“Programa apresentado pelo PS é uma enorme desilusão”, diz presidente da CAP
O perfil do próximo ministro da Agricultura deve ser uma pessoa que conheça o setor em profundidade, com apoio político do primeiro-ministro dentro do Governo e que possa ter posição assertiva na UE.
“O programa apresentado pelo Partido Socialista é uma enorme desilusão”, diz o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) em entrevista ao ECO. Álvaro Mendonça e Moura reconhece que Pedro Nuno Santos está numa “posição difícil”, porque “ninguém pode defender o legado agrícola do atual Governo” e defende a necessidade de o próximo titular da pasta da Agricultura ser alguém “forte com peso político no seio do Governo”.
“Tive muita pena que nos debates dos principais líderes, a agricultura não tenha tido o destaque que julgo que era importante para esclarecer os portugueses. Como aliás a indústria também não teve”, disse Mendonça e Moura. “Relembro um dos debates de Luís Montenegro, no qual foi muito claro no que pretende. Não recordo Pedro Nuno Santos ter tido nenhuma intervenção nos grandes debates, embora compreenda a posição difícil em que está, porque, obviamente, o legado agrícola do atual Governo ninguém o pode defender”, acrescentou o presidente da CAP.
“Em relação aos programas, o programa apresentado pelo Partido Socialista é uma enorme desilusão. Não escondo as palavras. É uma enorme desilusão”, admite o embaixador. No entanto, o responsável reconhece que “há uma medida interessante no programa do PS”: “Estudar formas de pagamento dos serviços do ecossistema. É uma questão importante que deve ser estudada, mas efetivamente, a única medida que ressaltaria”.
Já quanto ao programa da AD, considera que “é bastante mais detalhado, aponta claramente para um reforço do Ministério da Agricultura, de uma gestão a nível nacional da água, que é um problema central para a agricultura e para o conjunto do país”. “O programa da AD, nesse aspeto, vai muito mais longe, é muito mais profundo. Não posso deixar de o salientar aqui”, afirma o embaixador que sucedeu a Eduardo Oliveira e Sousa na liderança dos agricultores nacionais.
“Mas o que interessa é que o Governo faça. Promessas todos ouvimos muitas. Queremos é realidade concreta no terreno”, frisa e isso “começa por um Ministério da Agricultura forte com peso político no seio do Governo”.
Questionado sobre qual a primeira medida que gostaria de ver adotada pelo próximo Governo, Álvaro Mendonça e Moura não hesita: “A primeira medida era a nomeação de um ministro ou de uma ministra da Agricultura forte”, seria “um sinal de que o novo Governo, seja ele qual for, pretende que a agricultura seja um setor realmente estratégico para o país”.
O país precisa, e precisará no futuro previsível, de mão de obra, de mão, de obra estrangeira. Tem é de ser controlada.
O presidente da CAP recusa avançar quaisquer nomes para o cargo – essa será uma prerrogativa do próximo primeiro-ministro –, mas tem uma clara definição de como deverá ser o próximo titular da pasta. “Sei é exatamente o perfil de pessoa que é necessário: uma pessoa que conheça a agricultura em profundidade, que tenha o apoio político do primeiro-ministro dentro do Governo, porque a agricultura não se faz só do Ministério da Agricultura, mas da relação com o Ministério do Ambiente, da Economia, e até com o Ministério da Administração Interna, por causa das questões de segurança. Depois tem de ser alguém apoiado pelo primeiro-ministro que tenha possibilidade de ter uma posição assertiva forte nas discussões a nível europeu”, descreve, lamentando que tanto em Portugal como na Europa a agricultura tenha sido relegada para segundo plano.

A CAP enquanto parceiro social sublinha a importância de se discutir a sustentabilidade da Segurança Social, um tema que não teve o destaque devido nos debates dada a sua “importância estratégica”. Álvaro Mendonça e Moura gostaria de ver reaberta a discussão da redução da Taxa Social Única (TSU), “mas tem de ser visto de uma forma equilibrada”. “Julgo que é tempo de os governos, em sede de Concertação Social, discutirem com os parceiros sociais sem medo. Como é que podemos baixar a TSU sem pôr em causa a Segurança Social. Esse é um diálogo que espero que o Governo futuro, seja qual for, traga para a mesa da concertação social, com ambição, com coragem. Mas tem de ser discutida em sede de Concertação Social”, diz Mendonça e Moura.
O responsável considera que “o país não pode continuar com a ambição que tem tido nos últimos anos”. “Estamos progressivamente a aproximar-nos da cauda da Europa. Já só há sete países atrás de nós”, de acordo com o relatório recentemente publicado pela Comissão Europeia sobre Coesão. “Isto é inaceitável”, diz. “Temos de ter ambição de nos aproximarmos do pelotão da frente da União Europeia e, neste momento, estamos num mau percurso.”
E só com mais crescimento será possível progredir para um salário mínimo de mil euros como defende PS e AD, sublinha.
Questionado se Portugal precisa de um choque salarial e não fiscal, como sugeriu Alexandra Leitão, Álvaro Mendonça e Moura responde: “Ou estamos a brincar ou isso é uma tautologia, porque só pode haver choque salarial se houver crescimento. E para haver crescimento é preciso, desde logo, a ambição de que de que falava”. “E uma das medidas é aliviar a carga fiscal sobre as empresas e sobre os empresários. Repito, com ponderação, porque não podemos pôr em causa o equilíbrio e a sustentabilidade da Segurança Social”, conclui.
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