Mais de 90% dos trabalhadores gostariam de ver salário indicado nos anúncios de emprego
A transparência salarial é valorizada pelos portugueses, tanto dentro das empresas, como no recrutamento. Mais, segundo o estudo "O estado da compensação", 65% estão insatisfeitos com compensação.
Quantas vezes já se deparou com anúncios de trabalho que não revelam que salário está em cima da mesa? Não é uma ocorrência rara, mas mais de 90% dos trabalhadores portugueses gostariam que tal mudasse e que a faixa salarial viesse indicada nas ofertas de trabalho. Esta conclusão consta do estudo “O estado da compensação” da autoria da empresa portuguesa Coverflex, que será apresentado esta quarta-feira.
“A percentagem de pessoas que referem querer ver o valor salarial nas ofertas de trabalho é de 90,65%, contra apenas 4,5% que não querem e 4,85% que referem não saber ou não ter a certeza”, é explicado na análise, que teve por base um inquérito no qual participaram 2.247 indivíduos.
Entre os profissionais mais jovens, essa vontade é ainda mais expressiva: 92,4% dos inquiridos dos 18 aos 44 anos indicaram que gostariam de conhecer que salário está em cima da mesa logo nas ofertas de trabalho, face a 83% dos inquiridos com idades acima dos 45 anos.
Em declarações ao ECO, Inês Odila, country manager da Coverflex em Portugal, salienta que a transparência salarial (quer interna, quer no momento do recrutamento) é vista “claramente” pelos trabalhadores como tendo mais vantagens do que desvantagens, pelo que há hoje mais empresas (especialmente na área tecnológica) a indicar logo nos anúncios de empregos a faixa salarial à disposição.
Contudo, estes empregadores, admite a responsável, têm ainda “baixa expressão” no total das ofertas disponíveis no mercado, referindo-se apenas a empregos com “ofertas salariais mais aliciantes“.
Ainda assim, Inês Odila sublinha que revelar o ordenado logo no anúncio é um sinal de “uma forte cultura de transparência, e o mundo está cada vez mais a pedir essa cultura”. Ou seja, fazê-lo pode ser vantajoso para a atração e fidelização dos trabalhadores, já que estes acabam por sentir que há maior equidade. “O colaborador consegue ver o valor das faixas salariais, consegue situar-se, não precisa de suponho”, realça a country manager.
Também no que diz respeito à transparência salarial, convém destacar que 55,6% dos inquiridos disseram que gostariam de ver os salários publicados no seio das próprias empresas. Já 25,6% referiram o desejo contrário, enquanto 18,8% disseram não saber ou não a certeza quanto a esta questão (ver gráfico abaixo).
E por falar em salários, o estudo da Coverflex concluiu que somente 35% dos portugueses estão satisfeitos com a sua compensação. Ou seja, apesar dos aumentos dos últimos anos, 65% dos trabalhadores não recebem valores que os satisfaçam.
Mas, atenção, esse nível de satisfação não é impactado somente pelo número que veem chegar à conta bancária. O modelo de trabalho adotado também importa. Segundo a análise, entre quem trabalha remotamente, 44% manifestam satisfação com a sua compensação. E 33,5% dos que trabalham em regime híbrido dizem-se satisfeitos a esse nível. Já entre quem trabalha presencialmente, só 27% consideram-se satisfeitos com a sua compensação.
“A flexibilidade de não perder uma hora para ir trabalhar e outra para chegar a casa é algo que as pessoas valorizam cada vez mais“, observa a country manager da Coverflex, em jeito de explicação para esse desfasamento entre os níveis de satisfação. Aliás, segundo a responsável, a adoção do trabalho híbrido tem aumentado não somente por efeito da passagem do trabalho presencial para esse regime, mas também em resultado da passagem do modelo remoto para o híbrido. “Nas tecnológicas, é o que está a acontecer“, relata.
Há a destacar também “diferenças significativas” entre setores de atividade, na satisfação dos trabalhadores com a sua compensação. Enquanto entre quem trabalha nas tecnologias de informação e desenvolvimento de software, 42,5% dizem-se satisfeitos com a sua compensação, entre quem trabalha em marketing, comunicação e publicidade, só 22% manifestam o mesmo nível de satisfação.
