Exclusivo BCP é o banco que mais valoriza na Europa, mas ainda tem “desconto”

BCP valoriza mais 70% este ano. É o melhor registo entre os pares europeus. Apesar disso, as ações do banco português negoceiam na bolsa com um desconto de 30% em relação ao seu valor contabilístico.

A subida das taxas de juro está a impulsionar as cotações dos bancos europeus em 2023. O setor já valorizou mais de 15% desde o início do ano e não deverá ficar por aqui. Mas há uma estrela que tem brilhado mais intensamente do que as outras: o BCP acumula ganhos acima dos 70% ao longo deste ano, destacando-se como o banco com melhor desempenho na bolsa entre os seus pares.

Apesar das fortes valorizações, as ações da banca do Velho Continente continuam “em saldos”. Isto é, transacionam com uma cotação abaixo do valor contabilístico do seu negócio, com o índice Stoxx Europe 600 Banks a registar atualmente um price-to-book value (P/B) de 0,67 vezes. Isto significa que os bancos europeus estão a negociar, em média, com uma cotação equivalente a 0,67 vezes o seu valor contabilístico ou com um desconto de 33% face ao seu valor contabilístico.

Embora os investidores continuem a negociar as ações do Stoxx Europe 600 Banks com desconto, a evolução do rácio P/B não deixa de mostrar uma tendência positiva em comparação com a média de 0,60 dos últimos cinco anos. Ou seja, há uma maior confiança do mercado quanto ao setor. No caso do BCP, essa recuperação foi mais evidente (apenas suplantado pelo UniCredit), como revela a subida do rácio P/B para 0,69 face à média de 0,43 dos últimos cinco anos.

Em termos mais práticos: se as ações do banco português negociavam com um desconto de quase 60%, agora transacionam com um desconto de 30%. Mas no que se destacou o BCP para ter uma evolução melhor do que a concorrência lá fora?

Juros+comissões-Polónia=400 milhões no semestre

“Os bancos portugueses ganham 9,5 vezes mais do que os pares europeus com a subida das taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu. Essa melhoria dos lucros deverá continuar este ano, uma vez que os ganhos com os empréstimos acontecem mais rapidamente do que o aumento dos juros que os bancos pagam nos depósitos”, explica Nuno Mello, diretor de vendas da corretora XTB.

Pedro Assunção, CIO da Forste, considera que é “natural” a recuperação do P/B do BCP por conta da melhoria da rentabilidade do banco. “Se as estimativas se confirmarem, o ROE (rentabilidade dos capitais próprios) deverá ultrapassar os 10% este ano”, explica Pedro Assunção, CIO da Forste.

O BCP prepara-se para anunciar os resultados do primeiro semestre na próxima quinta-feira. Os analistas sondados pela Reuters antecipam um lucro de mais de 400 milhões até junho, multiplicando por mais de cinco vezes o resultado que teve no mesmo período do ano passado.

Como banco de retalho que é, o resultado do BCP terá sido impulsionado em grande medida pela margem financeira e pelas comissões que aumentaram muito nos últimos anos, como está a acontecer com a Caixa Geral de Depósitos (CGD), Novobanco, Santander e BPI – os três últimos prestam contas na sexta-feira. Mas não só.

A Polónia tem sido o “calcanhar de Aquiles” do banco detido pelos chineses da Fosun e pelos angolanos da Sonangol nos últimos anos e o principal fator que tem atrasado a recuperação dos resultados em comparação com os outros bancos portugueses. Porém, depois de a sua unidade polaca ter colocado de lado mais de 1,2 mil milhões de euros para enfrentar os riscos legais com os créditos hipotecários em moeda suíça, muitas das nuvens em torno do único banco português cotado em bolsa parecem ter-se dissipado.

Na nota de research em que iniciaram a cobertura das ações do BCP, os analistas do UBS disseram esperar que as provisões na Polónia comecem a descer a partir de agora, devendo ascender a apenas 45 milhões de euros em 2026, um valor quase insignificante face aos 740 milhões de 2023.

Com isto, acrescentam os analistas do UBS, o expectável é que os resultados semestrais comecem já refletir não só o impacto da subida dos juros na margem financeira, mas também o ajustamento que o banco realizou na última década.

Espaço limitado para mais ganhos

Depois do rally de 70%, o BCP tem espaço para valorizar ainda mais? Pedro Assunção e Nuno Mello acreditam que sim, mas o caminho está a estreitar-se. “No curto prazo, penso haver espaço para o BCP valorizar mais, mas a zona dos 30 cêntimos por ação deverá oferecer resistência suficiente para podermos assistir a algumas correções no preço”, refere Nuno Mello.

O book value por ação do BCP é de 39 cêntimos, ou seja, o banco teria de atingir a cotação de 39 cêntimos para ter um rácio P/B de 1. É uma meta plausível? “Serão necessários alguns anos de rentabilidades confortáveis e um ciclo mais completo de crédito (incluindo uma recessão) para se perceber se, sustentadamente, o BCP e os restantes bancos europeus conseguem gerar um ROE em linha com o seu custo de capital”, argumenta Pedro Assunção.

 

Por outro lado, o CIO da Forste lembra o passado de juros negativos e também o ambiente regulatório mais apertado como fatores que ainda pesam na confiança dos investidores quanto ao regresso dos bancos a uma época de boas rentabilidades. O diretor da XTB acrescenta que, fruto da subida expressiva das taxas de juro do BCE, o risco de incumprimento nos créditos à habitação está cada vez mais presente entre os investidores, o que condicionará o comportamento do título.

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