Frente a frente: PS admite viabilizar governo minoritário da AD, Montenegro antecipa acordo com IL
Pedro Nuno Santos afasta moção de rejeição a um governo de direita, mas ataca "irresponsabilidade" orçamental da AD. Montenegro responde com impreparação do ex-ministro.
O tabu foi desfeito. Pedro Nuno Santos admitiu, esta segunda-feira, viabilizar um governo minoritário da Aliança Democrática (AD), coligação que junta PSD, CDS e PPM, no derradeiro dos 28 debates que opuseram oito líderes dos partidos com assento parlamentar, e que juntou o secretário-geral socialista e o presidente do PSD, Luís Montenegro. Num encontro que durou cerca de 75 minutos, e que foi transmitido em simultâneo pela RTP, SIC e TVI, os dois opositores traçaram os planos para o país caso vençam as eleições legislativas de 10 de março.
O palco foi o cineteatro Capitólio, em Lisboa, que teve à porta uma manifestação com centenas de polícias, o que acabou por ser o primeiro tema da noite. Os líderes debateram também temas como a saúde, habitação, educação e pensões, com Montenegro a criticar a atuação de Pedro Nuno Santos enquanto foi ministro e este a apontar o dedo ao programa da AD como sendo “irresponsável”.
Balanço
Pedro Nuno Santos assumiu que “se o PS não ganhar, e por humildade democrática, não apresentará uma moção de rejeição nem viabilizará uma moção de rejeição, se houver uma vitória da AD, que esperamos que não aconteça”.
Do lado da AD, Montenegro não se comprometeu a viabilizar um executivo minoritário do PS, defendendo antes que, sem maioria absoluta, a AD governará com “os deputados da IL”.
Leilão
Pedro Nuno Santos: “Queremos garantir aumentos [extraordinários] nas pensões mais baixas em períodos de baixa inflação”.
Luís Montenegro: “Todos os anos atualizaremos de acordo com a inflação os salários da Função Pública. Temos reservada metade da despesa para, em cima da inflação, ter uma valorização de carreira específica”.
Bottom line
Pedro Nuno Santos: “Não há dogmas em relação aos privados, mas prefiro investir nos hospitais do SNS e dar autonomia às administrações hospitalares”.
Luís Montenegro: “É difícil a AD conseguir por si só ter maioria absoluta dos deputados da AR. (…) está muito alcançável objetivo que era juntamente com deputados da AD e Iniciativa Liberal termos maioria. Se não conseguirmos, governaremos com maioria relativa”.
Número
Pedro Nuno Santos: 800 euros é a meta para o aumento da despesa com dedução em IRS de rendas para habitação própria e permanente, cujo limite é 600 euros.
Luís Montenegro: 50 mil novas casas ao ano, em média, é o objetivo da AD para os próximos quatro anos.
Parecer
Pedro Nuno Santos sabia que o frente-a-frente com Luís Montenegro era a sua última oportunidade para manter efetivas condições para ganhar as legislativas, depois da consolidação de uma ideia de que a Aliança Democrática (AD) tinha ganho a dianteira. E, por isso, entrou ao ataque com uma declaração que é de um primeiro-ministro: Perante uma manifestação de dezenas de polícias à porta do Capitólio, onde decorreu o debate, afirmou que não é possível negociar [com os polícias] “sob coação”, coisa que o presidente do PSD não foi capaz de fazer.
Foi um início de debate que terá deixado Montenegro à defesa, numa área, a da segurança, que seria mais favorável à direita. Depois, o secretário-geral do PS foi, muitas vezes, mais assertivo e deu uma notícia (outra à qual Montenegro não respondeu), a de que não vai aprovar uma moção de rejeição a um governo minoritário da AD, um ato de clarificação e coragem política.
Montenegro ganhou o debate da voracidade fiscal do PS e da justiça social na descida do IRS, nas respostas na saúde – os privados abriram 32 hospitais e o Estado nem um –, na habitação e rendas, mas o final, com as pensões, voltou a mostrar um Pedro Nuno Santos eficaz. No cômputo geral, num debate a olhar muito para trás, Pedro Nuno Santos saiu melhor do que entrou, teve iniciativa e terá recuperado eleitorado indeciso que estava a cair para a AD, e Luís Montenegro vai ter de voltar a trabalhar para recuperar de um debate em que saiu pior do que entrou, e tem cerca de 20 dias de campanha eleitoral para o fazer (e apagar a infeliz comparação que fez, involuntariamente, com toda a certeza, de Passos Coelho a Sócrates).
(Opinião) António Costa, diretor do ECO
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