Mais candidatos, menos rotatividade. Resultados do teste à semana de quatro dias na 360imprimir “são bastante positivos”

Já são conhecidos resultados do primeiro ano do teste da semana de quatro dias na 360imprimir: candidaturas dispararam oito vezes, rotatividade caiu mais de 40% e a produtividade não saiu prejudicada.

Ainda antes de arrancar o projeto-piloto à semana de quatro dias dinamizado pelo Governo, a 360imprimir — empresa de Torres Vedras que se descreve como a Amazon dos produtos personalizados para as pequenas e médias empresas — decidiu começar a experimentar a semana de trabalho mais curta. E os resultados do primeiro ano desse teste “são bastante positivos“, salienta a diretora de recursos humanos, em declarações ao ECO: a rotatividade caiu em mais de 40%, a atração de talento disparou e, apesar do corte das horas trabalhadas, a produtividade estabilizou.

“Um ano depois da implementação da semana de quatro dias, conseguimos concluir que este modelo de trabalho teve um impacto muito positivo na atratividade (o número de candidaturas aumentou oito vezes, quando comparado com o ano anterior) e também na retenção, com uma diminuição de 43% no número de saídas da empresa“, sublinha Sofia Patrão Alves.

Convém explicar que o teste à semana de quatro dias na 360imprimir arrancou em outubro de 2022 e 98% dos trabalhadores decidiram aderir. Desses, 78% têm um dia fixo semanalmente em que não trabalham, enquanto 22% têm direito a um dia de “folga” alternante, de modo a garantir a continuidade das operações.

Esta empresa portuguesa celebrou, portanto, muito recentemente o primeiro ano da adoção da semana de trabalho. E a diretora de recursos humanos realça que, com este novo modelo, passou a ser preciso contratar menos (porque a rotatividade caiu), mas em simultâneo ficou mais fácil chegar aos “melhores talentos”. Tal é especialmente relevante porque as empresas têm sofrido com a escassez de talento e há quem já avise que isto está a afetar os negócios.

Mais, 91% dos trabalhadores afirma preferir a semana de quatro dias de trabalho à de cinco, sendo esse modelo já o principal fator de motivação entre estes empregadores, à frente do teletrabalho e das funções em si. Tanto que 78% dos trabalhadores afirmam precisar de um aumento salarial de pelo menos 30% para considerarem regressar à semana de trabalho de 5 dias.

Por outro lado, este primeiro ano da semana de quatro dias na 360 imprimir resultou num recuo de cerca de 50% do absentismo face ao ano anterior e numa diminuição de 21% dos níveis de stress, fadiga e ansiedade, conclui o barómetro que foi desenvolvido com o apoio de uma consultora independente

Mais, 98% dos colaboradores indicaram ter boa conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional e 45% passaram a praticar mais exercício físico e melhorado a qualidade de sono.

E apesar das horas trabalhadas ter emagrecido, a produtividade por hora “manteve-se estável“. “Como trabalhamos menos horas, o output médio por colaborador reduziu proporcionalmente à redução de horas de trabalho por semana. Já estávamos preparados para este impacto e, embora seja um indicador difícil de medir, continuamos a procurar novas formas de o medir da forma mais fidedigna possível, porque acreditamos que seja um fator importante na análise do modelo”, observa Sofia Patrão Alves.

Aliás, cerca de 80% das chefias consideram que as equipas são tão produtivas como antes da implementação da semana de quatro dias de trabalho.

Para garantir que as operações da 360imprimir não sofriam com este teste, foi preciso, contudo, importa notar, ajustar alguns dos processos internos. Por exemplo, a comunicação entre as equipas e as chefias teve de ser melhorada, assinala a diretora de recursos humanos.

Ao ECO, Sofia Patrão Alves avança ainda que o teste continuará por mais um ano, findo o qual serão avaliados todos os resultados e impactos, “antes de se tomar a decisão final”.

A 360imprimir é uma das dez empresas que começaram a testar a semana de trabalho mais curta antes de ter arrancado o projeto-piloto que o Governo está a dinamizar, mas que se associaram a ele.

Nesse projeto-piloto, estão a participar 39 empresas, que estão a testar a semana de quatro dias desde junho. Conforme já escreveu o ECO, a poucos dias do fim dessa experiência, nenhuma descarta para já a hipótese de manter esse modelo e há já algumas que deixam claro que vão continuar com menos horas por semana do que é habitual no mercado português.

A ideia de uma semana de trabalho mais curta não é nova. Já no século XVIII, o norte-americano Benjamin Franklin — um dos “pais fundadores” dos Estados Unidos — antecipava que quatro dias de trabalho por semana seriam, eventualmente, suficientes para garantir todas as “necessidades e confortos”, conta o historiador holandês Rutger Bergman, no livro “Utopia para Realistas”.

A ideia de uma semana de trabalho mais magra ressurgiu, mais tarde, também com Karl Marx, com Stuart Mill e com John Maynard Keynes.

Além de Portugal, mais recentemente também o Brasil começou a preparar o teste à semana de quatro dias. Já no Reino Unido o teste já terminou e os resultados são sinónimos de sucesso: das 60 empresas que participaram, 56 decidiram continuar a “testar” o modelo inovador e 18 deram-no logo como permanente.

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