 61 empresas avançaram com a experiência e, nos Estados Unidos, o piloto arrancou com 30 empresas assim como na Nova Zelândia”, refere o ministério.
“Das empresas que optaram por ainda não avançar nesta fase, a maioria mantém o interesse em implementar a semana de 4 dias, mas preferiu adiar para durante o segundo semestre de 2023 ou início de 2024“, refere o ministério de Ana Mendes Godinho, não precisando se essa adesão seria no âmbito de um novo piloto promovido pelo Governo.
As empresas que decidiram avançar estão “distribuídas por 10 distritos”, sendo “Lisboa, Porto e Braga são as principais localizações”. O governo não revela quais as organizações que avançaram para o piloto, apenas que, entre elas está “um instituto de investigação, uma creche, um centro de dia, um banco de células estaminais que trabalha 7 dias, e empresas do setor social, indústria e comércio. Ao todo, o piloto arranca com cerca de mil colaboradores”.
Como as empresas estão a organizar trabalho
A Crioestaminal é, certamente, o banco de células referido pelo Governo. A empresa, juntamente, com a Evolve e a Onya Health já confirmou publicamente a sua participação no piloto, mas cada uma delas teve de operar adaptações ao seu modo de trabalho, para acomodar o impacto da redução de horário.
A regra — pelo menos nestas três organizações — é alternar semanas de quatro dias com semanas de cinco dias de trabalho. Significa isto, um dia de descanso extra a cada 15 dias. Isto sem qualquer redução salarial.
“A Crioestaminal vai adotar um esquema de trabalho, com uma semana de quatro dias, a cada 15 dias. Vamos manter a empresa em funcionamento os sete dias da semana e continuaremos a falar com os futuros pais e a processar as amostras do sangue e tecido do cordão umbilical dos bebés todos os dias”, explica Alexandra Mendes, diretora de recursos humanos da Crioestaminal, ao ECO Trabalho.
A maioria dos 90 colaboradores abrangidos terá, assim, a partir de hoje, mais um dia de fim de semana a cada 15 dias, a sexta-feira. Mas esse não será o dia de paragem para a totalidade dos trabalhadores. “Temos departamentos em que uns colaboradores têm dia de descanso extra à segunda-feira, outros em que alternam entre a quinta e a sexta-feira”, refere a gestora de talento.
Existem ainda outras particularidades, atendendo ao tipo de atividade da Crioestaminal. “Os nossos colaboradores que processam as amostras trabalham ao fim de semana e por isso já tinham algumas semanas de quatro dias. Para eles o esquema vai ser diferente. O dia de descanso não será fixo e só entrarão no esquema, de uma forma mais consistente, depois do verão. Os esquemas de trabalho foram desenhados pelos colaboradores de cada equipa e, no caso do laboratório, os técnicos acordaram entre si que este seria o mais sensato.”
A Crioestaminal vai adotar um esquema de trabalho, com uma semana de quatro dias, a cada 15 dias. Vamos manter a empresa em funcionamento os sete dias da semana e continuaremos a falar com os futuros pais e a processar as amostras do sangue e tecido do cordão umbilical dos bebés todos os dias.
Fica também estabelecida uma regra no esquema do laboratório de células estaminais: “Semanas com feriados já são semanas de quatro dias, naturalmente.” Por isso, e tendo em conta que esta semana já conta com um feriado — quinta-feira, 8 de junho, Corpo de Deus — não serão reduzidos os dias de trabalho. “Começamos na semana seguinte”, avança.
Na Evolve, empresa de recursos humanos com agências localizadas em Leiria, Lisboa, Porto e Setúbal, o esquema será semelhante ao implementado na Crioestaminal. “A partir de segunda-feira, passamos a trabalhar numa base de 36 horas semanais, com uma semana de quatro dias de 15 em 15 dias (uma semana de cinco dias intercalada com uma semana de quatro dias) em regime presencial”, detalha a diretora-geral, Inês Luís. “Dependendo da equipa, esse dia poderá ou não ser rotativo”, acrescenta.
Sendo este um programa-piloto, de caráter voluntário, foi colocado à consideração dos 40 colaboradores a sua participação. “A aceitação foi unânime e recebida de forma bastante positiva e entusiasta.”
Apenas a Onya Health, que atua na área da comunicação e tem uma estrutura de recursos humanos mais reduzida — sete colaboradores — instaurou a sexta-feira como o dia de descanso extra transversal a toda a empresa. Mas o esquema assenta, de igual forma, em semana de quatro dias quinzenais. “Vamos fazer uma redução de 40 para 36 horas semanais, o que na prática se traduz em semana de quatro dias intercalada com semana de cinco dias”, diz Vânia Lima, diretora-geral da Onya Health.
Mas a Onya parte com uma vantagem. No verão passado, a empresa deu os primeiros passos neste modelo ao dispensar os seus colaboradores nas tardes de sexta-feira, implementando um horário de verão mais reduzido. Uma experiência que a gestora garante ter sido “muito bem sucedida”. Agora, se o formato do piloto funcionar, “a nossa vontade é implementar permanentemente”.
Da redução do tempo de reuniões à automatização de tarefas
Participar no piloto está a obrigar, no entanto, a adaptações por parte destas empresas para garantir que a redução das horas laborais não significa uma quebra de produtividade ou degradação do serviço prestado.
