Mark Bourke diz que mercados ainda não estão abertos para o IPO do Novobanco e afasta cenário de consolidação. "Fala-se constantemente em consolidação e isso nunca aconteceu", afirma CEO do Novobanco.
O Plano A do Novobanco passa pelo IPO (initial public offering), mas ainda não estão reunidas as condições para esse momento, adianta o CEO Mark Bourke, em entrevista ao ECO. Em primeiro lugar porque “o mercado ainda não está aberto” a este tipo de operações. Depois porque falta antecipar o fim do acordo de capital contingente (CCA), algo que está dependente de um entendimento do Lone Star e do Fundo de Resolução. Só depois disso é que avançará para a bolsa, o que pode acontecer ainda no primeiro semestre.
E consolidação com outro banco? “Há 15 ou 20 anos que ouço esta história de consolidação, mas nunca aconteceu nada”, atira quem considera que um mercado com cinco grandes concorrentes “funciona de facto”.
Com este conjunto de resultados o banco já está preparado para um IPO?
Escolherei as palavras com cuidado. Eu uso as palavras operacionalmente, pronto. Portanto, o que prevemos é um IPO (initial public offering ou oferta pública de venda). O nosso trabalho é e foi colocar-nos numa situação de IPO. É e tem sido consistentemente o plano A, porque é a única coisa que se pode planear: levar o banco para o mercado. Este plano considera um mercado que não muda de configuração e no qual estamos a competir e a ter bons resultados.
A última parte, porém, antes de estarmos prontos, é que teremos de criar efetivamente um balanço normalizado, o que envolveria saídas de capital, saída de dividendos e emissões de MREL [títulos de dívida para cumprimento dos minimum requirement eligible liabilities], e só então estaríamos prontos para avançar. Em 2025, o banco estará definitivamente pronto. Poderá estar pronto antes disso.
Tendo em conta estes resultados, 2024 não é o ano para o fazer?
Há uma última peça que falta. Os mercados não estão hot, não estão abertos.
Os mercados já mostraram apetite pelo IPO ou estão a dizer-lhe que provavelmente prefeririam uma fusão e consolidação do mercado?
São duas perguntas. O mercado escandinavo e o mercado irlandês têm um ou dois bancos. E depois há o mercado alemão, onde há milhares, há um em cada cidade. Ambos são maus modelos. Em Portugal estamos no meio, com quatro ou cinco bancos. E, de facto, funciona. Não é uma consolidação excessiva. Nenhum investidor olha para este mercado e pensa: “De facto, esta configuração não funciona”.
O segundo ponto é em relação a nós. As pessoas que estão a olhar para nós tal como estamos no mercado. Compra-se como está. Passámos muito tempo com os mercados de dívida e, agora, não só com o mercado de ações, mas também com os fundos de ações e fundos soberanos. Todos eles estão interessados.
Mas os mercados em si estão em baixa e os bancos ainda estão com avaliações muito baixas. Os múltiplos aplicados aos bancos, quer em termos de valor contabilístico quer em termos de rendibilidade, ainda são muito baixos, são aproximadamente metade do que eram em termos históricos, em média.
"Em Portugal estamos no meio, com quatro ou cinco bancos. E, de facto, funciona. Não é uma consolidação excessiva. Nenhum investidor olha para este mercado e pensa: ‘De facto, esta configuração não funciona’.”
Está confiante que este nível de mercado, com cinco bancos, se vai manter nos próximos cinco anos?
Fala-se constantemente em consolidação no setor e isso nunca aconteceu. Falar sobre o que poderia ser ou sobre o que poderia vir a ser não altera o facto de eu ter um trabalho a fazer todos os dias.
Em Espanha, insistem que a Lone Star está a tentar vender o banco ao CaixaBank, o proprietário do BPI. O que é que sabe sobre isso?
Tanto quanto sei, não existem quaisquer conversações nesse sentido. E quem é que publica isso na imprensa espanhola?
Não faria sentido uma fusão com o BPI?
Porque é que faria sentido? Voltamos ao mesmo ponto, ou seja, há 15 ou 20 anos que ouço esta história de consolidação, mas nunca aconteceu nada. O que acontece é que nós temos de nos levantar da cama todos os dias e gerir um negócio. E agora a Fitch deu-nos o grau de investimento.
Vou desviar-me das vossas perguntas e dar-vos a minha resposta, que é a seguinte: em dois anos, subimos sete níveis no rating. Estávamos no nível ‘CCC’, a competir em desvantagem com os outros bancos. Agora estamos na mesma posição que os outros bancos e estamos a competir razoavelmente bem.
Pensava que seria possível melhorar tanto o rating num período tão curto?
Penso que ninguém diria que seria possível fazê-lo em dois anos, porque temos a certeza de que nunca ninguém o fez. As condições, a alteração das taxas de juro, todas estas coisas contam, mas, mais uma vez, trata-se de 4.000 pessoas que trabalharam durante dez anos para dar a volta a um banco, para fazer a limpeza e para fazer o relançamento efetivo do banco. E isso é um grande elogio para as pessoas que estão envolvidas e para os clientes que se mantiveram connosco.
Quando cheguei, conheci as pessoas nesta instituição e a sua qualidade, pensei que era realmente um projeto muito viável desde o início. Depois, o nível de sucesso, nunca se sabe.
Como é que viu a alteração da participação acionista no BCP?
Não afeta o BCP. É importante para os acionistas do BCP.
Já falámos do CCA: é possível antecipar o fim do acordo para este ano? É desejável?
O CCA já não vai ser um instrumento a que se irá recorrer. Como muitas vezes acontece nos contratos, há litígios sobre partes do mesmo. Mas 3,4 mil milhões de 3,9 mil milhões foram usados para dar a volta ao banco com muito sucesso. Se o fim antecipado do contrato pode acontecer ou não, é uma questão para os acionistas. Se isso acontecer, coloca-nos um pouco mais perto do caminho rumo ao IPO.
E como é que avalia a recente decisão do tribunal arbitral sobre este litígio de 169 milhões de euros?
Foi a última parte de um processo. Já tinha sido, de facto, uma decisão que tinha sido tomada pelo Fundo de Resolução. O tribunal agora confirmou.
"Se o fim antecipado do contrato pode acontecer ou não, é uma questão para os acionistas. Se isso acontecer, coloca-nos um pouco mais perto do caminho rumo ao IPO.”
O envolvimento do Estado português traz algum tipo de dificuldade ao Plano A? Os investidores perguntam-lhe sobre isso? Estão confortáveis com a presença do Estado português na estrutura acionista do banco?
Estão. Mas a resposta mais importante a essa pergunta é que não há nenhuma declaração de interesse estratégico ou de participação por parte do Estado, seja o Fundo ou o ministério. Por isso, sim, fazem-nos a pergunta, mas não, não é relevante para eles.
Partilham a vossa estratégia com o Fundo de Resolução em termos de IPO ou do que pretendem fazer?
Todos os nossos acionistas têm exatamente o mesmo nível e acesso de informação. E, na verdade, temos a comissão de acompanhamento no nosso conselho de administração. Por isso, falámos com todos os acionistas.
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“Mercado com cinco bancos funciona de facto”
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