Como a banca perdoou mais de 100 milhões ao Sporting
Só nos VMOC, o Sporting conseguiu um perdão de 96 milhões do Novobanco e do BCP, mas também teve desconto na dívida bancária. Fundo Apollo financiou operação. SAD pisca o olho a novo investidor.
O Sporting obteve um perdão do Novobanco e do BCP na ordem dos 96 milhões de euros por conta dos chamados Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis (VMOC) da SAD sportinguista, mas os leões conseguiram recomprar outros financiamentos junto dos dois bancos com desconto. Como fez? Estes cinco números ajudam a explicar a operação financeira.
Novobanco perdoa 36 milhões nos VMOC…
Esta quarta-feira, o clube liderado por Frederico Varandas anunciou um acordo com o Novobanco para recomprar 51,4 milhões de VMOC da SAD pelo preço de 15,4 milhões de euros, com quase 36 milhões a serem perdoados pelo banco.
No âmbito deste acordo, os leões irão pagar ao Novobanco apenas 30 cêntimos por cada VMOC cujo preço original era de 1 euro, assegurando um desconto de 70%. Este desconto já estava previsto no acordo de reestruturação financeira assinado em 2019.
Estes VMOC (e os do BCP também) remontam a 2014, quando os dois bancos acordaram transformar empréstimos nestes títulos que se transformariam em capital da SAD no final do seu vencimento (iam expirar em 2026). Mas ao longo da última década o Sporting foi renegociando os termos destes VMOC com as duas instituições, culminando nesta operação com o Novobanco.
E BCP perdoa outros 60 milhões
O negócio fechado agora com o Novobanco tem implicações numa operação do mesmo género que foi fechada em março de 2022 com o BCP.
Na altura, os leões negociaram a compra de 83,4 milhões de VMOC ao BCP, pagando apenas 16,8 cêntimos por cada um, tendo então desembolsado 14 milhões de euros, com o banco a tentar fazer a sua defesa para uma operação em que ia perder quase 70 milhões. Mas ficou então estabelecido um ajustamento do preço a pagar pelos VMOC em função de um futuro contrato a ser celebrado com o Novobanco.
Por causa deste mecanismo, o preço dos VMOC a pagar pelo Sporting subiu agora para os 27,9 cêntimos por título, o que permite agora ao banco liderado por Miguel Maya receber mais 9,3 milhões, num total de 23,3 milhões. Ainda assim, contas feitas, o BCP perdoou 60,1 milhões aos leões na questão dos VMOC (desconto de 72%).
Há mais perdões além dos VMOC
O acordo com os dois bancos permitiu ainda à SAD do Sporting comprar outros créditos bancários na ordem dos 100 milhões de euros… com desconto. Não foram adiantados valores em relação ao haircut nestas dívidas.
No caso do Novobanco, a Sporting SAD adiantou esta quarta-feira que recomprou uma dívida bancária de 35,4 milhões de euros (referindo-se apenas ao capital em dívida, sem contabilizar juros) através da sociedade Sagasta Finance, um veículo financeiro do fundo Apollo, por via da antecipação de receitas televisivas.
O mesmo havia feito no ano passado com o BCP em relação a um crédito de 40 milhões.
Quase 114 milhões do fundo Apollo substituem bancos
Como é que o Sporting financiou estas operações? Através da antecipação de receitas relativas aos direitos televisivos dos jogos de futebol (o chamado factoring) junto da referida Sagasta Finance, do fundo Apollo, que já adiantou aos leões um montante total de 113,9 milhões de euros (dos quais 50 milhões foram adiantados agora). Este dinheiro serviu para comprar a dívida bancária e os VMOC aos dois bancos.
Após o acordo com o Novobanco, a SAD leonina “alterou a sua exposição financeira para apenas a Sagasta, exceto locações financeiras” na ordem dos sete milhões de euros. Nos relatórios e contas do Sporting, onde antes se lia Novobanco e BCP, vamos passar a ler apenas Sagasta Finance.
Sem esquecer que a administração de Frederico Varandas tem um empréstimo obrigacionista de 40 milhões de euros que terá de ser reembolsado/refinanciado em novembro próximo ano.
Clube passa a deter 88% da SAD e pisca o olho a investidores
Voltando à questão dos VMOC do Novobanco, quando for acionado o direito de opção de vencimento antecipado, o Sporting ficará com ações da Sporting SAD correspondentes ao valor nominal dos VMOC (1 euro cada).
Em resultado da conversão dos VMOC em ações, através de um aumento de capital, o clube leonino passará a deter 87,994% do capital da sua SAD – face aos 83,895% que detém atualmente –, sendo que Álvaro Sobrinho (13,283%) e a Olivedesportos (1,418%) vão ver as suas participações diluídas.
Esta quarta-feira, após anunciar o acordo com o Novobanco, o Sporting revelou que deu um passo para arrancar com “a fase 2.0 do planeamento estratégico” que visa a entrada de um investidor para “uma parceria estratégica minoritária no capital na SAD”.
Recorde-se que a dívida do Novobanco chegou a atrair vários interessados internacionais, incluindo a RedBird Capital Partners, acionista da Fenway Sports, fundo que detém o clube inglês Liverpool.
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