Quem perdeu e ganhou balanço para a campanha nos debates?
Partidos mais pequenos, como IL e Livre, conseguiram reforçar a base eleitoral. Disputa entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro está renhida. Último debate realiza-se esta sexta-feira.
Ao fim de 28 duelos entre os líderes dos partidos com assento parlamentar, quem esteve melhor ou pior? Em termos gerais, e ainda que com nunces distintas, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, e o líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, estão empatados, podendo conseguir mais uns votos entre os indecisos. Já os partidos mais pequenos, como a Iniciativa Liberal (IL) e o Livre, terão conseguido reforçar a base eleitoral, segundo a análise de vários politólogos consultados pelo ECO.
Num aspeto os académicos em Ciência Política são unânimes: este tipo de debate não muda sentidos de voto, podendo apenas influenciar os eleitores que estão divididos.
“Pedro Nuno Santos começou francamente mal com Rui Rocha. Os debates à esquerda não lhe foram particularmente favoráveis, mas, no último frente a frente com Luís Montenegro, foi bastante melhor, ainda que não tenha sido brilhante”, aponta André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica que, por isso, dá uma nota “neutra” ao líder do PS.
Luís Montenegro recebe a mesma avaliação, mas teve uma evolução diferente. “Na generalidade, os debates correram-lhe bem, Montenegro conseguiu ir afirmando uma imagem em crescendo, o que elevou as expectativas para o último frente a frente. Mas essa tendência foi quebrada no último debate, porque Montenegro esteve pior ao não responder a várias questões como, por exemplo, se viabiliza ou não um governo minoritário do PS”, assinala o mesmo politólogo, salientando, que “a gestão das expectativas jogou a favor de Pedro Nuno Santos”.
“Tendo em conta o mau desempenho do líder do PS nos debates anteriores, as expectativas eram baixas para este último duelo e depois Pedro Nuno Santos acabou por surpreender pela positiva”, explica André Azevedo Alves. Já, em relação a Luís Montenegro, “as expectativas era altas e depois o líder da AD acabou por não conseguir estar à altura”, acrescenta.
Paula Espírito Santo, professora de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, concorda que existiu um equilíbrio entre os líderes nos debates. “Os dois estiveram dentro do registo próprio e são líderes novos, não tinham debatido ainda um com o outro” nestes papéis, aponta.
Apesar de ter existido a “surpresa” com o desempenho de Pedro Nuno Santos pela “expectativa mais baixa e pela firmeza e convicção com que falou do que iria fazer se AD ganhar, bem como sobre o momento das forças de segurança fazerem um protesto não autorizado”, os argumentos de um e outro “acabaram por se equilibrar”. Pedro Nuno Santos “tem facilidade em evidenciar os seus argumentos, mas não se pode dizer que Montenegro tenha ficado muito aquém. Foi fiel ao guião do partido”, considera.
Para a professora do departamento de Ciência Política da Universidade Lusófona, Susana Rogeiro Nina, “Pedro Nuno Santos procurou superar a dualidade de se afirmar como candidato do PS (valendo por si mesmo) e, simultaneamente, afastar-se do legado de Costa, num equilíbrio entre o facto do Partido Socialista ser o incumbente mas o líder não o ser”.
“Já Luís Montenegro teve que lidar com a grande expectativa depositada em si relativamente ao resultado eleitoral, com a pressão do futuro da direita (em particular o travão ao Chega) e do seu futuro como líder do PSD”, assinala a politóloga.
Sem querer dar notas aos líderes do PS e da AD, Susana Nino destaca que ambos “tiverem pontos positivos e negativos no debate”. “Em relação ao tema dos professores, Montenegro esteve mal por causa do passado com a troika. Pedro Nuno Santos pontuou mal na habitação, tendo em conta que os problemas atuais são uma herança do ministério que o próprio tutelou”, salientou.
Ainda analisando o conteúdo que os dois usaram nos debates, André Azevedo Alves considera que “houve muito leilão de promessas, leilão de despesa antecipada” e “um jogo do empurra sobre quem cortou as pensões”. “AD promete mais e o PS garante que tem mais credibilidade para gastar, acusando o PSD de aventura ou irresponsabilidade fiscal. Aqui, parece que houve uma inversão de papéis” indica.
Quanto aos temas tratados, Paula Espírito Santo salienta que como já era esperado se destacaram dossiês “mais urgentes como a habitação, saúde e impostos”. Nestas áreas existem algumas semelhanças entre os dois, sendo que “onde houve maior diferenciação foi na parte da fiscalidade e baixa de impostos”, com destaque para a redução do IRC defendida pela AD. Por outro lado, havia “expectativa em relação ao aeroporto” mas “não foi muito clarificante”.
Para a politóloga, Montenegro esteve a tentar “criar uma imagem em relação ao PS e a Pedro Nuno Santos de inconsistência”, enquanto o secretário-geral do PS quis mostrar que Montenegro é “alguém que não decide e que faz o tabu” da governação.
Já Hugo Ferrinho Lopes, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, salienta que “Pedro Nuno Santos tentou passar a imagem de um “fazedor”, ao passo que Luís Montenegro tentou apresentar-se como um candidato “tecnicamente bem preparado”.
