“Façam o favor de pôr mais pessoas no mercado”
Várias empresas tecnológicas queixaram-se de problemas na captação e retenção de talento no setor. O apelo às Universidades foi feito na Semana da Economia, em Braga: "Precisamos de mais pessoas."
As empresas tecnológicas têm dificuldade em encontrar e reter talento. É uma tendência que o setor tem vindo a observar nos últimos tempos e que ficou evidente pelas intervenções de vários empresários esta quinta-feira, em Braga. A InvestBraga juntou representantes de grandes companhias na Universidade do Minho, no âmbito de uma iniciativa sobre software desenvolvido no concelho e com expressão a nível internacional.
Um dos primeiros a abordar o tema foi Rui Paiva, presidente executivo da WeDo Technologies, fazendo referência a um “problema” de “densidade de recursos”. E acrescentou: “Estamos a equacionar fazer o crescimento adicional não aqui mas no Brasil, porque lá o tema da quantidade humana não é um problema”, disse. O assunto permaneceria, a partir dali, como um dos principais temas em cima da mesa ao longo da tarde.
Outro dos participantes a falar da escassez de recursos humanos qualificados foi Pedro Lopes, managing director da Accenture Technology. A consultora abriu recentemente um pólo em Braga, onde tem a trabalhar cerca de uma centena de pessoas e quer contratar mais uma centena, até chegar aos 400 trabalhadores no concelho ao fim de dois anos.
“A ideia de vir para Braga foi um pouco para diversificar o que é a nossa oferta e por escassez de recursos de que temos vindo a falar. Há mercados mais saturados e Lisboa é um mercado claramente saturado. É muito difícil contratar as pessoas com os skills certos”, desabafou. E chegou mesmo a encerrar o debate com um apelo: “Precisamos de mais pessoas. Façam o favor de pôr mais pessoas no mercado. Formem mais pessoas porque estamos a precisar.”
"Precisamos de mais pessoas. Façam o favor de pôr mais pessoas no mercado. Formem mais pessoas porque estamos a precisar.”
A ideia foi ainda partilhada por José Dionísio, co-CEO da Primavera BSS, outra empresa de Braga com operação a nível internacional. No entanto, o gestor foi um pouco mais longe, apontando para os planos curriculares dos cursos superiores e expondo o “grande desafio” que a universidades portuguesas enfrentam. “A mudança que o mundo está a sofrer exige uma enorme flexibilidade do sistema de ensino”, defendendo que as instituições de ensino deveriam poder mais facilmente alterar os planos curriculares face à rápida evolução tecnológica.
E acrescentou: “Precisamos, acima de tudo, de pessoas criativas e com uma competência técnica, social, saber estar, um nível de globalização que hoje felizmente nos vai chegando — sabemos que, quando contratamos um jovem de 21 anos, já viajou como alguns de nós aos 40 ainda não tínhamos viajado. É um desafio as universidades adaptarem os seus currículos mais rapidamente para não estarmos cinco anos a fazer a mesma coisa.”
A mudança que o mundo está a sofrer exige uma enorme flexibilidade do sistema de ensino.
Há condições, falta é luz verde
Certo é que o assunto não surgiu por mero acaso. Apareceu logo na abertura, pela voz de António Cunha, reitor da Universidade do Minho. Após abordar algumas tendências tecnológicas para a próxima temporada, como a computação quântica que deverá chegar num horizonte de duas a três décadas, o responsável da instituição de ensino disse: “A Universidade tem a certeza que está a fazer bem, mas sabemos que podemos fazer melhor e em quantidades mais significativas. Estamos a fazer um esforço nesse sentido”, indicou, para depois assumir uma “impossibilidade de aumentar o número de estudantes” por falta de parecer do ministério nesse sentido.
"Estamos em condições de aumentar significativamente o número de estudantes.”
Ministério esse que, pouco depois, também esteve naquele mesmo auditório, bem representado na pessoa de Manuel Heitor, ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Foi nessa altura que António Cunha disse, com todas as letras: “Estamos em condições de aumentar significativamente o número de estudantes. É importante o senhor ministro sentir este vibrar e perceber esta pressão que existe sobre o sistema.” Questionado pelo moderador sobre a possibilidade de a Universidade do Minho “dobrar o número de alunos”, o ministro Manuel Heitor explicou que “a questão não é a Universidade do Minho, é o sistema” como um todo. E indicou que é necessária diversidade.
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