Paridade salarial só deverá chegar a Portugal em 2071
Se nada for feito de relevante para o extenso fosso salarial entre homens e mulheres, Portugal só deverá atingir a paridade salarial dentro de 48 anos.
O fosso salarial entre homens e mulheres tem aumentado consecutivamente em Portugal desde 2019, segundo os dados mais recentes do Eurostat. Se em 2018 as mulheres recebiam menos 8,9% que os homens pelo mesmo trabalho, em 2022 o fosso salarial era de 12,5%.
Entre os 20 países da Zona Euro, Portugal não foi apenas um dos quatro Estados-membros que registou um aumento do gender pay entre 2019 e 2022. Foi também o país do espaço da moeda única que teve o maior aumento do fosso salarial entre homens e mulheres neste período.
Atualmente, Portugal é o nono país (ex aequo com a Croácia) com a maior disparidade salarial entre homens e mulheres, apesar de apresentar um rácio abaixo da média da Zona Euro (13,1%).
Apesar do retrocesso dos últimos quatro anos, os números do gabinete de estatísticas da União Europeia mostram que, na última década, Portugal foi capaz de reduzir o gender pay a um ritmo médio de 0,25 pontos percentuais.
Assim, adotando uma visão mais otimista, considerando que no futuro a disparidade salarial entre homens e mulheres em Portugal irá reduzir-se ao ritmo dos últimos dez anos, só em 2071, dentro de 48 anos, é que se assistirá a uma paridade salarial entre homens e mulheres em Portugal, segundo cálculos do ECO.
Se nada for feito de relevante para mudar este cenário de desigualdade, significa que Portugal será apenas o 12.º país da Zona Euro a alcançar a paridade salarial, ficando atrás de países como o Luxemburgo, que atingiu a paridade em 2021, de Espanha (2031), Bélgica (2046) ou Alemanha (2047), e até mesmo da média dos países da Zona Euro, que deverão alcançar o nível de igualdade salarial entre homens e mulheres em 2052.
Mesmo assim, o ano de 2071 da paridade salarial em Portugal será 83 anos mais cedo que o ano de 2154, quando World Economic Forum estima que será alcançado a paridade entre homens e mulheres no mundo — considerando não apenas a desigualdade salarial mas também outros elementos como oportunidades económicas, sucesso escolar, saúde e sobrevivência, e poder político.
No entanto, Susana Tavares, professora do ISCTE, nota que os dados do Eurostat não são usados para as estatísticas oficiais portuguesas porque “consideram apenas as empresas com mais de dez trabalhadores”, não espelhando assim a realidade portuguesa, em que a maioria das empresas tem menos que dez funcionários.
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