O especialista aponta que “nos debates e programas eleitorais, PS e AD partilham o objetivo comum de rever a carreira dos professores e os salários dos profissionais de saúde”. No entanto, “divergem na forma como resolver os problemas do SNS: enquanto o PS está disponível a avaliar a introdução de um tempo mínimo de serviço ao setor público após a formação médica, a AD privilegia as parcerias com os setores sociais e particulares”.
Diferença visível também na crise da habitação: “o PS propôs garantias públicas para empréstimos bancários, uma revisão da atualização das rendas, um aumento nos impostos sobre os ganhos de capital para propriedades não habitadas ou não renovadas, ao passo que a coligação de centro direita se foca na redução de impostos para construção, rendas e compra, injetar habitações não habitadas no mercado e estabelecer parcerias público-privadas para a construção e acolhimento de estudantes”, indica o investigador.
É de destacar ainda o tema das pensões e salários. “É interessante, mas não surpreendente, que tanto PS como AD tenham tentado apelar ao voto de grandes segmentos do eleitorado, como os mais pobres e pensionistas”, argumenta Hugo Ferrinho Lopes. “É um eleitorado que, desde 2015, é desfavorável ao PSD e que o PS conseguiu captar”, mas apenas após as eleições será possível perceber “se a AD conseguiu inverter esta tendência do pós-troika”.
Chega capitaliza na corrupção e nas forças de segurança
Em relação ao presidente do Chega, André Ventura, “o balanço global é positivo”. “Ventura manteve o seu registo habitual, mas não parece que tenha conseguido alargar-se a novos públicos”, sinaliza o especialista em Ciência Política. “André Ventura soube usar o tema da corrupção de forma instrumental, foi a muleta do partido para o discurso antissistema, de colar PS e PSD à corrupção”, completou André Azevedo Alves.
Alinhando pelo mesmo diapasão, Susana Nina indica que temas como “a corrupção e o protesto das forças de segurança, que não são temas que preocupem a maioria dos portugueses, foram bem aproveitados pelo líder do Chega”.
Já Paula Espírito Santo aponta que André Ventura se destacou pela negativa “pelo ruído: não entrou no modelo do debate, foi mais para impedir que os outros apresentassem as suas ideias e impediu esclarecimento e aprofundamento dos argumentos da pessoa com quem debatia”.
Esta postura, para Hugo Ferrinho Lopes, pode no entanto ter apelado ao seu eleitorado. “O eleitorado da direita radical tem características de desilusão com o atual funcionamento do sistema político, pelo que se pode sentir mais atraído por uma postura, também ela, anti-sistema, o que não acontece com a maioria dos outros partidos com representação parlamentar”, nota o investigador.
Rui Rocha e Rui Tavares sobressaem pela positiva
Quem sobressaiu mais pela positiva nos debates foram, na opinião de André Azevedo Alves, os líderes da IL, Rui Rocha, e do Livre, Rui Tavares. “Pelo facto de serem partidos mais pequenos têm maior margem para fazer crescer a sua base eleitoral em relação a partidos maiores”, sustentou o politólogo.
“A IL partiu para os debates com uma posição melhor do que o Livre, mas teve alguma convulsão interna com a saída de Carla Castro do partido. Ainda assim, conseguiu ultrapassar essa questão. Já Rui Tavares pode conseguir entrar no eleitorado do PS e BE”, detalhou o professor da Católica.
Paula Espírito Santo também destaca o desempenho de Rui Tavares, que “tem uma imagem de ser alguém ponderado, reflexivo e com substância no plano de ideias e acabou por ter um bom desempenho porque manteve o registo”. Já de Rui Rocha aponta que “tinha a lição bem estudada”, mas em alguns debates “ficou aquém no plano de vingar os argumentos”.
Já o secretário-geral comunista, Paulo Raimundo, e líder da CDU, coligação que junta PCP e PEV, merece uma avaliação desfavorável. “Quem perdeu mais, porque não acrescentou nada nos debates, foi Paulo Raimundo”, aponta o politólogo. “Raimundo ficou aquém, teve uma linguagem muito estereotipada e não teve a empatia do anterior líder Jerónimo de Sousa. Se quiser identificar um perdedor, entre os partidos pequenos, é Paulo Raimundo”, assinala.
A politóloga discorda, apontando que não existiam expectativas de Paulo Raimundo, mas este “foi combativo e manteve imagem das ideias de força do PCP, como os salários e a produtividade”.
Ao contrário do PCP, a líder do PAN, Inês de Sousa Real, “não desperdiçou oportunidades”. “Mas também não teve um desempenho que tenha permitido alargar a base eleitoral como o Livre e a IL”. Por isso, André Azevedo Alves atribui uma “nota neutra”.
E a coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, “não ganhou muito mas também não perdeu, cumpriu os objetivos”, constata o académico. Paula Espírito Santo também destaca que Mortágua “conseguiu não defraudar os que a seguem, porque foi combativa mas também respeitou os adversários”.
Susana Rogeiro Nina não destaca em particular um líder entre os partidos pequenos, considerando que “todos adotaram uma postura muito estratégica ao falarem sobretudo para o seu eleitorado, conscientes das características, necessidade e ambições que os segmentos eleitorais de cada espetro político”.
A politóloga ressalva que “este tipo de debates pode reforçar o eleitorado e mexer também com os indecisos mas não tem o poder para mudar sentidos de voto”.
O ultimo embate entre os partidos acontece esta sexta-feira, com o debate entre todas as forças com assento parlamentar, na RTP1, a partir das 21h00.
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