A Diversidade na Governança: O Seu Lugar Estratégico

  • Filipa Pantaleão e Francisca Norton de Matos
  • 15 Março 2024

A diversidade geracional enriquece a força de trabalho com variadas perspetivas e competências, trazendo oportunidades e desafios para inclusão e equidade.

O ambiente empresarial contemporâneo, é marcado por desafios como alterações climáticas, a pressão regulatória ESG, rápidas inovações tecnológicas e a presença de cinco gerações distintas – dos tradicionalistas até à geração Z – no local de trabalho. Surge a questão: estamos preparados para enfrentar tanta incerteza e complexidade? Em Portugal, apenas 12,2% da direção executiva se situa entre os 27 e os 42 anos, sublinhando a importância de repensar a liderança, alinhando-se com as exigências do século XXI.

"Para obter a verdadeira diversidade de pensamento, é necessário encontrar pessoas que genuinamente tenham visões diferentes e convidá-las para a conversa. ”

Adam Grant

Psicólogo organizacional e professor na Wharton School

A governança desempenha um papel crucial na abordagem desses desafios, atuando como um motor de mudança que capacita as empresas a se adaptarem proativamente aos desafios atuais. A diversidade geracional enriquece a força de trabalho com variadas perspetivas e competências, trazendo oportunidades e desafios para inclusão e equidade. Nesse sentido, é responsabilidade da governança criar os instrumentos necessários para aproveitar essa diversidade como catalisadora de negócios mais eficazes e justos.

Neste contexto, a temática da Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) emerge como essencial. É crucial ir além do simples binómio de género, reconhecendo que a mera retórica sobre a diversidade não é suficiente sem uma abordagem proativa à inclusão. Esta abordagem requer uma mudança de mentalidade, fundamental para promover ambientes empresariais mais inclusivos. Um estudo realizado pelo BCSD e pela EY sobre DEI revelou que na direção executiva das empresas, 73% são homens, dos quais 70% têm entre 43 e 58 anos, e 18% têm mais de 59 – evidenciando um panorama homogéneo. Além disso, o estudo destaca que a grande maioria das empresas carece de objetivos e/ou planos de ação concretos, limitando-se a manifestações de intenção.

Devido às imposições legais, as iniciativas DEI tendem a focar-se principalmente no género e nas deficiências, negligenciando outras dimensões importantes da diversidade. Portanto, é fundamental que a diversidade na governança seja vista como inerente e orgânica, o que implica a incorporação de indivíduos com diferentes idades, formações profissionais/educacionais, origens socioeconómicas, nacionalidades e experiências nos processos de gestão e tomada de decisões.

Assim, o cerne desse processo de transformação está nas mentalidades das pessoas envolvidas e na comunicação eficaz e efetiva. A verdadeira mudança demanda um novo paradigma e aceitação plena da diversidade e inclusão em todos os níveis organizacionais. No entanto, segundo o Estudo BCSD e EY, enfrentamos obstáculos significativos: a resistência à mudança, a promoção da diversidade sem discriminação e a falta de reconhecimento do valor acrescentado da diversidade continuam a ser barreiras. Para as empresas, é desafiante adotar uma abordagem mais proativa em relação à inclusão, muitas vezes devido à falta de expertise ou clareza sobre como implementar efetivamente políticas de DEI.

Para superar essas barreiras, é crucial que a governança assegure acesso ao poder por meio de comités e nomeações diversificadas para os conselhos de administração. Estas medidas não apenas refletem a sociedade em que operam, mas também promovem a inovação, tomada de decisão mais informada e uma cultura empresarial mais inclusiva e minimizam o desalinhamento entre estratégia de longo e curto prazo. Esta disrupção no poder tem fundamento no artigo Boards: Stepping Up as Stewards of Sustainability, referindo a pesquisa Egon Zehnder, que demonstrou que mais mulheres e especialistas em ambiente, uma média de idade mais jovem e um tempo de permanência mais curto no conselho de administração frequentemente têm um efeito positivo na sustentabilidade corporativa.

Concluindo, a promoção da diversidade na governança corporativa fomenta a inovação e a adaptabilidade, ambos ativos essenciais para a sustentabilidade empresarial. Reconhecer a diversidade como uma vantagem competitiva impulsiona a governança a incorporar políticas inclusivas de forma efetiva, abarcando uma ampla gama de dimensões, o que se torna um catalisador de mudança positiva e um facilitador na criação de uma cultura de inclusão integral.

3 Estudo 2023 – Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) no tecido empresarial português

4 Can 5 Generations Coexist In The Workplace? (forbes.com)

5 Posted by Frederik Otto, Rachael De Renzy Channer, Ashley Summerfield, The Sustainability Board Report, November 20, 2022, Harvard Law School Forum on Corporate Governance

6- Fresh impetus for greater sustainability in boards: The significance of board composition in European companies, Egon Zehnder

Nota: esta é a coluna da iniciativa cívica Women in ESG Portugal para o ECO, e por meio deste canal pretendemos trazer conteúdos ligados ao ESG de forma descomplicada para a sociedade, na voz de mulheres, de gerações diferentes, que detêm expertise técnica na área.

Para mais informações, aceda ao site: www.winesgpt.com

  • Filipa Pantaleão
  • Women in ESG Portugal
  • Francisca Norton de Matos
  • Consultora na Sair da Casca

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