Bruxelas vê PIB a abrandar no próximo ano
O sentimento económico continua a bater recordes, mesmo nos indicadores da Comissão Europeia, mas a tendência vai desvanecer a médio prazo. Bruxelas não acredita em subida do PIB de 1,9% em 2018.
Em 2016, o PIB abrandou face ao ano anterior, mas surpreendeu no final do ano. A economia portuguesa superou as expectativas e esse efeito deu um impulso ao crescimento económico de 2017. É por causa disso que a Comissão Europeia acredita que o PIB vai crescer 1,8% este ano, a mesma meta que o Governo inscreveu no Programa de Estabilidade 2017-2021. Contudo, no Boletim Económico da Primavera, Bruxelas vê a economia a abrandar em 2018 para os 1,6%, o mesmo verificado em 2015.
“O crescimento económico acelerou no segundo semestre de 2016 devido ao consumo privado e às exportações”, lê-se no documento divulgado esta quinta-feira. A Comissão assinala a subida do investimento, alavancado pelo setor da construção, e ainda um efeito positivo de carryover para o início de 2017. A “performance forte” da economia no final do ano passado leva Bruxelas a crer nos números do Governo para o PIB deste ano.
Contudo, as previsões para 2018 contrastam. Mário Centeno espera ver a economia em aceleração contínua para os 1,9% no próximo ano, mas a Comissão Europeia espera que a economia portuguesa cresça 1,6%. Esta previsão significa um regresso ao valor registado em 2015, mas acima do registado em 2016. Quais são os riscos? “Os desafios que o setor bancário ainda enfrenta e a elevada vulnerabilidade da economia [portuguesa] aos desenvolvimentos externos”, explica Bruxelas.
Esta tinha já sido a interpretação do cenário macroeconómico dado pelo Conselho de Finanças Públicas no final de março. Teodora Cardoso alertava no relatório “Finanças Públicas – Situação e Condicionantes 2017-2021” que com o rumo atual, o PIB abrandará no médio prazo e os problemas estruturais não estão resolvidos. Também no boletim divulgado esta quinta-feira, a Comissão Europeia não vê as medidas para cumprir o défice definido pelo Executivo e prevê que este se agrave, em vez de melhorar, em 2018.
A Comissão assinala ainda que o seu Indicador do Sentimento Económico relativo a Portugal continuou a crescer no primeiro trimestre deste ano atingindo um máximo de nove anos. “Contudo, a maior parte dos indicadores de curto prazo, assim como a aceleração da inflação, sugere que o crescimento do consumo privado pode vir a ser mais lento“, explica o Boletim Económico da Primavera.
A ajudar ao consumo está o bom desempenho do mercado de trabalho em Portugal, assim como a subida do salário mínimo. A Comissão também confia na meta do Governo, apontando para uma taxa de desemprego inferior a 10% já este ano. Depois desta melhoria significativa, Bruxelas prevê um abrandamento do consumo privado, provocado por uma queda na criação de emprego, mas também porque se espera uma retoma da taxa de poupança dos portugueses que está historicamente baixa.
Do lado do investimento, a Comissão vê diferentes panoramas no setor privado, mas espera um aumento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) por causa da recuperação do investimento público, do setor imobiliário e da construção. Bruxelas reconhece que existem sinais positivos nos bancos, nomeadamente a nível do capital, mas não prevê que exista uma recuperação forte no nível de empréstimos.
O turismo continuará a ser a galinha dos ovos de ouro de Portugal, mas a Comissão prevê crescimentos mais moderados na época alta do verão por causa dos constrangimentos da capacidade do setor. No seu total, as exportações vão continuar a aumentar, mas o seu contributo para o PIB será “ligeiramente negativo” no horizonte destas previsões. Isto acontece porque a Comissão espera uma aceleração ainda maior nas importações devido aos projetos de investimento do país, o que prejudicará o saldo comercial de bens.
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