Cotadas do PSI cortam custos e sobem margens no terceiro ano de lucros recorde

As empresas do PSI aumentaram as margens em 2023 e consolidaram lucros acima de 5 mil milhões pela primeira vez, com o corte de custos operacionais e financeiros a compensar a queda das receitas.

2023 foi mais um ano de lucros recorde para as maiores cotadas portuguesas. Os resultados líquidos subiram pelo terceiro ano, atingindo um novo máximo, mas ao contrário do que aconteceu em 2022 e 2021, no ano passado foram os cortes de custos operacionais e financeiros, bem como a melhoria das margens, que justificam a melhoria nas contas das empresas.

As 15 empresas do PSI (Ibersol só publica as contas no final de abril) consolidaram lucros de 5.388 milhões de euros no ano passado, o que representa um crescimento de 13% face a 2022 e 51% contra 2021, anos em que os lucros já tinham atingido recordes, mas abaixo de 5 mil milhões de euros e 4 mil milhões de euros, respetivamente.

Se nos anos anteriores os lucros tinham sido fomentados pelo crescimento da atividade, em 2023 a tendência inverteu-se. As receitas baixaram 4% para 94.069 milhões de euros, na primeira queda anual desde 2020 (primeiro ano da pandemia) que contrasta com o crescimento significativo verificado em 2022 (34,7%).

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No EBITDA a travagem também foi pronunciada, mas a variação continua positiva. Os resultados antes de juros, impostos, depreciações e amortizações aumentaram 2% em 2023, para 17.382 milhões de euros, o que também representa o terceiro ano consecutivo de valores recorde neste indicador que é um dos mais fiáveis para medir o desempenho operacional das cotadas. Depois da queda em 2020, o EBITDA registou subidas de dois dígitos nos dois anos seguintes.

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Margens mais altas e custos financeiros mais baixos

A conjugação da queda nas receitas e subida ligeira do EBITDA traduziu-se numa melhoria substancial das margens das cotadas portuguesas, invertendo assim a deterioração sentida nos dois anos anteriores. A margem EBITDA fixou-se em 18,5% no ano passado, acima de 2022 (17,4%) e 2021 (18,1%) e só abaixo do nível recorde de 2020 (19%), ano em que as empresas se focaram nos cortes de custos para se protegerem dos efeitos da redução da atividade devido à pandemia.

A tendência repetiu-se em 2023, com as cotadas portuguesas a demostrarem uma elevada capacidade de reduzir os custos operacionais. Só assim foi possível aumentar o EBITDA num ambiente de descida de receitas. Apesar de ter persistido em níveis elevados, o alívio da inflação assume um papel fundamental na evolução destas rubricas, demonstrando que as maiores cotadas portuguesas mantêm um elevado poder de fixação de preços.

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O corte de custos não se limitou à atividade, pois ao nível financeiro também se verificou uma evolução positiva. As cotadas do PSI consolidaram resultados financeiros negativos de 2.033 milhões de euros, menos 7% do que em 2022. O ciclo de agravamento agressivo de juros encetado pelo BCE há dois anos penalizou fortemente os resultados financeiros em 2022 (agravaram-se mais de 50%), mas no ano passado as cotadas portuguesas mostraram uma melhor adaptação aos custos de financiamento mais elevados.

Dívida dispara e alavancagem agrava-se

Esta melhoria nos resultados financeiros aconteceu num ano em que as cotadas do PSI aumentaram o endividamento a um ritmo acentuado, o que degradou os indicadores de alavancagem financeira. Uma inversão de tendência face ao que aconteceu nos últimos anos.

As empresas fecharam 2023 com uma dívida líquida de 33.211 milhões de euros, uma subida de 18% face ao ano anterior. O endividamento atingiu um máximo desde (pelo menos) 2015 depois de vários anos de subidas mais modestas, ou mesmo reduções, como aconteceu em 2021 (-9,1%).

Em resultado, o rácio que mede a relação entre os resultados operacionais e a dívida deteriorou-se em 2023, contrariando a tendência de melhoria substancial da alavancagem financeira que se verificou no pós pandemia. O EBITDA gerado pelas empresas do PSI corresponde agora a 1,91 vezes o valor da dívida líquida, contra pouco mais de 1,6 vezes em 2022. Ainda assim, nos anos anteriores a 2020 eram necessários mais de dois anos de EBITDA para amortizar toda a dívida.

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Num contexto em que as taxas de juro devem começar a baixar na Zona Euro e Estados Unidos este ano, mas permanecendo em níveis historicamente elevados, o agravamento do endividamento pode representar um fardo para as contas das cotadas portuguesas nos próximos trimestres.

Galp continua acima da EDP. BCP e CTT brilham

Na análise às contas individuais das cotadas do PSI, a tendência foi mista, com um número muito idêntico de empresas que em 2023 baixaram ou subiram os seus indicadores. Sete baixaram os lucros e oito aumentaram, com evoluções muito semelhantes na direção das receitas e do EBITDA, como é visível na tabela em baixo.

Pelo segundo ano consecutivo, a Galp Energia consegue o feito de registar os lucros mais elevados do PSI, ocupando um lugar que foi da EDP durante bastante tempo. A elétrica aumentou os lucros em 40%, mas foi penalizada por perdas não recorrentes de 310 milhões de euros associadas a imparidades na central a carvão de Pecém, nos projetos eólicos na Colômbia e nas centrais de ciclo combinado em Portugal.

Já a petrolífera conseguiu lucros acima dos mil milhões de euros pela primeira vez, sendo um bom espelho dos números globais do PSI. Apesar de as receitas terem descido de forma acentuada em 2023 (-23%), a margem EBITDA da Galp Energia melhorou quase três pontos percentuais. Os lucros subiram 13,7%, também com o contributo da melhoria dos resultados financeiros (custos baixaram 60%).

O BCP surge em terceiro lugar no ranking dos lucros mais elevados do PSI, mas o banco foi o que deu o contributo mais forte para o crescimento dos lucros globais. Os resultados líquidos aumentaram mais de quatro vezes em 2023, sendo que as ações do banco liderado por Miguel Maya valorizam mais de 10% desde que as contas foram apresentadas.

Apesar de apresentar um dos lucros anuais mais baixos do PSI, os CTT também brilharam nesta época de apresentação de resultados. Os lucros dispararam 66% (terceiro maior crescimento no índice) e o EBITDA cresceu acima das receitas, possibilitando a expansão de mais de um ponto percentual na margem. A empresa dos correios tem uma posição líquida positiva e os resultados financeiros melhoraram 73%. As ações acumulam um ganho de 17% desde que estes números foram apresentados.

Em 2024 as cotadas portuguesas enfrentam o desafio de alcançarem lucros recorde pelo quarto ano apesar do contexto mais desfavorável de perspetivas de abrandamento da economia portuguesa e mundial, conjugado com manutenção das taxas de juro e inflação em níveis elevados que continuarão a pesar no poder de compra das famílias.

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