Um quarto queriam que empresa oferecesse subscrição do Netflix, mas só 1% têm esse benefício
Além do salário, também importa aos trabalhadores portugueses os benefícios extra ordenado que são assegurados pelos empregadores. De acordo com o estudo da Coverflex, o benefício mais comum atualmente são os seguros de saúde, com 52,2% dos inquiridos a indicarem que têm acesso a esse tipo de oferta. Seguem-se os apoios para as despesas de educação e formação (33.47%) e os apoios para despesas com tecnologia (25.90%).
Há, por outro lado, benefícios que são muito desejados, mas pouco praticados. É o caso da oferta por parte das empresas de subscrição de serviços como o Netflix e o Spotify. Quase um quarto desejam-no, mas só 1% têm acesso, o que resulta num fosso de 23,28%, é calculado.
O mesmo acontece, por exemplo, no que diz respeito ao apoio para combustível. Embora mais de 35% queiram ter este benefício, só 7% têm atualmente acesso, o que equivale a um fosso de 27,68%. Este benefício é particularmente relevante numa altura em que os preços dos combustíveis têm registado alguma volatilidade, por efeito das tensões no Médio Oriente.
E também se verifica esta dinâmica no que diz respeito aos benefícios associados à poupança para a reforma: mais de 32% dos trabalhadores desejam-no, mas só 23,36% têm acesso. Há, portanto, um fosso de 8,99%, avança o estudo que será apresentado esta manhã.
Já no que diz respeito ao subsídio de refeição, apenas 16% dos inquiridos recebem 9,6 euros diários, valor até ao qual há isenção de IRS e contribuições sociais, no caso dos pagamentos feitos em cartão de refeição. Aliás, o estudo dá conta que as empresas que menos oferecem cartão refeição são empresas pequenas. “Apenas 79% dos inquiridos que trabalham em empresas de 1-10 colaboradores têm cartão refeição, em média”, é indicado.
Contas feitas, a Coverflex estima que os portugueses têm direito, em média, a 197,59 euros em benefícios mensais. Entre quem trabalha em regime híbrido ou remoto, esse valor é superior do que o registado para os trabalhadores presenciais (200 euros contra 183 euros).
Ao ECO, a country manager da Coverflex explica quem está em regime remoto ou híbrido tem uma série de benefícios para o exercício das funções à distância (como orçamentos para a montagem de escritórios em casa), daí essa diferença.
De notar, por outro lado, que a desigualdade entre géneros também se sente a nível dos benefícios oferecidos. “As mulheres que recebem benefícios recebem, em média, 167 euros por mês contra 222 euros dos homens (gap de 32%)”, lê-se no estudo.
Pandemia terminou, mas teletrabalho veio para ficar
Ainda que os dias das restrições pandémicas estejam já a alguma distância, o trabalho remoto continua a ser adotado de forma expressiva. E entre quem não o tem, trabalhando, então, em regime presencial, 56,5% dizem-se insatisfeitos com o seu modelo de trabalho. Em contraste, somente 29% das pessoas que trabalham em regime híbrido e 12% dos teletrabalhadores preferiram outro regime que não o que estão atualmente a implementar.
“Regista-se também uma diferença significativa entre géneros, uma vez que 63% das mulheres que trabalham presencialmente não estão satisfeitas com o seu regime de trabalho contra 50% dos homens”, é detalhado.
Além disso, oito em cada dez dos teletrabalhadores consideram que o seu horário de trabalho é muito flexível ou flexível. Já entre os trabalhadores presenciais, só 46% avançam com essa avaliação.
Convém notar que, segundo as várias empresas de recursos humanos, a flexibilidade horária é hoje considerada muito importante pelos trabalhadores, no momento da escolha do seu emprego. Oferecer este benefício pode ser determinante na retenção e atração de talento, recomendam os especialistas.
Em conversa com o ECO, Inês Odila afirma que ainda não se sabe qual o modelo ideal de trabalho, uma vez que este depende não só do setor, mas também das condições do país e da própria faixa etária do trabalho. “A pandemia é muito recente. É agora que as empresas estão a começar a medir o efeito do que aconteceu. Mas já existem estudos que dizem que as pessoas são mais produtivas se estiverem em regime híbrido“, remata.
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