Portugal vai vender dívida na Ásia à boleia da subida do rating
O IGCP vai fazer no início de 2024 um "roadshow" para atrair mais investidores para as obrigações do Tesouro nacionais. Subida do rating da S&P para "A" pode chegar em abril.
O IGCP vai realizar um roadshow na Ásia no início do próximo ano, aproveitando a melhoria da classificação de risco da dívida portuguesa, que este ano entrou para o patamar ‘A’ da Fitch e Moody’s. O Governo acredita que o mesmo pode acontecer com a S&P Global em abril, conseguindo o pleno das três maiores agências.
A “operação de charme” junto dos investidores asiáticos foi revelada esta quarta-feira pelo secretário de Estado das Finanças, João Nuno Mendes, durante o Investment Management and Pensions Forum, uma conferência organizada pela Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios (APFIPP). O objetivo é diversificar o investimento na dívida pública portuguesa: “O aumento da pool de investidores e da procura cria melhores condições para uma trajetória positiva da taxa de juro da divida portuguesa”, justificou ao ECO.
Não é a primeira vez que Portugal procura seduzir investidores asiáticos. Em maio de 2019 tornou-se o primeiro país da Zona Euro a emitir obrigações em moeda chinesa, as chamadas Panda Bonds. Foram colocados 2.000 milhões de renminbis, reembolsados em junho de 2022.
O roadshow procura tirar partido da dinâmica positiva da dívida portuguesa e das recentes subidas da classificação de risco. No final de setembro, a Fitch subiu o rating de Portugal, de ‘BBB+’ para ‘A-‘ e em novembro foi a vez da Moody’s, que elevou a notação de ‘Baa2’ para ‘A3’. Entre as três grandes agências, só a S&P Global mantém o país no patamar B. Mas isso deverá mudar nos próximos meses.
S&P pode subir Portugal para ‘A’ em abril
João Nuno Mendes afirmou na sua intervenção na conferência que a S&P poderá colocar Portugal na primeira divisão dos ratings por volta de abril. Em setembro, a agência manteve a classificação em ‘BBB+’, mas melhorou a perspetiva para “positiva”, o que normalmente aponta para uma revisão em alta alguns meses depois. A próxima janela de decisão deverá ser em março ou abril.
O facto de já termos duas das três grandes agências com ‘A’ já significará um efeito muito significativo de mais investidores para Portugal e mais procura pela dívida portuguesa. Se tivermos também a S&P, naturalmente será bem-vindo e muito positivo.
“É uma possibilidade para a qual temos uma expectativa positiva, mas que depende da avaliação da agência”, aponta o secretário de Estado das Finanças. “O facto de já termos duas das três grandes agências com ‘A’ já significará um efeito muito significativo de mais investidores para Portugal e mais procura pela dívida portuguesa. Se tivermos também a S&P, naturalmente será bem-vindo e muito positivo”, acrescenta.
João Nuno Mendes mostrou na conferência da APFIPP os argumentos que a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) levará para o roadshow. Portugal tinha a 12 de dezembro a nona taxa de juro mais baixa nas obrigações com maturidade a 10 anos (2,88%) entre os países da moeda única, menos de dois pontos base acima da taxa dos títulos da União Europeia (2,79%), praticamente igual à da Bélgica (2,82%) e abaixo da Eslovénia (3,09%) e Espanha (3,19%).
“É muito importante referir que pela primeira vez na história temos um rating da Moody’s, que está acima de Espanha”, destacou o governante, afirmando que a diferença na taxa face ao país vizinho representa uma poupança entre 900 milhões e 1,2 mil milhões em juros no stock da dívida portuguesa por ano.
O secretário de Estado das Finanças salientou também que Portugal deverá terminar o ano com uma dívida pública de 103% do PIB, inferior à Bélgica, Espanha e França. Em 2024, deverá baixar dos 100%, afastando o país do grupo dos mais endividados. “Podemos antecipar que a diferença entre Portugal e estes países irá aumentar nos próximos anos, olhando apenas para o diferencial no défice das contas públicas, que neste momento ronda os 3 a 4 pontos percentuais”, referiu.
Só três Estados-membros têm previsto um excedente orçamental este ano: Chipre, Irlanda e Portugal. Espanha antecipa um saldo negativo de 3,9%, França de 4,9% e a Bélgica de 5,2%.
João Nuno Mendes destacou por fim a melhoria do sistema financeiro nos últimos anos, que apresenta já níveis de capital superiores à média da União Europeia. “O rácio de Comon Equity Tier 1 em Portugal está em 16,2%, acima dos 16% da UE”, detalhou.
Argumentos com que o IGCP vai “vender” a dívida portuguesa junto dos investidores asiáticos, procurando com o aumento da procura baixar ainda mais as taxas a que Portugal se financia.
Assine o ECO Premium
No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.
De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.
Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.
Comentários ({{ total }})
Portugal vai vender dívida na Ásia à boleia da subida do rating
{{ noCommentsLabel }}