Bruxelas prevê crescimento dos salários nos próximos trimestres
Bruxelas espera que o mercado de trabalho “permaneça resiliente perante uma economia em estagnação”. Há poucas provas de que tenha atingido um ponto de viragem e se espera um aumento do desemprego.
A Comissão Europeia espera que se mantenha um crescimento dos salários nos próximos trimestres, em resposta às exigências dos trabalhadores para recuperar o poder de compra perdido em anos anteriores, mas sem alimentar a inflação, antecipa o organismo europeu nas previsões económicas de inverno publicadas esta quinta-feira.
No relatório no qual reviu, pela terceira vez consecutiva, as perspetivas de crescimento da economia da Zona Euro, para 0,8% este ano, e para 0,9% na União Europeia, Bruxelas considera que a expectativa de aumentos salariais é “corroborada pelo aumento dos salários negociado para os trabalhadores com contrato de trabalho.
“A taxa de crescimento homóloga dos salários negociados na Zona Euro acelerou 4,7% no terceiro trimestre de 2023 (acima de 4,4% no trimestre anterior), o valor mais elevado da série. No entanto, o indicador de crescimento dos salários nominais nas ofertas de emprego (ou seja, para trabalhadores recém-contratados) revelou uma desaceleração no quarto trimestre de 2023. Isto é válido para vários Estados-membros da Zona Euro, como Alemanha, França e Espanha. Na Holanda aconteceu o oposto”, escreve a Comissão.
Estes aumentos vão permitir recuperar as perdas passadas nos rendimentos reais dos trabalhadores, mas não irão alimentar a inflação, prevê Bruxelas. “O crescimento decrescente nas margens de lucro sugere que as empresas absorvem o aumento dos custos de trabalho, em vez de os repassar para os consumidores através de um aumento dos preços”, explica a Comissão, acrescentando que “à medida que o crescimento económico ganha ritmo, a produtividade do trabalho vai aumentar e acomodar um crescimento salarial mais elevado do que a inflação em 2024 e 2025”.
Bruxelas espera que o mercado de trabalho “permaneça resiliente perante uma economia em estagnação”, tendo em conta os dados das contas nacionais dos vários Estados-membros, que apontam para a continuação do crescimento do emprego, a manutenção da taxa de desemprego em dezembro e os dados sobre as necessidades de trabalho não satisfeitas.
A Comissão sublinha que o crescimento do emprego tem sido acompanhado de uma estagnação das horas de trabalho, o que pode ser interpretado como um “sinal de acumulação de mão-de-obra por parte das empresas europeias”. “A relutância das empresas em reduzir o emprego pode ser explicada pelas dificuldades sentidas pelas empresas na contratação de trabalhadores, especialmente para competências específicas”, mas também para evitar terem de formar trabalhadores e terem a mão-de-obra necessária para compensar os trabalhadores que se vão reformar, e para satisfazer a procura, que irá recuperar no futuro.
A relutância das empresas em reduzir o emprego pode ser explicada pelas dificuldades sentidas pelas empresas na contratação de trabalhadores, especialmente para competências específicas.
O novo indicador da Comissão Europeia, de acumulação de mão-de-obra, baseado em inquéritos – que mede a percentagem de gestores que esperam que a produção da sua empresa diminua, mas o emprego permaneça estável ou aumente –, corrobora esta avaliação: após o pico alcançado durante a crise da Covid-19, a percentagem de empresas da UE que acumulam mão-de-obra permanece acima dos níveis pré-pandemia, embora em janeiro de 2024 fosse ligeiramente inferior à do ano anterior, explica o relatório. No entanto, “entre as maiores economias europeias, a acumulação de mão-de-obra na Alemanha, França e Holanda ainda é maior face ao ano anterior”.
A Comissão também identifica que o hiato entre a procura e a oferta de trabalho está a diminuir, mas, nas suas previsões, o mercado de trabalho está longe de um ponto de viragem. Há menos empresas a identificar o trabalho como um fator limitativo, tanto na indústria como nos serviços. Ainda assim, o indicador está “bastante acima da média de longo prazo”. “Em suma, o mercado de trabalho parece ainda rígido, segundo os padrões históricos, mas menos do que no final de 2021 e início de 2023”, escreve a Comissão.
“Até agora, há poucas provas de que o mercado de trabalho tenha atingido um ponto de viragem no qual a queda da procura se traduziria numa contração do emprego e um aumento na taxa de desemprego”, prevê Bruxelas. “O mercado de trabalho parece, portanto, preparado para resistir à atual fragilidade da atividade económica. No entanto, espera-se que o crescimento do emprego seja moderado nas próximas recuperações, tendo em conta os sinais de acumulação de mão-de-obra”, alerta o documento.
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