Em quatro anos, Fundação Oriente injetou 38 milhões no banco que vai vender por 20 milhões
Banco Português de Gestão recebeu mais três milhões do acionista no final do ano passado. Chineses do Vcredit, que vão comprar o banco por 20 milhões, olham como porta de entrada para mercado europeu.
A Fundação Oriente injetou mais três milhões de euros no Banco Português de Gestão (BPG) no final do ano passado. Só nos últimos quatro anos, o banco realizou aumentos de capital de quase 40 milhões de euros. E isto quando se prepara para ser vendido por cerca de 20 milhões (mais variáveis) ao grupo chinês Vcredit.
O valor da venda pode subir em função de variáveis relacionadas com o desempenho do banco no futuro, nomeadamente com a utilização dos ativos por impostos diferidos (DTA) e às receitas que tiver com a venda de determinados imóveis. Mas o grupo chinês acordou pagar, no máximo, até 35 milhões de euros à Fundação Oriente, menos do que o montante que já foi injetado no banco desde 2020.
Só no ano passado, a fundação liderada por Carlos Monjardino injetou cinco milhões no BPG em dois aumentos que elevaram o capital para 107 milhões de euros, de acordo com o portal dos atos societários do Ministério da Justiça. Com estas duas operações, a última das quais já nos últimos dias de 2023, o banco já teve um reforço de 38 milhões face ao capital que registava no final de 2019, quando se situava nos 70 milhões.
“A injeção de capital estava prevista e acompanha o plano de evolução do banco”, responde a instituição financeira em resposta a questões colocadas pelo ECO. A mesma fonte adiantou que o aumento de capital foi subscrito e realizado pela Fundação Oriente (detentora de 98,43% do capital do banco) e pela Fundação Eng.º António de Almeida (0,02%).
Estas injeções têm servido para a instituição cumprir com os requisitos regulamentares, designadamente atingir os rácios de capital exigidos pelo regulador. O BPG tem realizado um esforço de limpeza do balanço nos últimos anos, depois de o malparado ter superado os 60% em 2018, com a reestruturação a ter impacto nos resultados e no capital: acumula prejuízos de mais de 50 milhões nos últimos seis anos, incluindo os prejuízos de 3,8 milhões que registava até setembro do ano passado.
Em dezembro de 2022 registava já um rácio de NPL líquido de imparidades de apenas 2%, com o rácio de cobertura a atingir os 99%. E, como explicava o chairman João Costa Pinto no relatório e contas, foi “graças aos aportes de fundos realizados pelo acionista que o banco vem mantendo os rácios de capital em pleno alinhamento com a regulação e os indicadores de liquidez em posição excedentária”.
Este esforço de limpeza do balanço também não é indiferente à tentativa de venda do BPG por parte da Fundação Oriente, que controla mais de 98% do banco. Já teve comprador no passado, mas o processo não chegou a um bom porto. Está em curso uma nova operação. Como o ECO revelou em agosto, há um acordo de compra e venda de 100% do capital do BPG com os chineses da Vcredit por cerca de 20 milhões de euros.
O negócio será feito com base na situação líquida do banco quando se realizar a transação: em setembro apresentava capitais próprios de 18 milhões.
Porta de entrada na Europa
Para a Vcredit, a aquisição do banco português servirá de porta de entrada para se expandir no mercado europeu, a começar por Espanha, conforme indicou o CEO do grupo, Stephen Liu, numa conference call com os analistas, realizada em agosto do ano passado.
“O BPG é na verdade um banco comercial totalmente licenciado, registado no Banco de Portugal, enquanto Portugal faz parte da União Europeia. Após concluirmos com sucesso esta transação, planeamos expandir os nossos negócios na Europa, começando por Portugal, mas provavelmente, mais tarde, expandiremos para Espanha e alguns outros países”, declarou o responsável.
“Atualmente, a nossa administração está a formular a nossa estratégia. Mas essa é definitivamente a nossa intenção”, acrescentou.
"Após concluirmos com sucesso esta transação, planeamos expandir os nossos negócios na Europa, começando por Portugal, mas provavelmente, mais tarde, expandiremos para Espanha e alguns outros países.”
Stephen Liu explicou ainda aos analistas que estão “particularmente interessados no negócio da banca digital, principalmente no crédito ao consumo e na gestão de património de particulares”.
Para já, a operação ainda “está em fase de apreciação pelo Banco de Portugal”, esclarece o BPG ao ECO.
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