Política expansionista do BCE reduz desigualdades. Mas o inverso também se aplica
A política monetária expansionista tem um impacto positivo na redução das desigualdades em Portugal. O problema é que o inverso também se aplica e os estímulos do BCE deverão ter os dias contados.
A atual política do Banco Central Europeu está a contribuir para a redução das desigualdades na economia portuguesa. A conclusão é de um estudo do Banco de Portugal, publicado com o Boletim Económico de maio e divulgado esta quarta-feira. O problema é que esta política — acomodatícia — já tem os dias contados e quando a estratégia passar a ser mais restritiva, é de esperar que tenha precisamente o efeito inverso.
Os economistas do Banco de Portugal partiram de uma pergunta: qual o impacto de manter uma política monetária expansionista durante tanto tempo — como está a fazer a instituição liderada por Mario Draghi — na distribuição da riqueza?
As respostas foram bastante robustas: os dados apontam para um efeito positivo na redução das desigualdades. Isto mesmo tendo em conta uma avaliação da riqueza no sentido lato, em que se leva em consideração não apenas a riqueza patrimonial, mas também a riqueza humana que decorre dos rendimentos expectáveis do trabalho para determinado nível de qualificações. “O efeito distributivo de valorizações de ativos [é] mais fraco na riqueza em sentido lato do que na riqueza líquida”, reconhecem os especialistas.
"O efeito distributivo de valorizações de ativos [é] mais fraco na riqueza em sentido lato do que na riqueza líquida.”
Mas, ainda assim, verifica-se o efeito positivo em termos globais. O estudo adianta que o impacto verificado através dos canais de transmissão considerados mais relevantes — a variação do preço dos ativos (como por exemplo o preço da habitação), a rentabilidade dos negócios por conta própria, a rentabilidade dos depósitos bancários, os custos dos empréstimos para habitação e consumo e os rendimentos do trabalho — é positivo para a redução das desigualdades em quase todos os casos.
A única exceção é o impacto que o aumento do valor das empresas: neste caso, a política monetária acomodatícia, que tem vindo a ser seguida pelo BCE, promove a desigualdade. Mas este efeito é compensado pelos verificados através dos restantes canais de transmissão.
Até no emprego, por exemplo, verifica-se que o efeito positivo da recuperação do emprego beneficiou de forma mais ou menos equivalente os diferentes níveis de riqueza em sentido lato. Isto acontece porque são os jovens os primeiros a encontrar emprego e estes estão distribuídos de forma mais ou menos uniforme pelos diferentes quintis de riqueza da população.
O problema é que os resultados são de tal forma consistentes, que é natural que quando a política monetária passar a ser mais restritiva — o que deverá acontecer a partir do final deste ano — o impacto na desigualdade deverá ser invertido, passando a contribuir para um agravamento. A dimensão desse efeito vai depender da duração de uma eventual política restritiva e dos instrumentos concretos encontrados para a aplicar. Mas os canais de transmissão deverão manter-se, ainda que com impactos de magnitude diferente.
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