Centrais sindicais contestam apelos à prudência nos aumentos salariais
"Nós já vimos em momentos anteriores que este tipo de política o que faz é atrasar o desenvolvimento e não traz progresso", diz Isabel Camarinha. UGT critica BCE e Comissão Europeia.
As centrais sindicais UGT e CGTP contestam os apelos dos bancos centrais à prudência nos aumentos salariais e defendem que a subida dos rendimentos não é um risco para a economia, mas antes um fator de progresso.
Para a secretária-geral da CGTP, Isabel Camarinha, “não fazem sentido absolutamente nenhum os apelos à contenção salarial” dos bancos centrais, nomeadamente o pedido feito este mês pelo governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, que defendeu que a prudência deve orientar os aumentos salariais.
“O que nós precisamos é do aumento geral e significativo de todos os salários, das pensões, para garantir que há uma melhoria do poder de compra de quem trabalha e trabalhou no nosso país, até para o desenvolvimento da própria economia”, defende Isabel Camarinha, em declarações à Lusa. “Nós já vimos em momentos anteriores que este tipo de política o que faz é atrasar o desenvolvimento e não traz progresso, não traz desenvolvimento económico”, acrescenta a líder da CGTP.
Também para o dirigente da UGT, Sérgio Monte, é “um erro” afirmar que a inflação é provocada pelos ganhos salariais dos trabalhadores e o aumento do salário mínimo ao longo dos últimos anos veio comprovar que isso é “uma falsa questão”.
Segundo refere Sérgio Monte, “há uns anos alguns economistas e também o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia” receavam que a subida do salário mínimo levasse ao aumento do desemprego e provocasse falências de empresas, mas “provou-se que nada disso era verdade”.
As taxas de juro subiram “como reação do Banco Central Europeu àquilo que foi a inflação”, mas esta “não é provocada pelo aumento dos salários, mas sim pela oferta” ou seja pela subida dos preços dos produtos alimentares, energéticos e dos combustíveis em consequência da guerra na Ucrânia.
“O tratamento do Banco Central Europeu e das outras instâncias é quase sempre o mesmo, é tomar os salários como fator de ajustamento, e nós achamos que isso é errado”, reforça Sérgio Monte. De acordo com o dirigente da UGT, é preciso “ter algum cuidado” com estes apelos à contenção salarial porque, “para estas entidades quase nunca é a altura boa para aumentar salários”.
Sérgio Monte considera que o acordo do médio prazo, assinado na Concertação Social em outubro de 2022 pela maioria dos parceiros, incluindo a UGT, e o Governo “é perfeitamente comportável”, ao estipular referenciais de aumentos salariais de 5,1% para 2023, de 5% para 2024, de 4,8% para 2025 e de 4,7% para 2026 que, na sua opinião, “não provocam inflação”.
Isabel Camarinha diz que a população está a empobrecer a trabalhar “ao mesmo tempo que os grandes grupos económicos e financeiros, nomeadamente a banca e grupos económicos da energia, da distribuição e muitos outros, acumulam níveis escandalosos de lucros”.
A líder da CGTP aponta que o país está “muitíssimo longe” da média europeia em termos salariais e defende que é fundamental “um aumento geral e significativo dos salários”, considerando que a reivindicação da intersindical de uma subida salarial de pelo menos 15% com um mínimo de 150 euros para todos os trabalhadores em 2024 é “realista” e que terá efeitos positivos também no desenvolvimento da economia.
Em 04 de dezembro, o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, defendeu que um aperto da política monetária maior do que o necessário pode colocar em causa os investimentos e aspirações dos trabalhadores e que a prudência deve orientar os aumentos salariais.
Na análise do governador sobre as consequências dos desenvolvimentos no mercado de trabalho europeu para a evolução da inflação pode ler-se que “as políticas monetárias e fiscais devem reconhecer os desafios do mercado de trabalho, reconhecendo que a procura de trabalho é uma ‘procura derivada’ da atividade económica”.
Segundo Mário Centeno, “preservar os investimentos e as aspirações dos trabalhadores é incompatível com um aperto mais do que o necessário”. O responsável do banco central português defende que “a prudência deverá orientar os aumentos salariais”, considerando que devem ser impulsionados por ganhos de produtividade, como observado nos últimos 35 anos.
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