Da defesa nacional às alterações climáticas, CFP aponta riscos para as contas públicas
O Conselho das Finanças Públicas (CFP) destaca um conjunto de fatores que podem ameaçar a sustentabilidade das finanças públicas, onde se inclui a despesa pública com a defesa nacional.
As finanças públicas portuguesas deverão seguir uma trajetória relativamente estável nos próximos anos, mas existem quatro grandes riscos que ameaçam a sustentabilidade das contas nacionais, de acordo com as projeções do Conselho das Finanças Públicas. Aos fatores já conhecidos, como o envelhecimento da população, juntam-se agora questões como as alterações climáticas e a defesa nacional.
As alterações demográficas estão em grande destaque, sendo um tema já em discussão há bastantes anos, mas cuja resolução ainda não está à vista. O envelhecimento da população é um risco descendente para o crescimento da economia e para a sustentabilidade das finanças públicas, pelo impacto que tem no emprego e pela “alteração dos padrões de poupança e investimento”, lê-se no relatório “Riscos Orçamentais e Sustentabilidade das Finanças Públicas 2023”, divulgado esta terça-feira.
Apesar de se perspetivar que o peso das receitas fiscais e contributivas no PIB vai aumentar, há o risco da “erosão das bases fiscais, em função de um menor nível de remunerações resultante de um decréscimo populacional mais acentuado do que o previsto ou de um fluxo migratório assente, predominantemente, em empregos pouco especializados e com salários legalmente isentos de IRS”.
“Adicionalmente, um maior nível de subscrição de seguros de saúde e de planos de pensões implica algum crescimento da despesa fiscal, não obstante esse comportamento individual reduzir as pressões orçamentais sobre a despesa pública”, nota o CFP. Ao mesmo tempo, “os encargos associados ao envelhecimento da população, em particular os referentes a pensões e saúde, deverão colocar uma forte pressão sobre o equilíbrio orçamental”.
Já dentro dos riscos fortuitos, “incluem-se as alterações climáticas e eventos catastróficos, que constituem também riscos orçamentais relevantes”. Estas “permanecem como um dos maiores riscos descendentes sobre o crescimento económico e sobre as finanças públicas, quer a nível global, quer a nível nacional”.
Apesar de Portugal já ter adotado diversos acordos, planos e legislação para a mitigação e a adaptação face às alterações climáticas, “tarda em implementar, articular e executar as ações e medidas propostas nestes, incluindo o estipulado na Lei de Bases do Clima”. Além disso, é necessário perceber melhor quais são as necessidades de investimento público e privado até 2050 para a efetiva concretização destes instrumentos, nota o CFP.
O organismo destaca ainda como risco a rubrica da defesa nacional, que tem vindo a ganhar importância num contexto de vários conflitos internacionais. Portugal registou uma despesa de, aproximadamente, 1,4% do PIB em 2022 nesta área, o que fica abaixo dos 2% definidos no “Compromisso de Investimento na Defesa” assumido pela NATO. “Daqui pode decorrer uma pressão para a despesa pública”, indica a entidade.
Finalmente, há riscos condicionais associados a passivos contingentes, que em 2021 ascenderam a 50,4% do PIB. Três quartos deste valor diziam respeito a entidades financeiras controladas pelas Administrações Públicas, classificadas fora do perímetro orçamental. Mesmo assim, “excluindo os passivos destas entidades financeiras, e utilizando informação disponível relativo ao ano de 2022 observou-se uma redução generalizada das responsabilidades contingentes em rácio do PIB para níveis inferiores ao verificado no ano pré-pandemia”, ressalva o CFP.
Este risco diminuiu, nomeadamente depois de se verificar o “decréscimo das responsabilidades relativas ao mecanismo de capitalização contingente do Novo Banco, que contribuíram para que as responsabilidades com garantias públicas se reduzissem para 4,5% do PIB”.
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