“Estamos a coordenar calendários entre todos os colaboradores, reduzir tempo de reuniões, criar horários para trabalho focado”, explica a gestora de pessoas da Crioestaminal. “Sensibilizámos também os colaboradores para reduzir pausas para café, devem usar o dia extra para idas a consultas médicas e cumprir as oito horas de trabalho diário (em média)”, acrescenta.
Outra estratégia passa pelo recurso à tecnologia e automatização de tarefas. “Em alguns departamentos estamos a informatizar e automatizar alguns processos”, conta.
A redução da quantidade horas de trabalho semanais desafiou-nos a olhar para a forma como trabalhamos e a questionar os nossos processos. De entre as várias adaptações que fizemos, destacamos a criação de um calendário com período de foco — com comunicações entre a equipa limitadas para permitir uma maior concentração — e períodos para reuniões/feedbacks. Além disso, destaco também a otimização das reuniões, tanto a nível de tempo, como de eficácia.
Mudanças na gestão do trabalho partilhadas, em parte, pela Evolve e pela Onya Health. “Promover a criação de momentos de trabalho focado, que evitem interrupções; reduzir o tempo da maioria das reuniões para 45 minutos, no máximo; reduzir o tempo de pausa durante o dia, ao mínimo necessário; e introduzir novas tecnologias que permitam automatizar alguns processos”, são as principais mudanças destacas pela Evolve.
“A redução da quantidade horas de trabalho semanais desafiou-nos a olhar para a forma como trabalhamos e a questionar os nossos processos. De entre as várias adaptações que fizemos, destacamos a criação de um calendário com período de foco — com comunicações entre a equipa limitadas para permitir uma maior concentração — e períodos para reuniões/feedbacks. Além disso, destaco também a otimização das reuniões, tanto a nível de tempo, como de eficácia”, diz, por sua vez, Vânia Lima sobre o processo da Onya Health.
Colaboradores “mais descansados e mais felizes”
Mas os esforços, acreditam as empresas, valem totalmente a pena. Maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é a grande vantagem identificada, e que será capaz de promover a motivação das pessoas, reduzir o absentismo e, consequentemente, talvez até aumentar a produtividade.
“Estamos todos motivados e empenhados no sucesso do piloto, pelo que as nossas expetativas são elevadas. Contudo, com a introdução da semana de quatro dias de trabalho, surge o grande desafio em garantir que os colaboradores consigam manter a mesma produtividade, trabalhando menos horas. No que diz respeito às principais vantagens, acreditamos que os colaboradores vão conseguir estabelecer um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, ficando desta forma mais motivados para o trabalho. Por conseguinte, a produtividade aumentará e o absentismo diminuirá”, defende Inês Luís, da Evolve.
Também Vânia Lima e toda a Onya estão confiantes. “Na teoria, parece-nos fazer mais sentido a semana de quatro dias do que a de cinco, porque acreditamos que o balanço entre vida pessoal e profissional tem que ser levado a sério, com medidas reais, e não ser usado apenas como bandeira de autopromoção”, comenta. Mas, ao mesmo tempo, reconhece que o maior desafio será “cumprir esta restruturação da forma de trabalhar e criar a organização e processos necessários que nos permitam uma maior produtividade e eficácia”.
Acreditamos que os colaboradores vão conseguir estabelecer um maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, ficando desta forma mais motivados para o trabalho. Por conseguinte, a produtividade aumentará e o absentismo diminuirá.
Alexandra Mendes, da Crioestaminal, recorda que, quando o projeto foi introduzido aos colaboradores, houve algumas dúvidas e apreensões. “Como era de esperar”, atira. “No entanto, ao longo da preparação do piloto foram achando que a transição era possível. Através de reuniões de debate, apresentação de casos de sucesso noutras empresas e uma comunicação clara e bidirecional, os colaboradores foram percebendo que era possível otimizar o tempo e melhorar a eficiência dentro das horas de trabalho reduzidas. Agora, estão cheios de vontade de começar, mas ainda há céticos.”
“Reconhecemos também que há desafios associados a esta transição. Um dos principais desafios é garantir que todos os colaboradores estejam alinhados e envolvidos neste piloto. É fundamental que todos — não apenas os colaboradores, mas também os nossos fornecedores e clientes — compreendam a importância e os benefícios desta nova abordagem de trabalho, para que possamos manter uma mentalidade coletiva. Estamos conscientes de que será uma transição desafiante, mas estamos empenhados em apoiar os colaboradores nesta jornada”, garante.
No fundo, toda a experiência se resume a uma coisa: “Queremos ter colaboradores mais descansados e mais felizes”. “Acreditamos que, ao proporcionar um equilíbrio saudável entre a vida profissional e pessoal, os colaboradores aumentem a satisfação no seu trabalho e se sintam motivados a alcançar os objetivos que definimos para a empresa. Além disso, esperamos que esta mudança resulte num ambiente de trabalho mais positivo, onde as pessoas se sintam valorizadas e inspiradas a contribuir com as suas ideias e talentos”, partilha a diretora de RH.
“Não se trata de dar mais folgas durante seis meses. Queremos mesmo que funcione para que este seja o nosso modelo de trabalho no futuro”, conclui.
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