Mais de 80% das empresas alertam que contratar trabalhadores adequados requer cada vez mais tempo
Mais de metade das empresas já antevê que preencher vagas será mais difícil no futuro próximo. Escassez de talento prejudica produtividade e competitividade, alertam empregadores.
A escassez de trabalhadores é (e deverá continuar a ser no próximo ano) um do principais desafios do mercado de trabalho português. Tanto que mais de oito em cada dez empresas alertam que encontrar os profissionais adequados requer cada vez mais tempo, o que resulta num agravamento dos custos e prejudica a produtividade.
E mais de metade dos empregadores já projetam que será mais difícil preencher as vagas de emprego disponíveis no futuro próximo. Este retrato é feito pela Randstad no estudo “Tendências de recursos humanos 2023-2024”, que o ECO consultou em primeira mão.
“Apesar da desaceleração económica e da incerteza global sobre algumas variáveis económicas e sociais, Portugal encontra-se num bom momento em relação ao mercado de trabalho“, começa por sublinhar a empresa de recursos humanos, que explica que, entre as empresas ouvidas, a previsão global é de um “ligeiramente agravamento” da situação económica do país, mas de estabilização no emprego.
Incertezas à parte, os empregadores estão, portanto, abertos a manter os empregos e até a crescer as equipas, mas encontrar os trabalhadores adequados para essas oportunidades está a revelar-se cada vez mais desafiante: 82,1% das empresas ouvidas consideram que encontrar os profissionais adequados requer cada vez mais tempo e 54% pensam que, num futuro próximo, será ainda mais difícil preencher as vagas.
Tal desafio é especialmente significativo à medida que se aumenta o grau de qualificação dos profissionais procurados.
“Quanto maior a qualificação dos profissionais, maior é a probabilidade de existência de dificuldades para preencher as posições. Cerca de 59% das empresas tiveram dificuldades em preencher vagas, quando o profissional que procuravam era altamente qualificado, enquanto esta dificuldade é reduzida para metade (28,5%) quando se trata de profissionais pouco qualificados”, detalha a Randstad.
E neste âmbito, tem aplicação a famosa máxima “tempo é dinheiro“. É que os processos de recrutamento mais longos fazem crescer os custos, salienta o estudo que será divulgado esta quarta-feira. Além disso, as empresas ouvidas assinalam que a escassez de talento tem um “impacto negativo sobre variáveis estratégicas, como a competitividade, a produtividade e a capacidade de satisfazer as necessidades dos clientes“.
Já no que diz respeito aos motivos por detrás destas dificuldades tão significativas na procura de trabalhadores, o estudo aponta três grandes fatores: salários, escassez de mãos e concorrência.
Em detalhe, 62% das empresas consideram que a oferta de salários pouco competitivos explica as dificuldades na atração dos melhores profissionais. Já 50,4% apontam a escassez de profissionais com qualificações necessárias. E 35,8% destacam a alta concorrência no setor em que se inserem.
Mas apesar de o salário ser a principal razão da fraca atração de trabalhadores, não é a aposta nos ordenados a estratégia mais comum para contrariar a escassez de talento, mostra o “Tendências de recursos humanos 2023-2024”. Antes, são as políticas de flexibilidade as mais populares: mais de metade das empresas referem, por exemplo, o teletrabalho e o trabalho híbrido como forma de responder à dificuldade na contratação.
A segunda estratégia mais comum é a melhoria dos benefícios oferecidos, seguindo-se o reforço da empresa enquanto marca empregadora. Só em quarto lugar aparece, portanto, o aumento dos salários iniciais, estratégia que tem sido adotada por cerca de três em cada dez empregadores.
Neste cenário, a retenção de talento ganha, então, outra importância, tornando-se “crucial”, assinala a Randstad, que fala numa “guerra por profissionais qualificados“.
Empresas apostam na flexibilidade, mas trabalhadores valorizam mais oportunidades de crescimento
Ainda que não ter os profissionais certos possa prejudicar os negócios, as empresas portuguesas continuam a não estar alinhadas a 100%, quanto aos benefícios que oferecem aos trabalhadores e aqueles que estes procuram, revela o estudo da Randstad.
Vamos aos dados. Do lado das empresas, o benefício mais oferecido é a flexibilidade no trabalho (53,5%), seguindo-se o seguro de saúde (48,8%), um bom ambiente de trabalho (42,6%), dispositivos eletrónicos (24,8%) e ações de formação (também 24,8%).
Em contraste, do lado dos profissionais, quase 70% votaram nas oportunidades de crescimento como benefício mais relevante e 66,7% referiram os aumentos salários. Ainda assim, a flexibilidade, o bom ambiente de trabalho e o seguro de saúde também são valorizados pelos trabalhadores.
“Podemos observar que existe um equilíbrio entre o que os colaboradores querem e o que as empresas oferecem em alguns dos benefícios profissionais como a flexibilidade, um bom ambiente de trabalho e o seguro de saúde. Mas existem outros benefícios que devem ser revistos pelas empresas se quiserem ser mais competitivas na atração e retenção do talento, tais como as oportunidades de crescimento e os aumentos salariais”, recomenda a Randstad.
Por outro lado, no que diz respeito especificamente à flexibilidade laboral (o que inclui, por exemplo, trabalho remoto, horários flexíveis e férias flexíveis), 55% dos profissionais pensa que as medidas de aplicadas nesse sentido não são eficazes.
“Sabemos que as medidas de flexibilidade podem contribuir para a produtividade e eficiência dos profissionais. No entanto, as empresas devem medir a eficácia das medidas que realmente são aplicadas“, avisa a referida empresa de recursos humanos.
Transformação digital promete marcar futuro do trabalho
No estudo que será conhecido esta quarta-feira, é deixado claro que a transformação digital e a inovação tecnológica são dois fatores que vão marcar (e muito) o futuro do mercado de trabalho, na visão das empresas.
“A inteligência artificial aparece como um grande desafio e oportunidade para as empresas e profissionais, já que vai transformar tarefas e processos”, sublinha a Randstad. E mais de metade das pessoas acredita que esta tecnologia irá impulsionar o seu crescimento profissional, em vez de eliminar o seu emprego.
Com base neste cenário, no que concerne às competências mais procuradas nas contratações futuras, realça-se que a orientação para os resultados e a capacidade de adaptação são as competências mais exigidas pelas empresas (43,8%; 43,1% respetivamente). A boa notícia é que, entre os profissionais, são também estas as competências consideradas mais estratégicas, havendo, portanto, um alinhamento entre a procura e a oferta.
Para realizar esta análise, foi feito um inquérito tanto a empresas como a profissionais. “Relativamente à amostra deste estudo, existe uma diversidade setorial, com 6% a 14% de resultados de cada setor. Para além disto, 36% das empresas da amostra têm menos de 50 colaboradores, o que destaca a importância das pequenas e médias empresas no mercado de trabalho nacional“, remata a Randstad.
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